Protocolo para a prevenção de
transmissão vertical de HIV e sífilis
MANUAL DE BOLSO
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Vigilância em Saúde
Programa Nacional de DST e Aids
Protocolo para a prevenção de
transmissão vertical de HIV e sífilis
MANUAL DE BOLSO
Brasília - DF
2007
© 2007 Ministério da Saúde
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fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial.
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técnica.
A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada na íntegra na Biblioteca Virtual do
Ministério da Saúde: http://www.saúde.gov.br/bvs
Tiragem: 1
a
edição - 2007 - 134.000 exemplares
Elaboração, distribuição e informações
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Vigilância em Saúde
Programa Nacional de DST e Aids
Av. W3 Norte, SEPN 511, Bloco C
CEP 70750-543 – Brasília, DF
Disque Saúde / Pergunte aids: 0800 61 1997
Home page: www.aids.gov.br
Financiamento
Projeto UNODC AD/BRA/03/H34
Organização:
Doris Sztutman Bergmann (UAT/PN-DST/AIDS)
Equipe Técnica:
Ângela Donini (Prevenção/PN-DST/AIDS); Cristine Ferreira (ULAB/PN-DST/AIDS); Denis Ribeiro
(UDST/PN-DST/AIDS); Denise Serafim (Prevenção/PN-DST/AIDS); Eduardo Campos de Oliveira
(UDST/ PN-DST/AIDS); Giani Silvana Schwengber Cezimbra (Área Técnica de Saúde da Mulher);
Karen Bruck Freitas (SCDH/PN-DST/AIDS); Kátia Guimarães (Prevenção/PN-DST/AIDS); Marcelo
Joaquim Barbosa (UDST/PN-DST/AIDS); Maria Marta Lopes de Macêdo (UIV/PN-DST/AIDS); Mie
Okamura (UAT/PN-DST/AIDS); Milda Jodelis (ASCOM/PN-DST/AIDS); Ronaldo Hallal (UAT/PN-DST/
AIDS); Rubens Wagner Bressanim (Depto. de Atenção Básica); Walkiria Gentil (UIV/PN-DST/AIDS)
Colaboração:
Área Técnica de Saúde da Mulher/ Departamento de Ações Programáticas/Secretaria de
Assistência à Saúde
Coordenadora: Maria José de Oliveira Araújo
Departamento de Atenção Básica/ Secretaria de Assistência à Saúde
Diretor: Luís Fernando Rolim Sampaio
Assessoria
Alexandre Magno de A. Amorim (Assessor de Comunicação/PN/DST/AIDS)
Editor
Dario Noleto
Projeto Gráfico, capa e diagramação
Alexsandro de Brito Almeida
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
FICHA CATALOGRÁFICA
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids.
Protocolo para a prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis: manual de bolso / Ministério da
Saúde,
Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de DST e Aids.. – Brasília : Ministério da Saúde,
2007.
180 p.: il. – (Série B. Textos Básicos de Saúde)
ISBN
1. Transmissão vertical (Aids). 2. Transmissão Perinaltal. 3. Sífilis em Gestante. I. Título. II. Série.
NLM WC 503.3
Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2007/0254
Títulos para indexação:
Em inglês: Protocol for Prevention of the Vertical Transmission of HIV and Syphilis: pocket guide
Em Espanhol: Protocolo para la Prevención de la Transmisión Vertical del VIH y Sífilis: manual de bolsillo
Sumário
Apresentação ................................................................................. 9
1 Introdução .................................................................................. 11
2 Aconselhamento para DST e aids nos serviços
de pré-natal e parto ............................................................. 17
2.1 Aconselhamento pré-teste
(individual e/ou coletivo) ............................................. 20
2.2 Aconselhamento pós-teste ......................................... 26
2.3 Aconselhamento nos serviços ..................................... 31
3 Diagnóstico da infecção pelo HIV .......................................... 39
3.1 Diagnóstico laboratorial da infecção pelo HIV .......... 40
3.2 Diagnóstico da infecção pelo HIV
utilizando-se os testes rápidos ..................................... 43
4 Pré-natal ................................................................................... 48
4.1 Abordagem inicial da gestante com HIV ................... 48
4.2 Seguimento da gestante HIV+ .................................... 53
4.3 Adesão à terapia anti-retroviral ................................. 58
5 Trabalho de parto e parto ....................................................... 60
5.1 Parto vaginal ................................................................ 64
5.2 Parto cesária ................................................................ 65
6 Puerpério .................................................................................. 66
6.1 Puerpério imediato ..................................................... 66
6.2 Puérpera com diagnóstico de HIV anterior
ou realizado durante a gestação ................................. 69
6.3 Puérpera com diagnóstico realizado
durante o trabalho de parto ....................................... 70
7 Planejamento reprodutivo ...................................................... 72
8 Recém nascido/criança exposta ao HIV ................................. 73
8.1 Manejo na maternidade ............................................. 73
8.2 Seguimento após a alta da maternidade ................... 75
9 Sífilis adquirida e gestacional ................................................. 83
9.1 Sífilis adquirida ............................................................ 84
9.2 Sífilis na gestação ........................................................ 93
9.3 Esquemas de tratamento da sífilis .............................. 94
9.4 Co-infecção sífilis/HIV na gestação ............................. 96
10 Sífilis congênita ....................................................................... 99
10.1 Classificação ................................................................100
10.2 Diagnóstico laboratorial ............................................. 102
10.3 Manejo da sífilis congênita ......................................... 105
Referências ................................................................................. 110
Anexos ........................................................................................ 113
Anexo A – Avaliação de risco e vulnerabilidade ................. 113
Anexo B – Portaria Nº 59/GM/MS ........................................ 115
Anexo C – Programa de controle da qualidade analítica
do diagnóstico laboratorial da infecção pelo HIV ...... 122
Anexo D – Procedimentos seqüenciados para detecção
de anticorpos anti-HIV em indivíduos com idade
acima de dois anos ..................................................... 126
Anexo E – Portaria Nº 34/SVS/MS ...................................... 131
Anexo F – Ficha de notificação de gestantes infectadas
pelo HIV ...................................................................... 136
Anexo G – Gestantes HIV – Instruções para preenchimento
...................................................................................... 138
Anexo H – Quadro-resumo dos critérios de definição de caso
em indivíduos com 13 anos ou mais de idade .......... 144
Anexo I – Ficha de Investigação/ Notificação AIDS
pacientes com 13 anos ou mais ................................. 146
Anexo J – Vigilância epidemiológica da sífilis na gestação
e da sífilis congênita ................................................... 150
Anexo K – Ficha de Investigação – Sífilis em Gestante ... 152
Anexo L – Sifilis em gestante – Instruções para preenchimento
....................................................................................... 154
Anexo M – Ficha de Investigação – Sífilis Congênita ....... 160
Anexo N – Sífilis congênita – Instruções para preenchimento
...................................................................................... 163
Anexo O – Portaria Nº 156/MS .......................................... 170
9
APRESENTAÇÃO
A transmissão vertical do HIV e da sífilis é desafio na saúde
pública que necessita ser enfrentado pelas políticas de
saúde do Brasil, apesar dos avanços obtidos nesta área.
Com o objetivo de avançar nesta prevenção, percebeu-
se ser necessária a ampliação do “Projeto Nascer –
Maternidades”, para que todas as maternidades do Brasil
tenham condições de atendimento à gestante portadora
de HIV ou com sífilis, bem como ao seu recém-nascido,
e a ampliação do diagnóstico e atenção a essa mulher,
principalmente durante o pré-natal.
O Programa Nacional de DST e Aids vem fortalecendo
parcerias e ajustando processos para incrementar
o diagnóstico precoce e propiciar as intervenções
necessárias para a prevenção desses dois agravos.
É imprescindível o desenvolvimento de um trabalho
conjunto com outros ministérios, estados, municípios,
organizações não-governamentais, sociedades científicas,
entidades de classe e outras instituições envolvidas com o
tema, para o aprofundamento dessas ações.
Este “Protocolo para a Prevenção Vertical de HIV e Sífilis”
tem o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade
na atenção destas mulheres e recém-nascidos, resultando
em uma redução das taxas de transmissão vertical do HIV
e a eliminação da sífilis congênita como um problema
de saúde pública. Espera-se que este protocolo,
organizado por profissionais do Programa Nacional de
DST e Aids, Área Técnica de Saúde da Mulher, FUNASA
e Departamento de Atenção Básica do Ministério da
Saúde, através de revisão extensa de literatura, seja útil
para todos os profissionais envolvidos no atendimento
das gestantes e seus bebês, aprimorando a qualidade da
atenção no pré-natal e puericultura.
Mariângela Simão
Diretora do Programa Nacional de DST e Aids
11
1 Introdução
A epidemia de aids no País se configura com subepidemias.
Atualmente, observa-se o aumento proporcional de casos
de aids devido à transmissão heterossexual, principalmente
entre as mulheres que, diferentemente dos homens, têm
apresentado taxas de incidência crescentes.
A população menos escolarizada tem sido mais atingida e
a epidemia vem apresentando um padrão de disseminação
heterossexual, tornando a razão entre os sexos equivalente.
Com isso, a transmissão vertical do HIV e a da sífilis passaram
a ser problemas cada vez mais importantes na saúde pública.
O Pacto pela Saúde, aprovado pelo Conselho Nacional
de Saúde (CNS) em fevereiro de 2006, fortalece a gestão
compartilhada entre os diversos níveis de governo e, segundo
o pacto, cabe aos estados e municípios o desenvolvimento
de ações necessárias para o cumprimento das metas de
acordo com a realidade local, de maneira que as prioridades
estaduais e municipais também possam ser agregadas à
agenda nacional.
Protocolo para a prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis
Ministério da Saúde - Secretaria de Vigilância em Saúde - Programa Nacional de DST/ Aids
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Um dos três eixos do Pacto pela Saúde é o Pacto pela Vida, em
que a redução da mortalidade materna e infantil é uma das
prioridades básicas. Um dos componentes para a execução
desta prioridade é a redução das taxas de transmissão vertical
(TV) do HIV e da sífilis.
A transmissão vertical do HIV ocorre através da passagem
do vírus da mãe para o bebê durante a gestação, o trabalho de
parto, o parto propriamente dito (contato com as secreções
cérvico-vaginais e sangue materno) ou a amamentação,
sendo que cerca de 35% dessa transmissão ocorre durante a
gestação, 65% ocorre no peri-parto e há um risco acrescido
de transmissão através da amamentação entre 7% e 22% por
exposição (mamada).
Com uma prevalência de 0,41% de infecção pelo HIV em
gestantes, estima-se que 12.456 recém-nascidos sejam
expostos ao HIV por ano.
A transmissão vertical do HIV, quando não são realizadas
intervenções de profilaxia, ocorre em cerca de 25%
das gestações das mulheres infectadas. Entretanto, a
administração da Zidovudina (AZT) na gestação e o
uso de AZT no parto e no recém-nascido, reduz a taxa
de transmissão vertical para 8,3%, segundo um estudo
multicêntrico realizado nos Estados Unidos e na França
(Protocolo ACTG 076). A literatura mostra uma redução
dessa taxa para níveis entre 1 a 2% com a aplicação de todas
13
as intervenções preconizadas pelo Programa Nacional de
DST e Aids. Essas intervenções, atualmente, são: o uso de
anti-retrovirais a partir da 14ª semana de gestação, com
possibilidade de indicação de AZT ou terapia anti-retroviral
tríplice; utilização de AZT injetável durante o trabalho de
parto; realização de parto cesário eletivo em gestantes com
cargas virais elevadas ou desconhecidas, ou por indicação
obstétrica; AZT oral para o recém-nascido exposto, do
nascimento até 42 dias de vida e inibição de lactação
associada ao fornecimento de fórmula infantil até os seis
meses de idade.
Em estudo multicêntrico conduzido pela Sociedade Brasileira
de Pediatria, a taxa estimada de transmissão vertical do HIV
no Brasil, em 2004, era de 8,5%, variando entre 13,8% na
Região Norte e 3,5% na Região Centro-Oeste.
Nas regiões onde houve sensibilização e empenho para
reduzir-se a TV observamos números semelhantes aos dos
países desenvolvidos.
Já a prevalência de sífilis em parturientes encontra-se em
1,6%, aproximadamente quatro vezes maior que a infecção
pelo HIV, representando cerca de 50.000 gestantes infectadas
no ano de 2004. A sífilis congênita é um claro evento
marcador da qualidade da assistência à saúde, ocorrendo em
média quatro mil novos casos notificados a cada ano, com
uma taxa de incidência de 1,6 casos por mil nascidos vivos.
Protocolo para a prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis
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Considerando-se a subnotificação, estima-se que ocorram,
no entanto, cerca de 12 mil casos, o que elevaria a taxa de
incidência para cerca de quatro casos por mil nascidos vivos.
Apesar da elevada cobertura de pré-natal no país, acima de
85% e de uma razão de cinco consultas de pré-natal por parto
no SUS, a qualidade da assistência à gestante está aquém das
necessidades. A Política Nacional de Atenção Obstétrica
e Neonatal prevê a realização de exames para sífilis, mas
verifica-se ora a inobservância da realização da rotina
preconizada, ora um tratamento inadequado, incluindo-se o
não tratamento do parceiro.
Com a realização do diagnóstico da sífilis e o tratamento
adequado da gestante e do parceiro durante o pré-natal, é
possível eliminar a sífilis congênita como problema de saúde
pública, ou seja, reduzir a até um caso por mil nascidos vivos.
De acordo com o protocolo vigente no Manual de pré-natal
e puerpério (2006), a investigação da sífilis e a testagem
para HIV são recomendados na avaliação pré-concepcional
sempre que possível
Legislação, tecnologia e insumos para a redução da TV
do HIV e sífilis já existem e são disponibilizados pelos
Governos Federal, Estadual e Municipal, porém os dados
epidemiológicos não são satisfatórios e as diferenças regionais
demonstram que é possível e necessária a implementação de
medidas mais efetivas de redução da TV.
15
Como uma das estratégias para qualificar e ampliar o acesso
ao diagnóstico do HIV e da sífilis, particularmente para
gestantes no pré-natal e maternidades, o PN-DST/AIDS
está fortalecendo a estruturação da rede de atenção às DST
e aids, incluindo a implantação, em cenários específicos, do
teste rápido para o diagnóstico. A utilização desses testes
permite que, no momento da consulta seja realizado o teste, o
aconselhamento e o diagnóstico de HIV e sífilis em menos de
30 minutos, desde que realizado por profissionais de saúde
devidamente capacitados. No caso da gestante, permite que
imediatamente sejam realizadas condutas que previnam a
transmissão vertical de ambas as condições.
Entretanto, somente o acesso ao diagnóstico não é suficiente
para garantir a melhoria da qualidade da atenção à gestante
portadora de HIV, aids e/ou sífilis. Indissociável à testagem é
a conformação de uma rede organizada a partir da definição
de atribuições entre os níveis de atenção à saúde no âmbito
do SUS, que garanta o acesso das gestantes, parturientes e
recém nascidos às mais recentes tecnologias de diagnóstico,
controle e manejo da infecção pelo HIV e sífilis.
Outra estratégia, de grande importância, é a construção
deste protocolo com as diretrizes a serem seguidas para que
se atinja o objetivo de eliminar a sífilis congênita e reduzir a
transmissão vertical do HIV a níveis abaixo de 1%.
Protocolo para a prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis
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É necessário o fomento para a estruturação de uma rede
integral de prevenção da transmissão vertical do HIV e da
sífilis. Nesta construção é estratégica a aproximação entre a
Atenção Básica e os Serviços Especializados, capilarizando a
cobertura do sistema a partir da integralidade das ações.
17
2 Aconselhamento para DST e aids nos
serviços de pré-natal e parto
A prática do aconselhamento desempenha um papel
importante no diagnóstico da infecção pelo HIV e outras
DST, bem como na qualidade da atenção à saúde. Contribui
para a promoção da atenção integral, possibilitando
avaliar vulnerabilidades e riscos com a consideração das
especificidades de cada usuário ou segmento populacional.
O aconselhamento necessita cuidar dos aspectos emocionais,
tendo como foco a saúde sexual, a saúde reprodutiva, avaliação
de vulnerabilidades e Direitos Humanos. Atualmente, é uma
estratégia que se insere em vários momentos do atendimento
e em diversos contextos dos serviços no SUS, inclusive no
pré-natal e no parto.
O aconselhamento se fundamenta na interação e na relação
de confiança que se estabelece entre o profissional e o usuário.
Logo, o papel do profissional sempre é o da escuta sobre as
preocupações e as dúvidas dos usuários. Para tanto é necessário
que haja, por parte do profissional, o desenvolvimento
de habilidade para a realização de perguntas sobre a vida
Protocolo para a prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis
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íntima das pessoas, com a finalidade de propor questões que
facilitem a reflexão e a superação de dificuldades, a adoção
de práticas seguras e a promoção da qualidade de vida. Para
que todos esses objetivos sejam alcançados, é fundamental
que, durante todo o atendimento, a linguagem utilizada seja
acessível ao usuário.
A integralidade, subjetividade e compreensão dos
diversos contextos de vulnerabilidades são elementos
fundamentais para a abordagem de redução de
riscos.
No entanto, as equipes de saúde ainda sentem dificuldades na
abordagem de questões relativas à sexualidade, percebendo-
se intervenções que não atendem plenamente as necessidades
específicas das pessoas, tendo em vista os contextos de
vulnerabilidade onde se encontram inseridas.
Essa lacuna traz como conseqüência dificuldades no
acolhimento às necessidades específicas da mulher na
circunstância de pré-natal, parto e puerpério, e de promoção
da sua saúde integral. Para compreender o caminho que as
mulheres percorrem em direção à infecção pelo HIV, sífilis,
ou outra DST, é necessário aperfeiçoar a escuta e a abordagem
dos profissionais de saúde a esse segmento, respeitando
suas especificidades biológicas, psicossociais e culturais, e
19
suas circunstâncias de ser, viver e sentir. No contexto dos
serviços de pré-natal e das maternidades, essas ações devem
ser estruturadas como um conjunto de intervenções da
equipe, adequando-se às possibilidades reais de cada serviço,
dispondo de profissionais capacitados, para assegurar tais
condutas durante todo o pré-natal, no momento do parto e
no pós-parto.
No caso das mulheres, a qualidade dessa relação com o
profissional de saúde na prática do aconselhamento significa
uma oportunidade para avaliar fatores de vulnerabilidade
e exposição ao risco de infecção pelo HIV e outras DST,
no presente ou em épocas passadas, preparando-a para
a recepção do diagnóstico de HIV ou para a adoção das
medidas de prevenção dessa infecção e de outras DST.
O diagnóstico da infecção pelo HIV, quando feito no início
da gestação, possibilita os melhores resultados relacionados
ao controle da infecção materna e, conseqüentemente, os
melhores resultados de profilaxia da transmissão vertical
desse vírus. Por esse motivo, o teste anti-HIV deve ser
oferecido a todas as gestantes tão logo se inicie o pré-natal.
A adesão à testagem, entretanto, deve ser sempre voluntária
e confidencial.
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2.1 Aconselhamento pré-teste (individual e/ou
coletivo)
Fazem parte desta etapa o acolhimento, o estabelecimento
de vínculo, o mapeamento de situações de vulnerabilidade
e a orientação sobre o teste. O grau de aprofundamento da
abordagem destes conteúdos irá depender do conhecimento
das DST/aids, percepção de risco e disponibilidade de tempo
das mulheres gestantes.
Apresentação e acolhimento
É importante que o profissional estabeleça um ambiente
favorável para o diálogo e esteja atento para:
• Assegurar um mínimo de privacidade;
• Destacar o objetivo do atendimento;
• Reforçar a garantia do sigilo;
• Estimular a fala da gestante, identificando fatores de
vulnerabilidade e risco.
Levantamento de conhecimento sobre DST/aids, práticas
de risco e vulnerabilidade das mulheres gestantes
É importante levar em consideração os distintos níveis de
conhecimento das gestantes sobre transmissão, prevenção e
viver com HIV e aids. Tais diferenças podem estar associadas
ao nível de escolaridade e renda, bem como à percepção
21
individual sobre risco e vulnerabilidade. A busca espontânea
pela testagem pode traduzir percepção de risco, permitindo
abreviar este momento.
A abordagem inicial permite identificar o conhecimento
das gestantes sobre DST e aids, iniciar o “mapeamento” das
situações de vulnerabilidade e de risco em que elas possam
estar inseridas, bem como a motivação para a realização
do teste. Esses conteúdos deverão ser complementados e
aprofundados após o resultado do teste, permitindo uma
abordagem sobre aspectos de sua vida íntima, tais como
práticas sexuais e uso de drogas.
Neste momento é necessário considerar:
• Os conhecimentos assimilados sobre a infecção
pelo HIV/aids e outras DST;
• Práticas sexuais com e sem proteção (tipos de
vínculo com parceria sexual, orientação e práticas
sexuais, dificuldades no uso de preservativo);
• Contextos de vulnerabilidades;
• Uso de drogas (tipo e formas de uso, contextos
de utilização, hábitos dos parceiros, dificuldades
no uso de preservativos sob efeito de álcool e
outras drogas);
• Histórico de DST;
• A possibilidade de “janela imunológica”.
Protocolo para a prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis
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Também é de fundamental importância:
• Explicar o que é o teste anti-HIV; como ele é
feito; o que mede e quais são suas limitações,
explicitando o significado dos resultados
negativo, indeterminado e positivo;
• Explicar os benefícios do diagnóstico precoce
na gravidez, tanto para o controle da doença
materna quanto para a prevenção da transmissão
vertical, reforçando as chances dessa prevenção;
• Mencionar o caráter confidencial e voluntário do
teste anti-HIV;
• Discutir as vantagens e implicações dos dois
métodos utilizados para a realização do teste.
No caso do teste rápido, o período de espera do
resultado poderá ser ocupado no aprofundamento da
avaliação de riscos com a gestante e com a realização
de atividades como, por exemplo, a disponibilização
ou leitura de material educativo, esclarecimento de
dúvidas com a equipe de saúde, atividades de sala
de espera tais como vídeos, palestras ou grupos de
discussão, que dependem da organização de cada
serviço para sua realização.
Dentre os temas que poderão ser abordados nos espaços
coletivos, respeitando-se a linguagem e a profundidade
adequadas à população de gestantes que se assiste, destacam-se:
23
• Agentes etiológicos e mecanismos de transmissão;
• Abordagem relativa aos conceitos de risco e
vulnerabilidade;
• Significados da exposição ao risco, em situação atual
e/ou pregressa, para a infecção pelo HIV, sífilis e outras
DST;
• Diferença entre ser portador do HIV e desenvolver a
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids);
• Mecanismos de prevenção, diagnóstico/tratamento e
controle da infecção materna;
• Ações voltadas para a prevenção da transmissão vertical
do HIV;
• Informações sobre o teste e os possíveis resultados.
Após serem dadas as orientações necessárias para a realização
do teste, tanto a gestante quanto o profissional de saúde
deverão assinar o termo de consentimento ou recusa para a
testagem, conforme modelo a seguir. Esse modelo pode ser
adaptado conforme a realidade local, considerando-se as
diferentes culturas e especificidades.
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24
TERMO DE DECLARAÇÃO DE ACEITE OU
RECUSA DO TESTE ANTI-HIV
Controle nº: ___________
( ) Aceito
( ) Recusado
A. Declaração da Gestante Usuária do Serviço
Eu, abaixo assinada ............................................................................, inscrita no Programa de Pré-Natal,
declaro para os devidos fins, que fui informada a respeito dos benefícios da realização do teste ANTI-
HIV durante a gestação, assim como me foi ofertada a realização do referido teste, de forma gratuita
e sigilosa.
Declaro estar ciente de que o diagnóstico e tratamento do HIV durante a gestação diminui as
chances de transmissão do vírus da AIDS para o bebê.
☐ Tenho ciência da importância do teste e declaro que autorizo a realização.
☐
Apesar de estar ciente destas informações, não autorizo a realização do teste ANTI-
HIV, responsabilizando-me pelas conseqüências desta recusa.
Nome: _________________________________________________________
RG/CPF: ________________________________________________________
Endereço: ______________________________________________________
Data: __/__/__ _____________________________________
Assinatura da gestante
______________________________
*(impressão digital do polegar)
*no caso da pessoa não saber ler ou assinar seu nome, esta impressão digital atesta que o formulário
de consentimento foi lido e explicado com exatidão por um membro da equipe de saúde, ou por um
familiar da gestante, e que a pessoa afixou sua digital do polegar como sinal de consentimento.
25
B. Declaração do Profissional do Serviço
Eu, abaixo assinado, declaro que realizei aconselhamento e expliquei para a gestante os procedimentos
e a importância da realização do teste ANTI-HIV, bem como os benefícios do conhecimento do
status sorológico tanto para a gestante quanto para a prevenção da transmissão vertical, sendo que a
mesma assinou essa declaração voluntariamente.
Unidade de Saude: _______________________________________________
Nome do Profissional: ____________________________________________
Registro no Conselho:_____________________________________________
__________________________________
Assinatura do Profissional do Serviço
DATA: ............./ .............../ ...................
1ª Via Unidade de Saúde
2ª Via Usuária
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26
2.2 Aconselhamento pós- teste
Entrega do resultado
Neste momento, é importante garantir o sigilo, explicar o
resultado do teste e orientar as gestantes, individualizando
seu significado. O resultado deve ser anotado no Cartão da
Gestante e no prontuário utilizando, preferencialmente, o
CID 10 em casos positivos.
É importante utilizar as informações já reveladas no
momento anterior, complementando as informações sobre,
por exemplo, orientação e práticas sexuais, uso de álcool e
outras drogas, levantando o mínimo de dados necessários
para contextualizar as orientações sobre medidas preventivas
e redução das vulnerabilidades e dos riscos.
Resultado negativo
Nesta situação, a prioridade é reforçar as orientações sobre
as medidas de prevenção para evitar futuras exposições
de risco. É necessária a atenção do profissional, pois a
sensação de alívio deste momento pode desvalorizar a
intervenção para adoção de práticas seguras.
Neste momento é essencial:
• Explicar o significado do resultado negativo,
reforçando que a testagem não evita a transmissão
em novas exposições;
27
• Verificar a possibilidade de janela imunológica
caso tenha ocorrido alguma exposição ao risco
nas quatro semanas que antecederam a realização
do teste, indicando retorno para retestagem após
30 dias, ressaltando a necessidade de adotar as
medidas de prevenção;
• Lembrar que cada gestante tem suas
especificidades. Assim, é necessário que as
orientações considerem seu estilo de vida ou sua
condição atual como, por exemplo, dificuldades
na negociação do preservativo; uso de barreiras
nas diferentes práticas sexuais, com os diferentes
tipos de parceiros (fixos ou eventuais); práticas
sexuais sob efeito de drogas (lícitas e /ou ilícitas,
inclusive o álcool) e a ocorrência de violência
doméstica e violência sexual.
• Reforçar as informações sobre vulnerabilidade e
risco, orientando sobre a prevenção de DST e aids.
Importante discutir com a gestante as possíveis
estratégias de redução de vulnerabilidades e de
riscos;
• Para as gestantes que fazem uso abusivo de
álcool e outras drogas: discutir estratégias de
redução de danos, reforçando a necessidade do
uso de preservativo e do não-compartilhamento
de seringas e agulhas, no caso do uso de drogas
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28
injetáveis. Considerar o encaminhamento para
Programas de Redução de Danos (PRD) e/ou
Centro de Atenção Psicossocial para tratamento
da dependência química;
• Reforçar a importância de testagem do parceiro
fixo;
• O apoio emocional deve permear todo o
atendimento; quando necessário encaminhar
o usuário para atendimento na área de saúde
mental.
Resultado positivo
O impacto do resultado positivo costuma ser intenso,
tanto para a gestante quanto para o profissional. Portanto,
é fundamental que o profissional esteja preparado para
oferecer apoio emocional, respeitando o tempo da
gestante, bem como a reação ao resultado. Informações
sobre o significado do resultado, as possibilidades de
tratamento para a gestante e a possibilidade de evitar
a infecção de seu bebê, encaminhamentos necessários
e discussão sobre as medidas de prevenção a serem
adotadas, devem ser oferecidas e abordadas de acordo
com a condição emocional das gestantes, assim como
seu grau de escolaridade.
29
Neste momento é importante:
• Reafirmar o sigilo do resultado;
• Garantir à gestante o tempo necessário para
assimilação do diagnóstico, exposição das
dúvidas e expressão dos sentimentos (raiva,
ansiedade, depressão, medo, negação etc.);
• Informar sobre a prevenção da transmissão
vertical, ressaltando a possibilidade do bebê não
ser infectado;
• Lembrar que o resultado positivo não
significa morte, enfatizando os avanços do
tratamento da infecção pelo HIV (melhora da
qualidade e expectativa de vida, redução de
morbimortalidade);
• Estimular a adesão, ressaltando a importância do
acompanhamento médico e psicossocial para o
controle da infecção e para a promoção da saúde,
durante e após a gestação;
• Informar a importância da testagem dos
parceiros sexuais, oferecendo apoio, caso sejam
identificadas dificuldades nesse sentido;
• Discutir estratégias de redução de riscos que
levem em conta as informações coletadas no
pré-teste, lembrando-se, principalmente, da
vulnerabilidade, das questões relacionadas a
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30
gênero, de direitos reprodutivos, de diversidade
sexual e de uso de drogas;
• Para as gestantes que fazem uso abusivo de
álcool e outras drogas: discutir estratégias de
redução de danos, reforçando a necessidade do
uso de preservativo e do não compartilhamento
de seringas e agulhas, no caso de uso de droga
injetável, para que a usuária reduza seus riscos
de reinfecção e de transmissão para seus pares.
Novamente considerar o encaminhamento para
Programas de Redução de Danos (PRD) e/ou
Centro de Atenção Psicossocial para tratamento
da dependência química;
• Indicar grupos de apoio existentes na
comunidade, no serviço ou em ONG locais;
• Agendar consulta conforme fluxo do serviço.
Na situação em que a gestante resista ou apresente
dificuldades em revelar o diagnóstico positivo para o(s)
parceiro(s) sexual(ais), o profissional de saúde deverá
respeitar o direito da mulher. No entanto, deverá esgotar os
fortes argumentos para evidenciar as vantagens da revelação,
inclusive disponibilizando-se para participar do momento da
revelação.
Caso o profissional de saúde tenha esgotado as possibilidades
de sensibilização da gestante para a revelação de sua condição
31
a seu (sua) parceiro(a), caracterizando-se a recusa, o médico
da equipe poderá informá-la da possibilidade de contatar
seu (sua) parceiro(a) para oferecimento do teste, conforme
Resolução 1665/2003 do Conselho Federal Medicina: “O
médico não poderá transmitir informações sobre a condição
do portador do vírus da SIDA (AIDS), mesmo quando
submetido a normas de trabalho em serviço público ou
privado, salvo nos casos previstos em lei, especialmente
quando disto resultar a proibição da internação, a interrupção
ou limitação do tratamento ou a transferência dos custos para
o paciente ou sua família.”
Resultado indeterminado
Orientar sobre a possibilidade de “janela imunológica” e a
necessidade de nova coleta de exame após 30 dias.
Reforçar os cuidados de prevenção.
2.3 Aconselhamento nos serviços
A - Programas de agentes comunitários de saúde
Os agentes comunitários de saúde têm um papel essencial na
identificação tanto das gestantes que não realizaram o pré-
natal e a testagem para o HIV nas comunidades que atuam,
quanto das vulnerabilidades e risco dessas mulheres. Para
isso, é importante que incluam na sua rotina um olhar sobre
os diferentes contextos de vida das gestantes e tenham uma
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32
abordagem objetiva sobre a importância da saúde gestacional,
da prevenção das DST e encaminhamentos para os serviços
de saúde de referência.
As ações do agente comunitário de saúde na comunidade
contribuem para o aumento da procura pelo serviço,
para a desmistificação da testagem anti-HIV e melhora a
receptividade para o aconselhamento e mudança de práticas.
É muito importante que o agente comunitário, como todo
profissional da saúde, esteja atento para não emitir juízos de
valor, atitudes de preconceito e quebra de sigilo.
Competência do agente comunitário de saúde
O atendimento qualificado do agente comunitário de saúde
implica em:
• Prestar informações relacionadas às DST/aids;
• Disponibilizar insumos de prevenção;
• Encaminhar as gestantes para as unidades de saúde
para realização da testagem, repassando para a equipe
informações sobre as vulnerabilidades específicas de
cada situação, preservando confidencialidade e sigilo;
• Oferecer apoio nas situações em que as gestantes
compartilham suas angústias;
• Ter disponibilidade para o diálogo no processo de
aceitar o resultado positivo, esclarecer dúvidas sobre
33
práticas preventivas e identificar referências de apoio
social.
B - Maternidades
A situação do parto não se constitui o momento ideal para
o aconselhamento relacionado às DST/aids. Diante da
necessidade de realização do teste anti-HIV para as mulheres
que não tiveram a oportunidade durante o pré-natal, é
importante que se estabeleça um vínculo e acolhimento
mínimo para:
• Reafirmar sigilo;
• Informar da necessidade e vantagens do teste;
• Obter o consentimento;
• Sinalizar sobre um encontro pós-parto, para uma
abordagem mais pormenorizada;
• Obter o consentimento, por escrito, conforme descrito
no item referente ao pré-teste.
ACONSELHAMENTO PÓS-TESTE NA
MATERNIDADE:
Considerando o período curto de permanência na
maternidade, é importante criar oportunidades para o
aconselhamento pós-teste, proporcionando orientações
importantes para a qualidade de vida.
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34
No centro obstétrico:
Resultado negativo
Considerar os conteúdos já referidos anteriormente, no
item 1.2, Resultado Negativo – Entrega de Resultado
Resultado positivo
• Informar o resultado do exame;
• Orientar sobre as ações de prevenção da
transmissão vertical do HIV a ser implementadas
antes e durante o parto;
• Orientar quanto à via de parto de acordo com a
indicação obstétrica e carga viral (ver Quadro 1);
• Promover apoio emocional;
• Caso a parturiente esteja com acompanhante,
verificar conjuntamente a possibilidade de
incluí-lo no processo.
No alojamento conjunto:
Resultado negativo
Considerar os conteúdos já referidos anteriormente, no
item 1.2, Resultado Negativo – Entrega de Resultado
35
Resultado positivo
• Avaliar a necessidade de apoio para compartilhar
o resultado com o parceiro e rede social;
• Enfatizar as condutas preventivas (não
amamentação) e outros cuidados realizadas
para a proteção do RN e outros procedimentos
necessários para a saúde da mãe;
• Informar sobre a necessidade de acompanhamento
e adesão ao tratamento do binômio mãe-filho
pós-alta;
• Rever e esclarecer informações e orientações
recebidas no pré-natal e relacionadas às condutas
realizadas durante e após o parto;
• Informar sobre o direito ao acesso à fórmula
infantil para alimentação do RN;
• Enfatizar a importância do uso de preservativos
e oferecer apoio para as dificuldades encontradas
para tanto.
C - Serviço de Referência (conforme estabelecido pela
estruturação da rede local)
Após o parto, o ingresso da mulher com teste positivo no
serviço de referência, estabelece a necessidade de reforçar
alguns aspectos que podem não ter sido adequadamente
Protocolo para a prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis
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36
trabalhados no aconselhamento em função da fragilidade
emocional que permeia essa situação. É preciso sempre
verificar se o significado do resultado positivo do teste foi
compreendido, enfatizar a necessidade de testagem do(a)
parceiro(a) e iniciar o acompanhamento ambulatorial.
É necessário avaliar se os aspectos relacionados ao
aconselhamento pós-teste positivo foram adequadamente
trabalhados e compreendidos pelas gestantes, reforçando os
seguintes itens:
• Avaliar a necessidade de apoio para compartilhar o
resultado com o parceiro e rede social;
• Verificar se o parceiro foi testado e a necessidade de
apoio para encaminhá-lo;
• Enfatizar a importância da adesão ao acompanhamento
e ao tratamento, para a eficácia da prevenção da
transmissão vertical do HIV.
ACONSELHAMENTO DA PUÉRPERA NO SERVIÇO DE
REFERÊNCIA
É importante que a puérpera que teve seu diagnóstico
estabelecido na maternidade tenha um bom acolhimento
e possa expor suas dúvidas e angústias sobre seu status
sorológico e sobre o tratamento, que não tenham sido
suficientemente esgotadas na maternidade.
37
Enfocar especialmente os seguintes aspectos:
• Significados e percepções da mulher a respeito do
resultado positivo (processo de aceitação e fantasias
que surgem a partir do resultado);
• Sentimentos em relação a sua condição sorológica;
• Sentimentos em relação ao bebê;
• Enfatizar a importância da adesão ao seu tratamento e
à profilaxia do RN exposto;
• Avaliar as dificuldades enfrentadas pela puérpera
na implementação das condutas preventivas para a
proteção do RN e outros procedimentos necessários
para a saúde da mãe;
• Esclarecer as orientações, já recebidas no pré-natal,
sobre condutas após o parto para a prevenção da TV.
D - Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA)
Os CTA foram estruturados para possibilitar o acesso ao
diagnóstico do HIV, com anonimato, para populações que
se percebem em risco para a infecção pelo HIV. Têm como
principal atribuição o atendimento de segmentos mais
vulneráveis. A maioria destes centros estão organizados com
equipes multidisciplinares dedicadas exclusivamente às ações
de diagnóstico e aconselhamento em relação ao HIV, à sífilis
e às hepatites virais B e C, permitindo um tempo maior de
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38
contato com o usuário e possibilitando, portanto, uma melhor
avaliação de risco, fortalecendo as estratégias para redução de
vulnerabilidades. Existe um número significativo de gestantes
sendo atendidas nesses serviços, até que os serviços de pré-
natal tenham efetivamente implantado o diagnóstico do
HIV na rotina de trabalho. Neste ambiente é possível ter um
tempo maior para abordagem, havendo oportunidade para
maior detalhamento de conteúdos e para uma orientação que
considere as especificidades de cada gestante.
39
3 Diagnóstico da infecção pelo HIV
O diagnóstico da infecção pelo HIV no Brasil pode ser
feito por meio da realização de ensaios denominados Elisa,
imunofluorescência indireta, imunoblot, western blot e,
mais recentemente, a partir de julho de 2005, por meio da
realização dos testes rápidos.
O conjunto de procedimentos seqüenciados utilizados para
a realização e conclusão do diagnóstico é denominado
algoritmo ou fluxograma de testes.
Todos os laboratórios públicos, privados e conveniados ao
Sistema Único de Saúde (SUS) devem seguir o disposto na
Portaria 59/GM/MS, de 28 de janeiro de 2003 (Anexo B),
onde é preconizada a realização de testes sorológicos como
o Elisa, imunofluorescência indireta, imunoblot e western
blot.
Além disso, o diagnóstico da infecção pelo HIV utilizando-
se testes rápidos pode ser feito em algumas maternidades
selecionadas pelo Ministério da Saúde (MS). Para isto, o
MS vem capacitando a equipe de profissionais de saúde
envolvidos com esta atividade e fornecerá os insumos. Os
testes rápidos a serem distribuídos às maternidades tiveram
Protocolo para a prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis
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40
seu desempenho avaliado, razão pela qual somente as marcas
de produtos definidas pelo MS poderão ser utilizadas,
seguindo-se o conjunto de procedimentos seqüenciados
(algoritmo) disposto no anexo da Portaria Nº 34/SVS/MS, de
28 de junho de 2005 (Anexo E).
3.1 Diagnóstico laboratorial da infecção pelo HIV
Para a realização do diagnóstico da infecção pelo HIV, os
laboratórios públicos, privados e conveniados ao Sistema
Único de Saúde (SUS), devem adotar obrigatoriamente os
procedimentos seqüenciados (Fluxograma – Figura 1), de
acordo com a Portaria Nº 59/GM/MS, de 28 de janeiro de 2003
(Anexo B). Esta portaria está sendo atualizada, alterando a
realização dos testes para a detecção de anticorpos anti-
HIV como diagnóstico a partir dos 18 meses de idade.
Todas as amostras de soro ou plasma devem ser submetidas
inicialmente a um imunoensaio, denominado Elisa (Teste 1),
na etapa denominada de triagem sorológica (Etapa I).
• As amostras com resultados não reagentes nesse
primeiro imunoensaio, serão definidas como “Amostra
negativa para o HIV”. Nesse caso, o diagnóstico da
infecção é concluído, não havendo a necessidade da
realização de nenhum teste adicional.
• As amostras com
resultados reagentes ou inconclusivos
nesse primeiro imunoensaio, deverão ser submetidas a
uma etapa de confirmação sorológica, composta de um
41
segundo imunoensaio (diferente do primeiro na sua
constituição antigênica ou princípio metodológico) e
testes confirmatórios, tais como a imunofluorescência
indireta, imunoblot ou western blot (Etapas II ou III).
OBSERVAÇÕES:
• Os laboratórios podem optar pela realização da Etapa
II ou Etapa III, para confirmação sorológica das
amostras.
• Em alguns casos como, por exemplo, em resultados
discordantes entre dois métodos diferentes, além da
Etapa II, é necessário realizar a Etapa III.
• Diante de um resultado positivo, após a etapa de
confirmação sorológica, os laboratórios devem solicitar
uma nova amostra do paciente, a fim de confirmar o
seu status sorológico.
• Diante de um resultado reagente ou inconclusivo
no primeiro imunoensaio (Elisa) e negativo ou
indeterminado no western blot deve-se observar
a necessidade da realização de investigação da
soroconversão ou pesquisa de anti-HIV-2.
• Todos os conjuntos de diagnóstico utilizados para a
realização do diagnóstico laboratorial da infecção pelo
HIV devem ser capazes de detectar anti-HIV-1 e anti-
HIV-2, além de ter registro no Ministério da Saúde.
Protocolo para a prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis
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42
NOTA: A Portaria de Nº 59/GM/MS, de 28 de janeiro
de 2003, será revogada no que diz respeito à idade
mínima para a realização do diagnóstico da infecção
pelo HIV por meio da detecção de anticorpos,
atualmente dois anos. Com base nisto, o Ministério
da Saúde recomenda a realização da detecção de
anticorpos anti-HIV em indivíduos com idade acima
de 18 meses.
Figura 1: fluxograma para detecção e anticorpos anti-HIV em
indivíduos com idade acima de dois anos (recomendado acima
de 18 meses)
LEGENDA:
EIA=ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO
IFI= IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA
IB= IMUNOBLOT
IC = INCONCLUSIVO
I = INDETERMINADO
( - ) = NÃO REAGENTE
( + ) = REAGENTE
(*) De acordo com o ensaio realizado (IFI ou IB)
ET
AP
A I
INVESTIGAR SOROCONVERSÃO E/OU PESQUISAR HIV -2
AMOSTRA POSITIVA
PARA HIV –1 / HIV (*)
COLETAR NOVA AMOSTRA
REPETIR A ETAPA I
( - )
( + ) / ( IC )
EIA 2 e IFI ou IB
EIA 2 ( - ) e
IFI ( - ) ou
IB ( - )
AMOSTRA NEGATIVA
PARA HIV -1
WESTERN BLOT
( - ) AMOSTRA NEGATIVA
PARA HIV -1
( I ) AMOSTRA INDETERMINADA
PARA HIV -1
( + ) AMOSTRA POSITIVA
PARA HIV -1
COLETAR NOVA AMOSTRA
E REPETIR A ETAPA I
AMOSTRA NEGATIVA PARA HIV
EIA 1
EIA 2 ( + ) e
IFI ( + ) ou
IB ( + )
EIA 2 ( - ) / (Ic ) e
IFI ( + ) / ( I ) ou
IB ( + ) / ( I )
ET
AP
A II
ET
AP
A III
AMOSTRA (SORO OU PLASMA)
EIA 2 ( + ) / (Ic ) e
IFI ( - ) / ( I ) ou
IB ( - ) / ( I )
43
3.2 Diagnóstico da infecção pelo HIV
utilizando-se os testes rápidos
Diagnóstico da infecção pelo HIV utilizando-se os testes
rápidos em indivíduos com idade acima de 18 meses
A fim de realizar-se o diagnóstico da infecção pelo HIV
utilizando testes rápidos, dois diferentes tipos de teste,
denominados TESTE 1 (T1) E TESTE 2 (T2) devem ser
realizados, em paralelo, para toda e qualquer amostra
coletada. Se os dois testes iniciais apresentarem resultados
positivos, a amostra será considerada positiva para o HIV.
Da mesma forma, se os dois testes apresentarem resultados
negativos, a amostra será considerada negativa para o HIV.
Um terceiro teste, ou TESTE 3 (T3), será utilizado somente
quando os testes iniciais (T1 e T2) apresentarem resultados
discordantes, sendo que o T3 definirá o resultado da
amostra.
Uma vez aplicado o algoritmo citado acima (Figura 2), não
há necessidade de se realizar os testes confirmatórios para
concluir o diagnóstico da infecção pelo HIV, uma vez que os
testes rápidos distribuídos pelo Ministério da Saúde já foram
avaliados frente ao western blot, tendo apresentado igual
desempenho. Além disso, todos os aspectos abordados na
Portaria Nº 34/SVS/MS, de 28 de julho de 2005 (Anexo E),
deverão ser observados.
Protocolo para a prevenção de transmissão vertical de HIV e sífilis
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44
Figura 2: algoritmo de testes rápidos para detecção de
anticorpos anti-HIV em indivíduos com idade acima de 18 meses
POSITIVO/
POSITIVO
POSITIVO/
NEGATIVO
NEGATIVO/
POSITIVO
AMOSTRA POSITIVA
PARA O HIV
AMOSTRA NEGATIVA
PARA O HIV
COLETAR NOVA
AMOSTRA APÓS 30
(TRINTA) DIAS E REPETIR
TODO O ALGORITMO
POSITIVO
NEGATIVO
AMOSTRA POSITIVA
PARA O HIV
TESTE 3
AMOSTRA NEGATIVA
PARA O HIV
NEGATIVO/
NEGATIVO
TESTE 1 + TESTE 2
45
Uso dos testes rápidos para indicação de quimioprofilaxia
da transmissão vertical do HIV
Os testes rápidos também podem ser usados para indicação
de quimioprofilaxia da transmissão vertical do HIV em
gestantes no final do terceiro trimestre da gestação, em
parturientes e em mulheres no pós-parto imediato, que não
tenham sido testadas para o anti-HIV no pré-natal ou que
não disponham do resultado do mesmo na admissão para
o parto.
O status de soropositividade de uma gestante configura uma
situação em que medidas profiláticas devem ser adotadas no
sentido de reduzir o risco de transmissão do HIV da mãe
para o bebê.
Como se trata de uma situação de emergência com risco de
vida para terceiros (no caso, o recém-nascido) e a eficácia
da quimioprofilaxia é bastante elevada, recomenda-se a
realização do teste rápido nas parturientes não testadas
anteriormente, mediante seu consentimento verbal. As
mulheres que apresentarem resultado não-reagente não têm
indicação para uso da quimioprofilaxia. As mulheres que
apresentarem resultado reagente a um único teste rápido
devem receber a quimioprofilaxia com AZT injetável e seu
recém-nascido deve receber o AZT solução oral.
Quando houver um resultado reagente, uma nova amostra de
sangue deverá ser coletada para esclarecimento de diagnóstico,
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46
seguindo as recomendações técnicas estabelecidas pelo
Ministério da Saúde para diagnóstico da infecção pelo HIV.
É importante, porém, enfatizar que o uso da zidovudina
durante o trabalho de parto e pelo recém-nascido deve ser
instituído e mantido, por indicação médica, até a elucidação
diagnóstica do caso.
Essas mulheres deverão ser aconselhadas a não amamentar,
estando indicada a inibição mecânica e/ou medicamentosa
da lactação logo após o parto.
Na Figura 3, encontra-se um fluxograma que resume a
conduta recomendada para uso de teste rápido na indicação
da quimioprofilaxia para redução da transmissão vertical do
HIV.
47
Figura 3: fluxograma para uso de teste rápido para HIV em
parturientes (triagem)
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