As mangas e o etanol brasileiro



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As mangas e o etanol brasileiro
Na caça aos culpados pelo aumento do preço dos alimentos o Sr. Jean Ziegler, representante da ONU, declarou esta semana que “os bicombustíveis são um crime contra a humanidade”. Este ataque indiscriminado me fez recordar a história do alfaiate e seu freguês. Esta piada infantil, que ouvi aos 12 anos, foi provavelmente o meu primeiro contato com o surrealismo. Um alfaiate se recusa a fabricar camisas com manga. Frente à indignação do freguês ele alega que deseja preservar a saúde do cliente. Mas qual a relação entre as mangas e minha saúde, reclama o cliente. Manga causa indigestão, responde o alfaiate. O que o Sr. Ziegler não sabe (ou quis esconder) é que da mesma forma que a manga de camisa só compartilha o nome com a fruta, o etanol produzido nos EUA só compartilha a estrutura química com o álcool Brasileiro.
Nos EUA o etanol é produzido a partir do milho, uma das principais fontes de proteína para alimentação humana e animal. As usinas de etanol dos EUA não precisam plantar o milho que consomem. Elas compram o milho no mercado, competindo diretamente com a indústria de alimentos. Hoje os EUA produzem mais etanol que o Brasil e para tanto consomem quase 20% de todo o milho produzido no país. O resultado é que o preço do milho aumentou assustadoramente nos últimos anos. Como praticamente toda a área agriculturável dos EUA já esta ocupada, a única maneira de aumentar a produção de milho é diminuir a produção de soja prejudicando novamente a produção de alimentos.
No Brasil produzimos álcool a partir da sacarose presente no caldo de cana. Como a cana não pode ser estocada, cada usina é obrigada a plantar sua própria cana, e só metade da sacarose produzida nos canaviais é convertida em álcool. A outra metade é vendida como açúcar. O resultado é que a produção de álcool tem crescido em paralelo à produção do açúcar. Além de não competir com a produção de milho e soja, o aumento do consumo de álcool incentivou a produção de açúcar, um alimento que exportamos para o resto do mundo. Como o Brasil ainda possui grandes extensões de pastagens e terras não cultivadas o crescimento da cana-de-açúcar não exclui a possibilidade de aumentarmos ainda mais nossa produção de alimentos.
Nos EUA, a produção de etanol consome muito petróleo. Ele é usado para produzir adubo e para movimentar as máquinas agrícolas. Quando os cientistas fizeram as contas de quanto etanol os EUA produzem para cada barril de petróleo consumido descobriram que esta quantidade de etanol corresponde a somente 1,3 barris de petróleo. Gastam 1 barril para produzir o equivalente a 1,3. É muito esforço para economizar tão pouco petróleo e reduzir tão pouco as emissões de gás carbônico.
No Brasil, para cada barril de petróleo que queimamos para produzir álcool, produzimos o álcool equivalente a 11 barris de petróleo. Gastamos 1 para produzir 11. Nosso sistema de produção a partir de cana é quase 10 vezes mais eficiente que o sistema utilizado pelos EUA. Aqui o uso do álcool realmente contribui para a redução do consumo de petróleo e para a diminuição dos gases que provocam o efeito estufa.
É claro que existem problemas no Brasil. Em boa parte dos canaviais ainda queimamos a cana antes de colher, as condições de trabalho dos cortadores de cana são lamentáveis e ainda temos que garantir que nossa expansão agrícola pode conviver com a preservação da floresta amazônica e do cerrado. Mas colocar sob o mesmo rótulo a produção de álcool brasileira e a produção norte-americana é, no mínimo, desonestidade intelectual.
O que ficou evidente esta semana é que o mundo esta cheio de alfaiates, alguns ignorantes outros desonestos.

Fernando Reinach (fernando@reinach.com)
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