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Marcelo Lopes de Moraes
2
Mirian Rumenos Piedade Bacchi
3
Resumo – O objetivo deste trabalho é analisar o uso do etanol como combustível no Brasil, desde as
primeiras iniciativas até o momento atual, caracterizado pela expansão da produção para o Centro-
-Oeste e pela crise depois de 2008. Com a estabilidade do preço do petróleo e diante de problemas
internos, como os relacionados ao abastecimento e ao fim dos subsídios governamentais, o Proál-
cool ficou ‘adormecido’ (1996–2002). Em 2003, inicia-se o segundo impulso ao etanol no Brasil,
sendo esse período denominado ‘revolução-flex’ (2003–2008). Esse impulso ocorre num cenário de
expansão da atividade canavieira para regiões que não as tradicionais. A partir de 2008, por uma
série de motivos, essa fase de expansão torna-se fase de incerteza/estagnação (2009–2013), frus-
trando as expectativas do setor. O abandono do mecanismo de congelamento do preço da gasolina
como instrumento de contenção inflacionária, somada a políticas governamentais de médio e longo
prazos para uso de biocombustíveis, poderia resultar numa retomada de crescimento da atividade
canavieira, especialmente no Centro-Oeste. A expansão nessa região depende, em grande medida,
de investimentos em infraestrutura, como o álcoolduto.
Palavras-chave: Centro-Oeste, flex-fuel, histórico.
Ethanol: from the beginning to the current production phases
Abstract – The objective of this study was to analyze the use of ethanol as fuel in Brazil, from the first
initiatives until the present time, which is characterized by the production expansion to the Central-West
Region of Brazil and by the crisis after 2008. Due to the petroleum price stability and internal problems,
such as the ones related to supply and the end of governmental subsidies, the Proácool program remained
stagnant in 1996–2002. In 2003, a second effort to the use of ethanol in Brazil was initiated, this period
being named ‘flex-revolution’ (2003-2008). This effort occurred in a scenario of expansion of sugar-cane
production to non-traditional regions. From 2008, due to several reasons, the expansion phase became
an “uncertain and stagnant period” (2009-2013), frustrating the sector expectations. The abandonment
of the mechanism of gasoline price ‘freezing’ as a tool to hold back inflation, associated with medium
and long term government policies for use of biofuels, could lead to a resumption of growth in sugarcane
production, especially in the Central-West Region of Brazil. The expansion in this region depends, to a
large extent, on investments in infrastructure, such as ethanol pipeline, for example.
Keywords: Central-West Region of Brazil, flex-fuel, history.
Etanol
Do início às fases
atuais de produção
1
1
Original recebido em 25/4/2014 e aprovado em 9/6/2014.
2
Doutor em Economia Aplicada, professor adjunto da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste).
E-mail: marcelomoraes.unioeste@gmail.com
3
Doutora em Economia Aplicada, professora titular da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/Usp). E-mail: mrpbacch@usp.br
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Introdução
Introduzida no Brasil em 1532 pelos
portugueses, a cana-de-açúcar foi fundamental
para a formação econômica e a inserção do País
no mercado internacional via exportações de
açúcar. O “êxito dessa primeira grande empresa
colonial agrícola europeia” (FURTADO, 2003,
p. 15) deve-se às condições edafoclimáticas
4
e
às experiências portuguesas no desenvolvimento
de técnicas de produção nas ilhas do Atlântico.
Porém, depois de quase cinco séculos de ciclos
de expansão e desaceleração, a importância
histórica do setor reflete-se nos dias atuais,
já que o País é o maior produtor mundial de
cana-de-açúcar.
Por aproximadamente 400 anos, o princi-
pal produto extraído da cana-de-açúcar no Bra-
sil foi o açúcar. No entanto, independentemente
de choques externos ou questões ambientais, o
álcool-motor começou a ser utilizado há aproxi-
madamente 100 anos.
Antes do Brasil, a França se destacava em
pesquisas que analisaram o uso do álcool em
motores à explosão, bem como Inglaterra, Ale-
manha, Holanda e África do Sul. Posteriormente,
em 1914, Henry Ford utilizou álcool em um Ford
e em 1925 fez uma previsão que foi divulgada no
The New York Times: o álcool seria o “combustí-
vel do futuro” (MARCOLIN, 2008).
Fatores relacionados à conjuntura interna-
cional, como a crise de 1929 e a Segunda Guerra
Mundial, impulsionaram a produção interna do
etanol no Brasil com caráter emergencial e tem-
porário. Mas esses estímulos foram importantes
para que, novamente diante da conjuntura exter-
na desfavorável, o País lançasse um programa de
substituição do petróleo importado.
Os choques do petróleo da década de
1970 incentivaram, em âmbito mundial, a busca
por fontes alternativas de energia, e o Brasil, uti-
lizando a estrutura canavieira utilizada principal-
mente na produção de açúcar, lança o Programa
Nacional do Álcool (Proálcool). O programa
trouxe ganhos econômicos ao reduzir a impor-
tação de petróleo, mas sua implementação e os
efeitos no campo foram alvo de criticas
5
.
No fim da década seguinte, o programa
entra em colapso, sendo a queda do preço do
petróleo o principal responsável pela crise – ha-
via também fatores relacionados a problemas
internos, como o desabastecimento e problemas
com os carros movidos a álcool.
Um novo e grande impulso ao etanol
no Brasil ocorre em 2003 com o lançamento
dos carros flex-fluel. Essa nova fase resultou
no aumento da produção de cana-de-açúcar
e, consequentemente, na importância do setor
sucroenergético na economia nacional, e a re-
gião Centro-Oeste, ignorada inicialmente, passa
a ser o centro da nova expansão da atividade
canavieira. Mas a expansão impulsionada pela
tecnologia flex foi interrompida em 2008, conse-
quência da crise financeira internacional.
O objetivo deste trabalho é fazer uma
revisão sobre a evolução do uso do etanol no
Brasil e analisar o segundo impulso de produ-
ção, possibilitando a delimitação de fases. Além
desta introdução e das considerações finais, o
trabalho traz, nesta ordem, tópicos que tratam:
do histórico do início do uso do etanol no Brasil
até a crise do Proálcool; do impulso motivado
pela tecnologia flex e a expansão para o Centro-
-Oeste; e das possíveis causas da crise que atin-
giu o setor, em que se definem as fases atuais de
produção do etanol.
4
A cana-de-açúcar é originaria da Papua-Nova Guiné, que se encontra na mesma latitude do Brasil.
5
Entre as criticas de implementação, Vian (2002) destaca a isenção da correção monetária aos financiamentos para os produtores em uma
época de expansão da inflação. Para mais detalhes nessa linha de discussão, ver Pitta (2011). Em relação a criticas relacionas ao campo,
Andrade et al. (2009) citam a expansão das áreas de cana-de-açúcar adiante da estabilidade das áreas de alimentos e a ociosidade dos
boias-frias durante a entressafra.
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7
O início, a consolidação do mercado
de etanol e a crise do Proálcool
A primeira iniciativa de divulgação do
álcool no Brasil foi promovida pela Sociedade
Nacional da Agricultura (SNA) que, em outubro
de 1903, realizou a Exposição Internacional de
Aparelhos de Álcool e, paralelamente, o Con-
gresso Internacional de Álcool, com o objetivo
de apresentar propostas para ampliar o uso do
produto na matriz energética, destacando sua
utilização em veículos automotores (SNA, 1904
citado por DUNHAM et al., 2011).
Em 1922, o presidente Epitácio Pessoa
(1920–1922) criticou a dependência brasileira
da gasolina importada e propôs sua substitui-
ção pelo álcool, prevendo que efeitos positivos
seriam sentidos pela indústria canavieira (MAR-
COLIN, 2008). Ainda nesse ano, foi realizado o
3º Congresso Nacional da Agricultura, que pro-
pôs as seguintes ações: formação de uma “Liga
Nacional de Defesa e Propaganda do Álcool-
-Motor”; reconhecimento do álcool-motor como
de “utilidade pública” e de “interesse nacional”;
e a criação, no Ministério da Agricultura, de uma
seção dedicada a resolver as questões técnicas
da industrialização do álcool-motor (SANTOS,
1982 citado por DUNHAM et al., 2011, p. 54).
A Estação Experimental de Combustíveis e
Minérios
6
(EECM) foi responsável pela utilização
inicial do álcool em motores – um Ford per-
correu 230 quilômetros no Rio de Janeiro com
álcool etílico hidratado 70% (30% de água) em
1925 (MARCOLIN, 2008).
Segundo Mello (1942 citado por MARCO-
LIN, 2008), a Unidade Industrial Serra Grande
Alagoas lançou, em 1927, o primeiro combustível
nacional (álcool-motor), sendo essa uma ação
pioneira – até então, as usinas só produziam
açúcar.
A crise de 1929 teve influência positiva
na formação do mercado interno de álcool
combustível, pois afetou o mercado externo,
principal destino do açúcar brasileiro. Houve
quedas expressivas dos preços no mercado in-
ternacional, e no mercado interno a demanda se
reduziu. Em 1931, Getúlio Vargas, por meio do
Decreto 19.717/31, definiu compulsoriamente o
uso da mistura de 5% de álcool anidro na gaso-
lina importada
7
, e, no mesmo ano, foi criada a
Comissão de Estudos sobre Álcool-Motor (Ceam)
(DUNHAM et al., 2011). Em 1933, o Instituto do
Açúcar e do Álcool (IAA), que tinha entre os
objetivos o estimulo à produção e consumo de
álcool, passou a operar.
Szmrecsányi (1979, p. 170) cita que a partir
da década de 1930
8
,
[…] o álcool passou a ganhar nova importân-
cia, deixando de constituir um simples subpro-
duto, para tornar-se um fator de equilíbrio da
agroindústria canavieira […].
Com a eclosão da Segunda Grande Guer-
ra, conforme Moraes (2000, p. 49) a produção
de álcool anidro aumentou por causa da escas-
sez da gasolina, que era quase que totalmente
importada. Leis e decretos que vigoraram entre
1937 e 1941 incentivaram a produção de álcool
anidro e, em 1941, o teor de mistura desse pro-
duto na gasolina passou a ser de 20%. Em 1942,
segundo esse autor, por meio de um decreto-lei
“[…] a indústria alcooleira foi declarada de inte-
resse nacional […]” (MORAES, 2000, p. 49) e fo-
ram garantidos, por quatro anos, preços mínimos
para o álcool e suas matérias-primas necessárias
à fabricação. Os produtores deveriam seguir
planos de produção definidos pelo IAA.
A criação do IAA, as políticas públicas de
incentivo (planos e decretos) e a Segunda Guerra
influenciaram a produção de álcool anidro (Ta-
bela 1).
6
Orgão do governo de pesquisa que, em 1933, se torna o Instituto Nacional de Tecnologia (INT).
7
Para os autores, esse decreto pode ser considerado o marco inicial da produção de etanol em larga escala no Brasil.
8
Mais precisamente em 1933, com a criação do IAA, que será abordado na sequência do texto.
8
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Tabela 1. Número de destilarias e capacidade anual
de produção de etanol anidro em anos selecionados.
1933
1939
1941
Nº de destilarias
1
31
44
Capacidade anual
(mil litros)
100
38.000
76.600
Fonte: Szmrecsányi (1979).
A partir da safra de 1943–1944, houve
redução da produção de etanol por causa
do preço favorável ao açúcar e, com o fim da
guerra, havia oportunidade de o Brasil aumentar
sua participação no mercado mundial de açúcar
(SZMRECSÁNYI, 1979).
O álcool, como citado, era um produto
secundário para o setor canavieiro, mas um fator
externo alterou sua posição na indústria e a ma-
neira de o Estado atuar no impulso à produção
e consumo: os dois choques do petróleo da
década de 1970.
O Brasil dependia do petróleo importa-
do. Em 1974, o País era o maior importador de
óleo entre os países em desenvolvimento e o
sétimo em escala mundial. Em 1972, antes do
choque, o Brasil gastava com a importação do
petróleo aproximadamente 15% das receitas das
exportações e, em 1974, esses gastos alcança-
ram cerca de 40%. Como dependia do petróleo
importado, que representava cerca de 80% das
necessidades energéticas, o projeto militar de
desenvolvimento foi diretamente afetado pelo
aumento do preço do óleo (SANTANA, 2006).
Em 1979–1980, ocorre o segundo choque
do petróleo. As altas do preço afetaram, segundo
Fishlow (1986), o modelo brasileiro de transpor-
te, baseado em modais escolhidos na época de
petróleo barato. A ligação entre o interior e os
mercados costais, como hoje, era feito por rodo-
vias, não por trem e navio. Além disso, o setor
automobilístico desempenhava papel importante
na indústria nacional, sendo o mais amplo entre
os países em desenvolvimento. Consequente-
mente, o combustível era um insumo básico e
de difícil substituição no curto prazo.
Fishlow (1986, p. 513) apresenta dados que
evidenciam a dependência brasileira do petróleo
importado, e que abrangem os períodos anterior
e posterior aos dois choques do petróleo: em
1973 o petróleo importado representava 12,9%
do total das importações nacionais em valores
FOB; elas continuaram a crescer nos anos
seguintes e atingiram 52,5% em 1984. O autor
descreve que na época do segundo choque do
petróleo, o primeiro mal tinha sido absorvido.
Em síntese, esse cenário alterou de forma
abrupta o rumo da economia brasileira, já que o
período anterior ao primeiro choque é conhecido
como milagre econômico (1968–1973). Os princi-
pais problemas econômicos depois do milagre se
resumem no balanço de pagamento desfavorável
e à inflação. A inflação anual medida pelo IPC/
Fipe
9
, de acordo com o Ipea
10
(2013a, 2013b),
cresceu de 29,26% em 1975 para 228,22% em
1985. O déficit do balanço de pagamentos em
transações correntes, que era de US$ 7,5 bilhões
em 1974, chegou a US$ 16,2 bilhões em 1982.
Diante da grande dependência do petró-
leo importado e de seus derivados, o governo
brasileiro lançou um programa, no âmbito do
IAA, para substituir, em parte, o uso de combus-
tível fóssil na frota de automóveis e comerciais
leves. Esse programa, denominado Proálcool,
é considerado único no mundo, dada a sua
abrangência.
Para alcançar esse objetivo, o governo
tinha varias alternativas de matéria-prima
11
para
a produção do etanol, como sorgo, batata-doce,
9
Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas.
10
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
11
Nesse caso, refere-se à produção de etanol, já que, segundo Melo e Fonseca (1981, p. 51), havia outras possibilidades de diminuir a
dependência do petróleo, como a substituição do óleo diesel por álcool (dependendo do ciclo do motor), mistura de álcool ao óleo
diesel e a utilização de óleos vegetais.
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eucalipto, arroz, babaçu e mandioca, que, se-
gundo Anciães (1980, p. 63), “[…] é a segunda
matéria-prima em importância na obtenção do
etanol […]”. A mandioca, segundo o autor, foi
utilizada na produção de etanol nas décadas de
1930 e 1940 – em 1938, em Divinópolis, MG,
funcionava uma destilaria que utilizava essa
matéria-prima. Outras duas destilarias, no Rio de
Janeiro e em Sorocaba, SP, foram montadas, mas
não chegaram a operar. O autor também cita a
existência de uma usina em operação em Curve-
lo, MG, em 1981 “[…] considerada oficialmente
como fator de estimulo da produção de álcool
a partir da mandioca” (ANCIÃES, 1980, p. 63).
O autor ressalta que a mandioca recebeu gran-
de atenção por causa das vantagens agrícolas,
como maior tolerância à seca, poucos proble-
mas com pragas e baixo consumo de insumos
(fertilizantes).
Portanto, as altas do preço do petróleo
e seus derivados resultaram em um ambiente
favorável ao uso do etanol como substituto ener-
gético, tanto para o governo, tendo em vista o ba-
lanço de pagamentos, quanto para os usineiros,
que diante da crise do mercado internacional do
açúcar viam no combustível uma possibilidade
de garantia de renda. Assim, em 1975, é lançado
o Proálcool, sendo a cana-de-açúcar a matéria-
-prima escolhida. Shikida (1998) define esses
acontecimentos como uma ”orquestração” e
descreve que o Estado assume o papel de mi-
nimizar os riscos e vira capitalista do programa
(tomador de riscos). O autor divide o Proálcool
em três fases
12
: a) expansão moderada, de 1975
a 1979, com o governo investindo 75% do mon-
tante; b) expansão acelerada, de 1980 a 1985, na
qual o governo era responsável por 56% dos in-
vestimentos; e c) desaceleração e crise, de 1986
a 1995, com 39% de participação do capital
estatal. Segundo Melo e Fonseca (1981, p. 12),
para estimular a produção de cana-de-açúcar e
álcool a partir de 1975, o governo utilizou, como
principal instrumento, o “[…] crédito subsidiado
concedido aos projetos aprovados pelos órgãos
executivos do programa”.
Nos dois primeiros anos do Proálcool, o
incentivo foi dado ao etanol anidro, para que ele
fosse misturado à gasolina A na proporção de
20%. Em 1977, o incentivo passa a ser dado tam-
bém ao etanol hidratado. Diante da resistência
das montadoras em produzir veículos movidos a
etanol, adotou-se, como estratégia para dissemi-
nar o uso desse último combustível, a conversão
de motores a gasolina para que funcionassem
com etanol hidratado. Em 1979, ocorre um acor-
do entre representantes do governo responsáveis
pelo Proálcool e a Associação Nacional dos
Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea)
para início da produção de carros movido a eta-
nol, levando assim o programa à segunda fase
(NIGRO; SZWARC, 2010).
O acordo surtiu efeito, já que a produção
passou de pouco mais de 3.000 em 1979 para
573.000 em 1985, e no ano seguinte (1986)
ocorreu a maior produção da história do Brasil:
mais de 697 mil veículos. Consequentemente,
o incentivo à produção de etanol hidratado ge-
rou crescimento expressivo desse combustível,
atingindo na safra de 1987–1988 11,5 bilhões de
litros, enquanto a produção de anidro apresen-
tou oscilações. Assim, os dados explicam porque
essa fase foi denominada ”expansão acelerada”,
já que os incentivos incrementaram a produção
do etanol hidratado e de veículos movidos a esse
combustível.
A fase de ”desaceleração e crise” é carac-
terizada pela constância da produção de etanol
hidratado e queda da produção dos veículos a
álcool. Segundo dados da Anfavea (ASSOCIA-
ÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES DE VEÍ-
CULOS AUTOMOTORES, 2013), o primeiro ano
dessa fase, 1986, representou o auge da produ-
ção de veículos movidos a álcool (697.731), e no
último, 1995, foram produzidos apenas 40.844.
Em relação à produção do etanol hidratado, os
dados do Mapa (BRASIL, 2010) mostram que
12
Os dados referentes ao montante estatal investido são de Lopes (1996 citado por SHIKIDA, 1998).
10
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ela se manteve entre 8 e 10 bilhões de litros. Em
síntese, nota-se que a participação do Estado
foi importante para a utilização do etanol como
combustível.
O principal fator que gerou a crise foi
certamente a queda no preço do petróleo e seus
derivados. Segundo Kohlhepp (2010), o Proálco-
ol era viável com o preço do barril acima de US$
40 – em 1986, o preço caiu para US$ 13. Além
disso, a situação econômica do País motivou a
redução das subvenções para a produção de
etanol e a liberalização da exportação do açúcar.
Outro fator que contribuiu para a crise do
Proálcool foi o desabastecimento ocorrido em
1989, que afetou a confiança do consumidor.
Vian (2002, p. 101) explica que “[…] o ano de
1989 foi um divisor de águas na história do com-
plexo canavieiro […]”, já que, pela primeira vez
desde o lançamento do programa, o consumo
de álcool superou a oferta, sendo necessária a
importação de metanol para atender à demanda.
Esse desabastecimento gerou algumas
trocas de acusação entre o Estado, os usineiros e
a Petrobras. Entre as acusações
13
, Vian (2002, p.
102), referenciando-se no “discurso” de alguns
usineiros e na utilização de dados, indica que
o motivo mais coerente é que “[…] a oferta
de veículos a álcool deveria ser reduzida, pois
o setor não tinha capacidade de continuar
atendendo à crescente demanda”. Essa crise de
desabastecimento afetou, portanto, a confiança
do consumidor.
Segundo Nigro e Szwarc (2010), o proble-
ma de desabastecimento de etanol
14
, a queda
dos preços do petróleo, a deficiência da mecâ-
nica dos carros movidos a álcool e a abertura
econômica, que possibilitou a importação de
veículos (a maioria movida à gasolina), foram os
fatores responsáveis pela queda na demanda dos
carros movidos a etanol.
O licenciamento de autoveículos a álco-
ol, segundo dados da Anfavea (ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DOS FABRICANTES DE VEÍCULOS
AUTOMOTORES, 2013), representou, em mé-
dia, 93,1% dos veículos novos no quinquênio
1984–1988, mas caíram para 56,8% em 1989
e para 12,4% em 1990. O fim do subsídio ao
etanol em 1986 (IPEA, 2010; KOHLHEPP, 2010)
coincide com o início da crise definida por Shi-
kida (1998).
A tecnologia flex e a expansão
para o Centro-Oeste
Os mercados de automóveis e combus-
tíveis foram modificados a partir da introdução
da nova tecnologia flex-fuel. Essa tecnologia foi
desenvolvida nos Estados Unidos, e a primeira
montadora a apresentar veículos flex foi a Ford,
em 1984. Em 1992, a GM lançou comercialmen-
te o seu primeiro carro flex nos EUA, que possuía
“sensor capacitivo para medição do teor de
etanol no combustível”. Mesmo com problemas
relacionados à infraestrutura de abastecimento,
o incentivo fiscal e a regulamentação do governo
americano resultaram em acréscimo de venda
dos carros bicombustíveis nos EUA, que podiam
utilizar a gasolina ou o E85 (etanol anidro com
15% de gasolina) (NIGRO; SZWARC, 2010, p.
163).
No Brasil, o desenvolvimento dessa tec-
nologia remete à participação de três empresas:
Bosch, Magneti Marelli e Delphi, que estabelece-
ram parceiras com empresas automotivas para o
desenvolvimento dos motores flex. Lima (2009)
descreve cronologicamente o desenvolvimento
da tecnologia flex no Brasil. Segundo o autor, a
Bosch norte-americana tinha uma patente
15
sobre
flex fuel, de 1988, e diante da crise do Proálcool,
engenheiros da Bosch no Brasil iniciam as pes-
13
Para mais, ver Vian (2002, p. 101-102).
14
Para mais, ver Ramos (2008).
15
Lima (2009, p. 5) explica que a tecnologia flex fuel desenvolvida nos EUA não era compatível com os combustíveis nacionais e que “o
desenvolvimento da tecnologia flex fuel ‘brasileira’ foi o que causou uma verdadeira revolução no mercado nacional de automóveis”.
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11
quisas. A empresa apresentou a três montadoras
(GM, Fiat e VW) o projeto e estabeleceu parceria
com a GM, que em 1994 liberou o produto final.
Mas o sensor desenvolvido pela Bosch apresenta-
va custo elevado e inviabilizou a tecnologia. Em
1996, a Magneti Marelli iniciou pesquisas para
reduzir o custo do sensor ou para eliminar o com-
ponente. Em 1998, a Bosch lançou um protótipo
sem o sensor, e ambas as empresas apresentaram
as propostas para as montadoras, com baixa acei-
tação. No entanto, as pesquisas continuaram: a
GM em parceria com a Delphi e Bosch; Ford e
Fiat com a Magneti Marelli; e a VW trabalhou com
a Delphi, Bosch e Magneti Marelli. Um estímulo
financeiro, via tributo, ocorreu em 2002, quando
os carros flex foram enquadrados na categoria de
carros a álcool. Em abril de 2003, foi lançado o
primeiro carro flex no Brasil – Gol Total Flex 1.6,
parceria da VW com a Magneti Marelli. Em junho
de 2003, integrou o mercado de carro flex o Corsa
Flexpower, fruto da parceria entre GM e Delphi.
Gatti Junior (2010) descreve detalhadamente todo
o processo de desenvolvimento da tecnologia
flex fuel das empresas Bosch, Magneti Marelli e
Delphi no Brasil.
O pioneirismo norte-americano na tec-
nologia flex deve-se, provavelmente, a questões
relacionadas à dependência do petróleo, já que
a Ford desenvolveu a tecnologia cinco anos
depois do segundo choque do petróleo. Nessa
época, o Brasil vivia a fase de expansão do Pro-
álcool e, diante da crise do programa brasileiro,
a tecnologia flex começou a ser desenvolvida
aqui como inovação que resgataria o uso do
etanol hidratado, fato que ocorreu. Também as
questões ambientais ajudaram nessa proposta,
mesmo esse não sendo o objetivo. A tecnologia
flex teve emprego crescente, conforme a Tabe-
la 2, que apresenta dados de licenciamentos de
veículos por tipo de combustível utilizado.
Em 2003, o licenciamento de autoveículos
leves novos movidos à gasolina representou
89,2% da frota de automóveis e comerciais
leves, contra 2,8% no caso de veículos flex. A
inversão ocorreu em 2005, quando os veículos
flex representaram 50,2% dos licenciamentos,
percentual que subiu para 87% em 2012. Esses
números demonstram o mercado potencial para
o etanol, retratando o efeito da tecnologia flex
sobre o setor sucroenergético.
A tecnologia flex desenvolvida no Brasil
permite que o consumidor opte pelo uso da ga-
solina ou do etanol, ou pela mistura de ambos, e
um dos determinantes da escolha é o preço rela-
tivo dos combustíveis: para ser economicamente
viável, o preço do litro do etanol hidratado não
pode ser superior a 70% do preço do litro da
gasolina. Considerando essa relação, o etanol
ficou economicamente viável em vários meses
em alguns estados, mas essa vantagem diminuiu
recentemente, principalmente depois de 2009,
por fatores que afetaram a oferta do combustí-
vel. Essa questão, discutida no decorrer do texto,
afetou a participação das vendas de automóveis
flex, sendo observado aumento das vendas de
veículos à gasolina entre 2009 e 2011 e pequena
queda nas vendas dos flex em 2011, fato inédito
desde o lançamento da tecnologia.
A expansão da produção de cana-de-açúcar
no Centro-Oeste foi um fator resultante do uso do
etanol nos veículos flex no País. Economicamente,
por causa dos custos com transporte (logística e
armazenagem), é desejável que a produção esteja
localizada próxima do mercado consumidor. Nes-
se contexto, Castro et al. (2010) explica que os três
Tabela 2. Licenciamento de carros autoveículos le-
ves novos, por tipo de combustível, de 2003 a 2012.
Ano
Gasolina
Flex fuel
2003
1.152.463
48.178
2004
1.077.945
328.379
2005
697.033
812.104
2006
316.561
1.430.334
2007
245.660
2.003.090
2008
217.021
2.329.247
2009
221.732
2.652.298
2010
280.724
2.876.173
2011
376.804
2.848.271
2012
273.922
3.162.939
Fonte: elaborado com base nos dados da Associação Nacional dos
Fabricantes de Veículos Automotores (2013).
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Ano XXIII – N
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4 – Out./Nov./Dez. 2014
estados do Centro-Oeste não foram contemplados
pelo Proálcool por estarem distante dos mais im-
portantes centros consumidores, além de possuir
menor aptidão agrícola na época.
Mas, diferentemente da participação no
lançamento do Proálcool, quando foi pratica-
mente ignorado pelo programa, por motivos
já apresentados, o Centro-Oeste teve papel de
destaque no contexto do segundo grande incen-
tivo ao etanol no País decorrente da tecnologia
flex – a região é a principal fronteira de expansão
dos canaviais. Com base em dados de produção
de cana-de-açúcar divulgados pela União da
Indústria de Cana-de-Açúcar (2013e), observa-se
que o Sudeste é o grande produtor de cana-
-de-açúcar do Brasil e a região que apresentou
maior aumento de produção depois de 2003. O
Nordeste ocupava o segundo lugar, posto que
perdeu para o Centro-Oeste depois da safra de
2009–2010 – o Centro-Oeste participou com
10,1% da produção de cana-de-açúcar no Bra-
sil na safra de 2003–2004 e com 16,5% na de
2011–2012.
Na Figura 1, que mostra a participação dos
estados do Centro-Oeste, pode-se observar que
a produção dos três era praticamente inexpres-
siva até a safra de 1983–1984, mas apresentou
crescimento constante até a safra de 2006–2007,
quando o crescimento em Goiás e Mato Grosso
do Sul foi expressivo – Mato Grosso continuou
com taxas de crescimento semelhantes ao longo
dos anos. No entanto, houve queda de produ-
ção na última safra (2011–2012) de Goiás e Mato
Grosso do Sul e instabilidade na produção de
Mato Grosso a partir da safra 2009–2010.
Shikida (2013) analisou a expansão cana-
vieira no Centro-Oeste com o objetivo de ca-
racterizar os principais limites e potencialidades.
O autor cita que os determinantes da expansão
na região são a busca de energia sustentável, no
caso do etanol, e por segurança alimentar, no
caso do açúcar, além da elevação do preço da
terra no Estado de São Paulo. Comenta, ainda, a
decadência de regiões tradicionais do Nordeste,
além das perspectivas de melhorias logísticas.
Em relação às limitações, o autor cita o cenário
de instabilidade do etanol, a ineficiência de
escoamento da produção baseada no modal
rodoviário e a pouca tradição do setor na região,
que resultam em maiores custos para o processo
de aprendizagem.
Figura 1. Produção de etanol no Centro-Oeste, em bilhões de litros, de 1980–1981 a 2011–2012,
Fonte: elaborado com base nos dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (2013c).
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Cenário recente do etanol no Brasil
Depois da análise da história do etanol no
Brasil, discute-se o cenário recente desse bio-
combustível: os motivos da crise do setor a partir
de 2008 e os aspectos relacionados à produção
de etanol, enquadrando-a em fases.
Os motivos da crise e as
incertezas com o etanol
Os motivos que levaram à crise o setor
sucroenergético depois de 2008 podem ser
divididos em três grupos: financeiro, agronômi-
co e mercado. Ressalta-se que a crise veio em
um momento de euforia em relação ao etanol
hidratado, iniciado em 2003: carros flex repre-
sentando 87% das vendas, consumo de etanol
hidratado ultrapassando o de gasolina e aumen-
to das exportações.
Financeiro
A crise deflagrada no segundo semestre
de 2008, que se iniciou com o aumento das
taxas de juros nos EUA em 2004 e causou
grande inadimplência no mercado imobiliário
norte-americano, gerou desconfiança do sistema
financeiro (TORQUATO; BINI, 2009).
Atitudes oportunistas e de especulação
passaram a fazer parte do cotidiano das empre-
sas emergentes e com fragilidades de mercado,
como algumas empresas do setor sucroener-
gético (TORQUATO; BINI, 2009). Mas por que
algumas empresas estavam frágeis?
Milanez et al. (2012) descrevem que o
crescimento do setor sucroenergético de 2003
até a safra de 2008–2009 só foi possível pelo
aumento das dívidas dos grupos econômicos
que operavam no setor. Mas o crescente nível
de alavancagem e o período necessário para
a maturação dos investimentos resultaram em
um cenário negativo para a aquisição de novos
débitos. Assim, a situação piorou com a crise
internacional de 2009, já que os agentes finan-
ceiros retraíram o crédito às empresas do setor,
inclusive o referente ao capital de giro, dada a
maior aversão ao risco do setor privado. Durante
a safra, a ausência de capital de giro fez com que
as empresas acelerassem as vendas de etanol,
deprimindo fortemente os preços e deteriorando
ainda mais a capacidade de investimento do
setor.
Torquato e Bini (2009, p. 2) fazem uma
análise semelhante, acrescentando que até 2006
a demanda pelo etanol gerou retornos oriundos
do mercado interno e que em 2007 e 2008 gran-
des investimentos em usinas e canaviais foram
feitos com base nas expectativas de consolida-
ção do mercado internacional de etanol, fato
que não se concretizou. Consequentemente,
diante da projeção irreal da demanda de açúcar
e etanol, do erro nas interpretações dos sinais do
mercado e das dificuldades em saldar as dívidas,
os preços foram afetados. Segundo os autores
[…] a retração ou paralisação dos fluxos de in-
vestimentos estrangeiros no setor não aconte-
ce somente devido à crise financeira agravada
no atual momento, mas sim é acentuada por
ela (TORQUATO; BINI, 2009, p. 2).
Entre os efeitos da crise, relativos ao setor
investimento/financeiro, dois pontos merecem
destaque. Primeiramente, segundo Alexandre
Figliolino, diretor comercial de açúcar e etanol
do Itaú BBA, houve aumento do endividamento
em R$ 5 bilhões na safra 2011–2012. Esse valor
foi apresentado em reunião no Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)
em 17 de agosto de 2012 (FIGLIOLINO, 2012b).
Em entrevista, o diretor ressalta que a dívida lí-
quida do setor alcançou R$ 48 bilhões por causa
do aumento dos investimentos em mecanização
e recuperação de canaviais, da quebra da safra
de cana e da falta de competitividade do etanol.
O diretor divide os 64 grupos do setor (região
Centro-Sul) em quatro: os com pleno acesso ao
capital, representando 36%; os nacionais com
excelente performance e endividamento ade-
quado (29%); os em recuperação, com elevada
alavancagem (16%); e os que precisam passar
por processo de fusão ou aquisição (18%) (FI-
GLIOLINO, 2012a).
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Ano XXIII – N
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O outro efeito foi a intensificação do
processo de fusão e aquisição no setor por
causa da queda dos preços dos ativos. Grandes
grupos econômicos, principalmente petroleiras
e tranding companies, optaram pela aquisição
(ou fusão) de empresas estabelecidas em vez de
construir novas. Entre 2006 e 2008, a construção
de novas unidades eram investimentos mais atra-
tivos, mas de 2009 a 2011 as fusões e aquisições
prevaleceram. Esses investimentos se concentra-
ram em usinas paulistas que tinham condições
de construir fabricas de açúcar (MILANEZ et al.,
2012).
Consequentemente, a concentração no
setor aumentou. Dados da apresentação de Ale-
xandre Figliolino feita no Mapa (FIGLIOLINO,
2012b) mostraram que a concentração, por ca-
pacidade de moagem, passou de 30% na safra
de 2005–2006 para 43% na de 2010–2011. Ou-
tro efeito da crise sobre as usinas é relatado pela
consultoria Datagro (2012), citado por Sociedade
Nacional de Agricultura (2013), que estimou
um número de 41 não operantes na safra de
2012–2013, sendo 36 na região Centro-Sul.
A falta de investimentos também afetou a
produção agrícola, além de outros fatores.
Agronômico
Antes de analisar como a falta de investi-
mentos afetou a produção agrícola, é necessário
enfatizar dois pontos importantes sobre a pro-
dução da cana-de-açúcar: a sazonalidade e o
clima.
O ano-safra da cana-de-açúcar no Centro-
-Sul compreende o período de abril a março, mas
a colheita se concentra de abril a dezembro; no
Norte-Nordeste, o ano-safra, para os principais
produtores, inicia-se em setembro e termina em
agosto – a colheita é de setembro a março.
Além da sazonalidade da produção da
matéria-prima, problemas de clima afetaram os
canaviais nas últimas safras. Os levantamentos
das safras de cana-de-açúcar da Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab) relativos
aos períodos 2010–2011 e 2011–2012 permitem
fazer inferências sobre problemas gerados por
fatores climáticos, como chuva em excesso –
citam o clima como o principal fator que afeta
a produtividade. Em números, o secretário de
produção e agroenergia, Manoel Bertone
16
, do
Mapa, afirmou que houve perda de 60 milhões
de toneladas de cana na safra de 2011–2012
decorrente do clima adverso.
Em relação aos efeitos da falta de inves-
timentos na área agrícola, a renovação dos
canaviais pode ser considerada o principal. No
primeiro levantamento da safra de 2011–2012,
divulgado em maio de 2011, a Conab identificou
um problema na renovação dos canaviais. A
previsão de renovação foi de 801 mil hectares,
mas, pelas estimativas do órgão, seria neces-
sário renovar 1.407 mil hectares. Um canavial
renovado produz 115 t/ha contra 55 t/ha de
um canavial no sexto corte. Como são 606 mil
hectares não foram renovados, e cada hectare
deixou de produzir 60 t, o resultado final é uma
perda de 36.360 mil toneladas, o que é bastante
significativo segundo Manoel Bertone (CONAB,
2013). O documento afirma que o motivo da não
renovação dos canaviais foi a falta de recursos
financeiros.
Cabe ressaltar que depois dessa constata-
ção da Conab o governo incluiu no lançamento
do Plano Agrícola e Pecuário 2011–2012
17
uma
linha de crédito para expansão e renovação
dos canaviais, como parte de um conjunto de
políticas públicas para a expansão produtiva, o
que permitiria aumentar a produção e, conse-
quentemente, a estabilização da oferta de etanol
(BRASIL, 2011a). Para atingir esse objetivo, uma
das principais medidas foi o financiamento de
até R$ 1 milhão pelo crédito rural para implan-
tação ou renovação de canaviais, com prazo de
pagamento de cinco anos – com até 18 meses de
carência (BRASIL, 2011a).
16
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