HEPARINA
A heparina para uso clínico é extraída do pulmão de bovinos ou da mucosa intestinal de porcinos. A
heparina não é uma substância pura, única, e sim uma mistura de diversas substâncias afins com pesos
moleculares que variam de 3.000 a 40.000 Dalton. A grande maioria das moléculas, contudo, se situa na faixa
ente os 10.000 e 20.000 Dalton. A atividade anticoagulante da heparina se deve às moléculas de maior peso
molecular; as moléculas menores não tem efeito anticoagulante.
A heparina administrada à um indivíduo, interfere nas etapas finais da cascata da coagulação, que
consistem na conversão da protrombina (fator II) em trombina que, por sua vez, promove a conversão do
fibrinogênio (fator I) em fibrina, originando o coágulo. A heparina impede a transformação da protrombina
em trombina; dessa forma a conversão do fibrinogênio em fibrina, não ocorre.
A heparina atua principalmente nas fases finais da cascata da
coagulação, ao impedir a transformação do fibrinogênio em fibrina, cuja
malha retém grumos plaquetários e células vermelhas, para constituir e
dar sustentação ao coágulo. A transformação do fibrinogênio em fibrina
ocorre em consequência da atuação da trombina sobre o fibrinogênio. A
trombina está permanentemente estimulando o fibrinogênio à formar
fibrina. Para evitar isso, uma substância do sangue, a antitrombina III,
representada pela sigla ATIII, inibe essa ação estimulante. Disso decorre
que, na presença de antitrombina III, a trombina não estimula a
transformação do fibrinogênio em fibrina, conforme ilustrado na figura
1.
A heparina forma um complexo com a antitrombina III. Este
complexo exerce uma inibição muito potente da trombina e impede a
transformação do fibrinogênio em fibrina. A atividade do complexo
heparina‐ATIII é cerca de 1.000 a 2.000 vezes maior que a atividade
inibidora da ATIII isoladamente.
Nenhum dos dois componentes isoladamente (heparina e ATIII),
tem atividade anticoagulante significativa. O complexo formado pela
união de ambos, é dotado de intensa atividade anticoagulante. Na
ausência de ATIII, a heparina não exerce nenhum efeito anticoagulante.
A heparina não é absorvida por via oral; sua administração preferencial é venosa. O efeito
anticoagulante é muito rápido; surge em cerca de 1 minuto. Os níveis plasmáticos da heparina se reduzem,
consideravelmente, nas primeiras duas horas após a administração. A velocidade de desaparecimento da
heparina no sangue é estimada em aproximadamente 50% por hora.
O efeito anticoagulante da heparina é monitorizado através de testes de coagulação, como o tempo
de coagulação (Lee White), o tempo de coagulação ativado (TCA) ou o tempo parcial de tromboplastina
(PTT). A anticoagulação eficaz corresponde ao tempo de coagulação 2 a 3 vêzes o valor normal.
O teste de coagulação mais usado é o tempo de coagulação
ativado (TCA), que consiste em acelerar o tempo de coagulação do
sangue, pela mistura com óxido de silício (celite). O valor normal do TCA
varia de 80 a 120 segundos. Nos pacientes em uso de aprotinina (uma
substância antifibrinolítica), recomenda‐se substituir o celite pelo
caolim, como agente acelerador da coagulação, para o teste do TCA. O
caolim, ao contrário do celite, ativa a via intrínseca da coagulação por
estimulação direta do fator XI.
O efeito colateral mais frequente do uso da heparina é o sangramento, que pode ocorrer em 1 a 37%
dos casos.
Os pacientes que recebem heparina por um tempo prolongado podem apresentar dois fenômenos
importantes: resistência à heparina e trombocitopenia.
A resistência à heparina consiste na necessidade de doses crescentes da droga para a obtenção do
mesmo efeito anticoagulante e deve‐se ao fato de que este anticoagulante atua mediante a combinação
com a antitrombina III (ATIII). Quando a quantidade de ATIII no sangue circulante diminui, o efeito da
heparina também diminui. Os indivíduos com grande consumo de ATIII, portanto, tornam‐se mais resistentes
ao efeito anticoagulante da heparina.
A heparina pode produzir uma redução do número de plaquetas circulantes, por ação direta,
estimulando a sua agregação. Uma reação consideravelmente mais severa pode ocorrer nos indivíduos que
recebem heparina por mais de 5 a 10 dias. A heparina forma um complexo com um fator plaquetário,
localizado na superfície das plaquetas e denominado fator plaquetário 4 (FP‐4). Esse complexo heparina‐FP‐
4 atua como um forte antígeno. O organismo produz anticorpos contra o complexo heparina‐FP‐4, que
atacam as plaquetas e produzem a sua agregação, com a consequente redução da contagem no sangue
circulante. Esta trombocitopenia induzida pela heparina, paradoxalmente, pode produzir fenômenos
trombóticos, ao contrário do que seria de esperar, diante de uma redução do número total de plaquetas em
circulação.
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