Fonte: AGRAWAL et al. (2011).
2.8.2. METABOLIZAÇÃO DA ARABINOSE
Conforme observado no item 2.4.3, a hemicelulose é principalmente
composta por pentoses, em maior proporção a xilose, na maioria dos
materiais lignocelulósicos, no entanto, a arabinose também se apresenta em
níveis significativos. Parker et al. (1995) transformaram a linhagem
ATCC39676 (pZB206), inserindo genes de metabolização desta pentose,
alcançando 25 g/L de etanol; contudo relataram dificuldades na
metabolização deste carboidrato, relacionando-as à baixa afinidade da
proteína transportadora com os mesmos. Na tabela 2.6 observa-se a
comparação do desempenho de diferentes linhagens recombinantes de Z.
mobilis para a produção de etanol a partir da xilose e arabinose.
CAPÍTULO 2: Revisão Bibliográfica
Danielle da Silveira dos Santos
61
Tabela 2.6. Comparação do desempenho de diferentes linhagens recombinantes de Z. mobilis para a produção de etanol.
Linhagem
Objetivo da T.G.
Genes inseridos
Fonte de Carbono
Condições
Etanol
Referência
Z. mobilis
ZM4 (pZB5)
Metabolização
da xilose
XI, XK, TAL, TKT
Hidrolisado de trigo
(6 g/L de glicose,
16 g/L de xilose)
+ 10 g/L de glicose
Temperatura: 30
o
C
pH: 5
Tempo: 11 h
11 g/L
DAVIS
et al. (2005)
Z. mobilis
CP4 (pZB5)
Metabolização
da xilose
XI, XK, TAL, TKT
15 g/L de glicose
35 g/L de xilose
Temperatura: 30
o
C
pH: sem ajuste
Tempo: 69 h
24 g/L
ZHANG
et al. (2003)
Z. mobilis
ZW801-4
Metabolização
da xilose
XI, XK, TAL, TKT
100 g/L de glicose
80 g/L de xilose
Temperatura: 33
o
C
pH: 5,8
Tempo: 67 h
7 g/L de acetato
70 g/L
CAIMI
et al. (2011)
Z. mobilis
ZM4
Metabolização
da xilose
XI, XK, TAL, TKT
45 g/L de xilose
Temperatura: 30
o
C
pH: 5
Tempo: 40 h
1,2% ácido acético
24 g/L
CHEN
et al. (2009)
Z. mobilis
8 b
Metabolização
da xilose
XI, XK, TAL, TKT
170 g/L de resíduo de
papel + 1% (v/v) de
hidrolisado de milho
Temperatura: 37
o
C
pH: 4,8
Tempo: 5 dias
C. E.: 10 FPU/g
40 g/L
ZHANG
et al. (2010)
Z. mobilis
ZM4 (pZB5)
Metabolização
da xilose
XI, XK, TAL, TKT
65 g/L de glicose
65 g/L de xilose
Temperatura: 30
o
C
pH: 5
Tempo: 48 h
60 g/L
JOACHIMSTHAL
et al. (1999)
CAPÍTULO 2: Revisão Bibliográfica
Danielle da Silveira dos Santos
62
Linhagem
Objetivo da T.G.
Genes inseridos
Fonte de Carbono
Condições
Etanol
Referência
Z. mobilis
ZM4 (pZB5)
Metabolização
da xilose
XI, XK, TAL, TKT
100 g/L de glicose
100 g/L de xilose
Temperatura: 30
o
C
pH: 5,75
Tempo: 48 h
90 g/L
AGRAWALL
et al. (2011)
Z. mobilis
ATCC 39676
Metabolização de
xilose/
arabinose
XI, XK, TAL e TKT
+
araA, araB, araD
25 g/L de arabinose
25 g/L de glicose
Temperatura: 37
o
C
pH: -
Tempo: 48 h
20 g/L
DEANDA
et al. (1996)
Z. mobilis
206 C (pZB301)
Metabolização de
xilose/
Arabinose
XI, XK, TAL, TKT +
araA, araB, araD
20 g/L de xilose
20 g/L de arabinose
20 g/L glicose
Temperatura: 30
o
C
pH: -
Tempo: 48 h
19,8 g/L
ZHANG
et al. (1998)
Z. mobilis
ZM4/Acr(pZB5)
Metabolização
de xilose/
Resistência ao
acetato
XI, XK, TAL, TKT +
Acr
40 g/L de glicose
40 g/L de xilose
Temperatura: 30
o
C
pH: 5
Tempo: 53 h
12g/L de acetato
38,6 g/L
JEON
et al. (2002)
Z. mobilis
206C (pZB301)
Metabolização de
xilose/
arabinose
XI, XK, TAL e TKT
+
araA, araB, araD
40 g/L de xilose
20 g/L de arabinose
40 g/L de glicose
Temperatura: 37
o
C
pH: -
Tempo: 48 h
42 g/L
MOHAGHEGHI
et al. (2002)
Z. mobilis
ZW705-ara354A7
Metabolização de
xilose/
Arabinose
XI, XK, TAL e TKT
+
araA, araB, araD
50 g/L de glicose
30 g/L de xilose
30 g/L de arabinose
Temperatura: 30-35
o
C
pH: -
Tempo: 96 h
45 g/L
YANG
(2011)
Z. mobilis
MTCC 92
Produção de
endoglucanases
pET 20b
4% de bagaço de cana
pré-tratado
Temperatura: 30
o
C
pH: 7
Tempo: 3 dias
40 g/L
VASAN
et al. (2011)
Onde: T.G: Transformação genética; XI: xilose isomerase; XK: xiluloquinase; TAL: transaldolase; TKT: transquetolase; araA: L-
arabionose isomerase; araB: L-ribuloquinase; ara D: L-ribulose 5-fosfato 4-epimerase; Acr: Mutante tolerante ao acetato.
CAPÍTULO 2: Revisão Bibliográfica
Danielle da Silveira dos Santos
63
Posteriormente, Zhang et al. (1998) desenvolveram uma linhagem
recombinante através da adição de genes responsáveis pelo metabolismo de
xilose e de arabinose, tais como: xilose isomerase, xiluloquinase, L-arabionose
isomerase (araA), L-ribuloquinase (araB), L-ribulose 5-fosfato 4-epimerase (ara
D), transaldolase (talB) e transquetolase (tktA). A produção de etanol ocorreu
em 96 horas (exceto em 47 horas para a xilose), atingindo 91, 55 e 79% de
eficiência de fermentação a partir de 2% (m/v) das seguintes combinações de
açúcares: xilose, arabinose, e xilose/arabinose, respectivamente. Na presença
de xilose, arabinose e glicose, a bactéria recombinante atingiu 79% de
eficiência de fermentação em etanol, durante 48 horas.
Estudos sobre o desenvolvimento da linhagem Z. mobilis ATCC39767,
fermentadora de arabinose e glicose foram realizados por Deanda et al. (1996),
através da inserção dos seguintes genes: L-arabionose isomerase (araA), L-
ribuloquinase (araB), L-ribulose 5-fosfato 4-epimerase (ara D), transaldolase
(talB) e transquetolase (tktA). Foi alcançado cerca de 20 g/L de etanol, a partir
de 2,5% (m/v) de L-arabinose e 2,5 % (m/v) de glicose. Todavia, 40% das
células perderam sua habilidade após crescimento em meio complexo (KUHAD
et al., 2011). Empregando a mesma linhagem, ATCC39767, Chou et al. (1997)
obtiveram etanol em uma concentração de 33,5 g/L, em meio contendo 30, 30
e 20 g/L de glicose, xilose e arabinose, respectivamente.
Mohagheghi et al. (2002) empregaram a linhagem AX101, que resultou
em uma eficiência de fermentação de 84%, atingindo 42 g/L de etanol a partir
de 100 g/L em meio contendo glicose, xilose e arabinose, durante 48 horas. A
presença de até 4,5 g/L de ácido acético não afetou a fermentação, no entanto,
acima destas concentrações houve acúmulo de xilose, aumento de xilitol,
subproduto na fermentação de xilose, bem como redução da produção de
etanol pela bactéria Zymomonas mobilis.
Cabe ressaltar que, segundo Mohagheghi et al. (2002), o maior
crescimento bacteriano ocorre na presença de glicose, não havendo aumento
significativo na presença de xilose e arabinose, devido à inibição pelo etanol
produzido anteriormente ao consumo dos mesmos. Deanda et al. (1996) já
CAPÍTULO 2: Revisão Bibliográfica
Danielle da Silveira dos Santos
64
haviam reportado sobre tal comportamento, relatando ainda que linhagens
fermentadoras de arabinose e xilose apresentam lentidão em seu crescimento,
assim como utilização incompleta destes carboidratos; todavia, a produção de
biomassa obtida a partir de arabinose apresentou-se semelhante à obtida pela
hexose. Neste contexto, na nova via metabólica há a conversão de 5 moles de
etanol, a partir de 3 moles de L-arabinose, conforme a seguinte equação
estequiométrica:
3 L-arabinose + 3 ADP + 3 Pi
5 etanol + 5 CO
2
+ 3 ATP + 3 H
2
O.
2.8.3. PROBLEMÁTICAS
Alguns problemas estão relacionados à transformação genética do
microrganismo Z. mobilis, tais como a resistência a alguns antibióticos (como
estreptomicina e gentamicina), o que pode influenciar quanto à inserção de
marcas de seleção que promovem resistência a tais composto (YANG et al.,
2010), a presença de plasmídeos nativos no citoplasma celular, dificultando a
estabilidade de plasmídeos recombinantes, a não ocorrência de bacteriófagos,
dificultando a transformação através dessa técnica, e, principalmente, o
eficiente mecanismo de reparo deste microrganismo (ZOU et al., 2012).
Adicionalmente, após o desenvolvimento da transformação genética, tal
bactéria também possui algumas dificuldades de metabolização das pentoses,
assim como inibição por algumas substâncias presentes nos meios
hidrolisados, conforme descrito nos itens a seguir.
2.8.3.1. Estabilidade
A estabilidade dos plasmídeos recombinantes é um fator preocupante,
uma vez que estes podem ser perdidos ao longo das inúmeras divisões
celulares, o que proporciona baixa expressão dos genes transformantes
(NORDSTROM, 1985).
Desta forma, Song et al. (2005) avaliaram a estabilidade do
microrganismo Z. mobilis 31821 (pZB5) recombinante, o qual fermenta xilose e
glicose, relatando que após 12 horas de fermentação, os açúcares foram
consumidos em cerca de 90% (m/v), sendo que o consumo exclusivamente da
pentose ocorreu na proporção de 81,9% (m/v). Através da ferramenta de
CAPÍTULO 2: Revisão Bibliográfica
Danielle da Silveira dos Santos
65
simulação, a fração de plasmídeo recombinante (calculada de acordo com
razão entre a taxa de crescimento máximo do plasmídeo original e do
recombinante) foi de 81,0%, após 23 gerações em meio sintético, bem como de
90,3% em meio contendo 20% de hidrolisado hemicelulósico, apresentando
taxa de crescimento máximo de 0,185 h
-1
. Já após a 26
o
geração, a taxa de
utilização da xilose, a taxa de consumo dos açúcares totais, o rendimento de
etanol, bem como o consumo de xilose foram reduzidos em 30, 40, 6 e 44%,
respectivamente.
2.8.3.2.
Proteína Transportadora
A proteína facilitadora (glf) é responsável pelo transporte de açúcares no
interior das células através de um sistema de difusão facilitada, baixa afinidade
e alta velocidade (WEISSER et al., 1995). Neste contexto, Kim et al. (2010) e
Agrawal et al. (2011), dentre outros pesquisadores reportaram sobre a
problemática da inserção da xilose em células Z. mobilis, afirmando que uma
das soluções para avanços no seu metabolismo seria o desenvolvimento de
genes que codificam para o transporte desta pentose. Cabe ressaltar que
estudos sobre a incorporação dos genes de metabolização deste açúcar na
levedura S. cerevisiae, a qual também não possui transportador específico para
a xilose, demonstraram que tal microrganismo apresenta as mesmas
dificuldades de fermentação que a bactéria em estudo (SEDLAK & HO, 2004).
Provavelmente, após a transformação genética em Z. mobilis, a xilose
dentre outros compostos são transportados pelo fato de serem relativamente
semelhantes à estrutura da glicose e frutose (WEISSER et al., 1996). Tal
fenômeno ainda não foi profundamente estudado, no entanto, pesquisas
apontam por uma competição pela única via de transporte, comum para os dois
carboidratos. Porém, Weisser et al. (1996) inseriram o gene que codifica para a
enzima responsável pelo transporte de glicose e xilose (glf) de Z. mobilis, em
uma colônia mutante de E. coli, a qual possuía deficiência no transporte de
açúcares e diferentemente do reportado com a bactéria em estudo, E. coli
apresentou o transporte eficiente para tal pentose. Chen et al. (2009) também
CAPÍTULO 2: Revisão Bibliográfica
Danielle da Silveira dos Santos
66
reproduziram este experimento, promovendo um aumento de 28 e 42 % no
consumo de glicose e de pentose, respectivamente.
Adicionalmente, estudos de modelagem indicam que uma das causas
relacionadas à dificuldade de metabolização desta pentose está relacionada à
constante de saturação pelo substrato para o crescimento de biomassa, a qual
apresenta-se cerca de 3 vezes maior para o consumo de xilose do que para a
glicose, similar ao comportamento de outros microrganismos recombinantes,
como Saccharomyces cerevisiae (KRISHNAN et al., 1999) e Klebsiella oxytoca
(TURNER et al., 1988), de 3 a 6 vezes maior.
2.8.3.3. Xilose X Glicose
Conforme sinalizado na literatura por Zhang et al. (1995), Krishnan et al.
(2000) e Lawford & Rousseau (2000), a maior produção de etanol ocorre
durante o consumo de glicose e, posteriormente, o consumo de xilose ocorre
mais lentamente. Embora Zhang et al. (1995) tenham engenheirado a linhagem
CP4 de Z. mobilis (pZB5), tornando-a capaz de co-fermentar a xilose e a
glicose, a hexose ainda permanece como açúcar prioritário, promovendo uma
possível repressão catabólica sobre a pentose, diferentemente do metabolismo
de E. coli (LAWFORD et al., 2000).
Este fato ocorre, pois à medida em que os dois carboidratos são
consumidos sequencialmente, a xilose ou fontes não preferenciais de carbono
permanecem inalterados no meio de cultura até a metabolização completa da
glicose, gerando elevadas concentrações de inibidores, como o etanol e ácido
lático, reduzindo a taxa de utilização da xilose. Dessa forma, segundo relatos
de Supple et al. (2000), Joachimshtal & Rogers (1999), Lawford & Rousseau
(1999) e Lawford et al. (1996), no que tange à melhorias na metabolização da
xilose, visando um processo de co-fermentação em escala industrial, tal
pentose deveria ser metabolizada anteriormente à glicose; uma vez que o
etanol promove maior inibição na metabolização da pentose do que quando
comparado à metabolização desta hexose pela bactéria Zymomonas mobilis
recombinante.
CAPÍTULO 2: Revisão Bibliográfica
Danielle da Silveira dos Santos
67
Neste contexto, Supple et al. (2000) buscaram pelo isolamento de um
mutante que demonstrasse alteração na fonte de carbono preferencial pela
bactéria Z. mobilis, sendo capaz de metabolizar a xilose anteriormente à
glicose. O mutante CP4 (pZB5) M1-2 apresentou alteração genética nos genes
da glucoquinase ( glK) e da proteína facilitadora do transporte de glicose ( glf),
atingindo 90% de eficiência de produção de etanol.
A proporção ideal de glicose e xilose utilizadas em um processo
fermentativo por Z. mobilis recombinante varia de acordo com as linhagens
empregadas, uma vez que alguns autores, como Kim et al. (2010) afirmaram
que quando há concentrações semelhantes desses açúcares na fermentação
por tal microrganismo há baixo consumo da pentose (apenas 10%), enquanto a
hexose é completamente consumida. Lau & Dale (2009) também notaram que,
na fermentação empregando estas duas fontes de carbono, apenas de 10 a
20% (m/v) da pentose foi metabolizada por Saccharomyces cerevisiae 424A
(LNH-ST). Os pesquisadores ainda relataram que o transporte de xilose
aumentou em até 85% quando a concentração de glicose era baixa, contudo,
enfatizaram que sem a presença de hexose no meio de cultura não houve
consumo da pentose.
Entretanto, contraditoriamente, Joachimsthal et al. (1999), Rogers et al.
(1997) e Zhang et al. (1995) reportaram que a adição de concentrações
equimolares de glicose e xilose, empregando linhagens de Z. mobilis
CP4
(pZB5) e ZM4 (pZB5),
CP4(pZB5) e CP4(pZB5), respectivamente, são
favoráveis ao crescimento celular e à produção de etanol por tais linhagens.
Estes acontecimentos podem ser decorrentes de diferenças adaptativas nas
linhagens, pois Lau & Dale (2009) empregaram Saccharomyces cerevisiae
424A (LNH-ST), ao passo que Joachimsthal et al. (1999), Rogers et al. (1997) e
Zhang et al. (1995) utilizaram as linhagens CP4 e ZM4, conforme descrito
anteriormente.
Cabe ressaltar que as células se tornam mais sensíveis com a presença
de etanol quando os dois carboidratos estão presentes no meio do que quando
há apenas a hexose (LEKSAWASDI et al., 2001), o que pode ser causado pela
CAPÍTULO 2: Revisão Bibliográfica
Danielle da Silveira dos Santos
68
formação de subprodutos, ou mesmo pela dificuldade no transporte de xilose.
Outra hipótese para essa problemática seria a possível repressão catabólica da
glicose sobre a pentose, o que torna a rota metabólica mais lenta, afetando
também a produtividade do processo (DiMARCO& ROMANO, 1985; PARKER
et al. 1995; ROGERS & LAWFORD, 1999; LAWFORD et al., 2000;
LEKSAWASDI et al., 2001; MOHAGHEGHI et al. 2002; KIM et al., 2010).
2.8.3.4.
Atividades enzimáticas
Estudos recentes de Caimi et al. (2012) reportaram o acúmulo de
ribulose em colônias de Z. mobilis crescidas em xilose. Desta forma, os autores
modificaram geneticamente tal microrganismo, visando aumentar a atividade
de ribose-5-fosfato isomerase, reduzindo o acúmulo deste composto. A
produção de biomassa e de etanol aumentou em 15 e 5% (m/v),
respectivamente, durante 60 horas, empregando 100 g/L de xilose.
De Graaf et al. (1999) alegaram que a baixa expressão de xiluloquinase
poderia justificar a dificuldade de fermentação de xilose pelo microrganismo em
tese, uma vez que a taxa de captação da pentose é de 2 a 3 vezes menor do
que a da glicose. Visando aumentar a conversão deste monossacarídeo em
etanol, Jeon et al. (2005) buscaram por melhorias genéticas através da super-
expressão desta enzima na linhagem ZM4/ Acr (pZB5), porém, tal
transformação não promoveu maior conversão em produto. Jim et al. (2003)
citaram que a super-expressão de xiluloquinase em Saccharomyces cerevisiae
promoveu redução do crescimento celular, assim como da produção de etanol.
Já Gao et al.(2002) e Chou et al. (2002) reportaram que as baixas
concentrações de xilose isomerase detectadas na linhagens ATCC 39676
(pZB4L) são os fatores responsáveis pelo lento consumo de xilose. De Graaf et
al. (1999) também sugeriram que XI e XK, provenientes de Klebsiella
pneumoniae, possuem pouca afinidade pela pentose no microrganismo Z.
mobilis. Foi constatado, ainda, que as mesmas enzimas mantinham-se em
baixas concentrações, ao contrário da TKL e TAL, exógenas de E.coli. Neste
contexto, Kahsay et al. (2011) expressaram a xilose isomerase a partir de A.
CAPÍTULO 2: Revisão Bibliográfica
Danielle da Silveira dos Santos
69
missouriensis, relatando que a bactéria em estudo apresentou melhores
resultados do que utilizando genes de E. coli, atingindo 26,3 g/L de etanol.
2.8.3.5.
Produção de Xilitol
Recentemente, diversos autores relatam a produção de xilitol por Z.
mobilis recombinante, a qual contém genes de metabolização e assimilação da
xilose (KIM et al., 2000; MOHAGHEGHI et al., 2002; JEON et al., 2005;
ZHANG & CHEN, 2009). Viitanem et al. (2008) e Smith et al. (1999) também
afirmaram que a xilose isomerase é inibida pela presença de xilitol em
linhagens de Arthrobacter e de E. coli.
Feldmann et al. (1992) foram os primeiros autores a identificar que a
formação de xilitol durante o metabolismo da xilose por Z. mobilis é um fator
limitante para a produção de etanol. Os estudos detectaram a atividade de
NADPH dependente aldose redutase, capaz de reduzir xilose a xilitol no
presente microrganismo. Segundo Zhang & Chen (2009), a enzima
periplasmática glicose-frutose oxirredutase (GFOR), responsável pela produção
de sorbitol, catalisa também tal reação juntamente com o cofator NADPH,
todavia, pouco se sabe sobre as causas do desvio da rota metabólica.
A enzima GFOR catalisa a redução de xilose através do mecanismo
ping-pong, o qual é inibido na presença de elevadas concentrações de glicose.
Comparativamente, a produção de sorbitol inicia-se em cerca de 2 horas a
partir de frutose/glicose, enquanto que a de xilitol ocorre em 30 horas de
processo a partir da pentose. Devido a menor atividade específica e afinidade
desta enzima no que tange à síntese de xilitol, os níveis alcançados do mesmo
são inferiores aos de sorbitol, porém, o cofator não desassocia-se do produto,
mantendo-se fortemente ligado (Zhang & Chen, 2009).
Adicionalmente, pesquisas recentes de Agrawal & Chen (2011) indicam
a existência da enzima xilose redutase na bacteria Z. mobilis, exibindo 150
vezes mais afinidade com o benzaldeído do que com a xilose.
Neste contexto,
o xilitol dá origem ao xilitol-fosfato, dificultando a fermentação mesmo quando
apresenta-se em baixas concentrações (JEON et al., 2005). A produção e o
acúmulo deste resulta na inibição do crescimento microbiano, bem como do
CAPÍTULO 2: Revisão Bibliográfica
Danielle da Silveira dos Santos
70
rendimento em etanol pelas linhagens consumidoras desta pentose (ZHANG &
CHEN, 2009).
2.8.3.6.
Inibição pelo Substrato/ Produto
Leksawasdi et al. (2001) desenvolveram um modelo matemático
baseado na cinética de Monod, o qual avalia a produção de etanol a partir de
xilose e glicose em meio sintético, indicando as concentrações limitantes e
inibitórias de substrato e produto. Os autores utilizaram concentrações de 25
g/L, 50 g/L e 65 g/L de glicose e xilose, a partir de resultados reportados por
Lee & Rogers (1983), constatando que o etanol se torna inibitório para o
crescimento celular de Z. mobilis recombinante (linhagem ZM4, pZB5) em
concentrações de glicose e xilose de 57,2 g/L e 56,3 g/L, e para a síntese de tal
produto em concentrações de 75,4 g/L e 81,2 g/L, respectivamente. Segundo
estes estudos teóricos, os substratos promovem interrupção da produção de
biomassa e de etanol nas concentrações de 200 g/L e 186 g/L de glicose,
assim como nas concentrações de 600 g/L e 600 g/L de xilose,
respectivamente. Adicionalmente, Jeon et al. (2002) relataram que 160 g/L é a
tolerância máxima ao etanol por tal linhagem, produzindo 2 moles de
produto/mol substrato.
2.8.3.7.
Inibição por Compostos Tóxicos
A eficiência da produção de etanol pelos microrganismos pode ser
afetada devido à presença de substâncias tóxicas presentes na fração
hemicelulósica pré-tratada, assim como em substratos sólidos, conforme
descrito no item 2.7.
Através de análise microscópica foi constatado que concentrações
inibitórias de aldeídos provocam modificações morfológicas na fase de
crescimento exponencial de Z. mobilis. Diferentemente das células normais, as
mesmas apresentaram-se alongadas ou formaram cadeias curtas após o
período de 6 horas. Em 24 horas, as células expostas a concentrações
inibitórias de aldeído se tornam arredondadas (ZALDIVAR et al., 1999). SONG
et al. (2005) também notaram modificações morfológicas na linhagem de Z.
mobilis 31821 após um longo período de adaptação em até 50% (v/v) de
CAPÍTULO 2: Revisão Bibliográfica
Danielle da Silveira dos Santos
71
hidrolisado ácido de madeira. Empregando 20% (v/v) deste material, as
colônias do início do processo adaptativo apresentam-se translúcidas,
mucóides, planas e cilíndricas, ao passo que as aclimatadas possuem
coloração leitosa e superfície curvilínea.
Shahab & Hadi (1995) já haviam demonstrado que o furfural reage com
os pares de base (A-T) nas seqüências de DNA de cadeia dupla, promovendo
ruptura dos filamentos. A redução da taxa de crescimento, da produtividade em
etanol, assim como da síntese de biomassa estão entre os efeitos negativos
produzidos pelo furfural e pelo HMF sobre os microrganismos (TAHEZRADEH,
1999). Conforme observado por diversos autores, a bactéria em estudo possui
baixa tolerância a esses compostos, os quais dificultam a fermentação da
xilose presente no hidrolisado hemicelulósico.
Padilla et al. (2005) investigaram a toxicidade do furfural frente à
produção de etanol e ao crescimento da linhagem CP4 (pZB5) de Z. mobilis
modificada, através da adição de 0,475 g/L e 1,9 g/L deste aldeído no meio de
fermentação. Na primeira condição, os açúcares foram consumidos
integralmente, entretanto, a metabolização dos mesmos foi prejudicada com a
presença de altas concentrações de furfural no meio. Os autores observaram
que os efeitos inibitórios reduziram a produção de biomassa em 30 e 60% e a
produção de etanol em 19 a 76%, respectivamente. Ranatunga et al. (1997)
fizeram avaliação semelhante através da fermentação do hidrolisado ácido de
carvalho, indicando que 0,9 g/L de hidroximetil furfural provoca inibição de 40%
na produção de etanol.
Adicionalmente, estudos realizados por Yang et al. (2010) indicaram que
dentre as diferentes formas de acetato, o acetato de sódio é o mais prejudicial
à bactéria em questão, seguido do acetato de potássio, do acetato de amônio e
do cloreto de sódio. Segundo Kim et al. (2000) e Jeon et al. (2002), elevadas
concentrações destes sais alteram o pH intracelular, modificando o
metabolismo devido à redução dos níveis de nucleosídeos trifosfatos presentes
nas células. Desta forma, apesar de alguns autores, como Lawford et al.
(2001), terem atingido elevada conversão em etanol por linhagens
CAPÍTULO 2: Revisão Bibliográfica
Danielle da Silveira dos Santos
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recombinantes de Z. mobilis a partir de pentoses, as mesmas ainda
apresentam pouca tolerância frente ao ácido acético e ao etanol (DION et al.,
2003).
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