COAGULOPATIAS
Algumas alterações hemorrágias são produzidas por deficiência de determinadas proteinas (fatores)
que constituem o sistema de coagulação. As deficiências dos fatores de coagulação (coagulopatias) podem
ser hereditárias ou adquiridas. Dentre as coagulopatias hereditárias destacam‐se as hemofilias e a doença
de Von Willebrand. As coagulopatias adquiridas podem ser devidas a diversas causas, inclusive doenças
hepáticas graves.
HEMOFILIAS
Modernamente consideram‐se três tipos de hemofilia, denominados respectivamente hemofilia A,
hemofilia B e hemofilia C.
A hemofilia é uma coagulopatia congênita causada por alterações ligadas ao cromossoma X, de
caráter recessivo. A hemofilia "A" é devida a uma deficiência da atividade hemostática do fator VIII
(representa 80% dos casos), enquanto que a hemofilia "B" está ligada à uma deficiência do fator IX. Outro
tipo, como a hemofilia "C", decorre de deficiência do fator XI da coagulação sanguínea.
A hemofilia é conhecida desde os tempos bíblicos, como uma doença que ocorre em famílias. Os
homens com hemofilia tendem a ter parentes do sexo masculino com a mesma doença, habitualmente
originada na parte materna da família. Apesar desse reconhecimento, o modo de transmissão da hemofilia
dentre os membros de uma mesma família apenas foi esclarecido no século XX.
Os genes existem nos cromossomas. Cada célula contém 23 pares de cromossomas. Cada progenitor
transmite metade de cada par de cromossomas ao seu descendente. Assim, cada um de nós recebe metade
de cada par de cromossomas do nosso pai e metade de cada par de cromossomas da nossa mãe. Um par
destes cromossomas de termina o sexo dos descendentes. Os indivíduos do sexo feminino têm dois
cromossomas denominados X, enquanto os indivíduos do sexo masculino têm um cromossoma X e um
cromossoma Y.
Os genes responsáveis pela produção dos fatores VIII e IX estão localizados no cromossoma X e por
essa razão, a hemofilia também é chamada de doença ligada ao cromossoma X.
A hemofilia é mais comum nos homens porque o sexo masculino tem apenas um cromossoma X. A
hemofilia habitualmente não é observada nas mulheres porque o sexo feminino tem dois cromossomas X e
um deles pode mascarar o problema existente no outro (um cromossoma X é sadio). Diz‐se que a hemofilia
tem caráter “recessivo” e, desse modo, a presença de apenas um cromossoma X geneticamente alterado
pode transmitir a doença. As mulheres são portadoras do gene alterado no seu cromossoma X, mas
raramente apresentam a doença. O sexo feminino é portador, enquanto o sexo masculino apresenta a
doença na sua plenitude.
A mulher portadora de hemofilia tem o cromossoma XhX (h representa o gene deficiente que produz
a hemofilia). O cromossoma X tem o gene normal e não permite o aparecimento da doença. Ao transmitir o
cromossoma X a mulher gera filhos normais, enquanto ao transmitir o cromossoma Xh a mulher transmitirá
a doença hemofilia aos filhos homens que, por terem apenas um cromossoma X (o outro é Y), não tem a
possibilidade de receber um gene sadio capaz de mascarar a presença do gene deficiente. Uma mulher que
possua a combinação XhXh apresentará a doença hemofilia, além de transmiti‐la aos seus descendentes.
Essa avaliação da transmissão genética da hemofilia nos permite dizer que quase todos os pacientes
hemofílicos são do sexo masculino; a hemofilia pode representar uma nova mutação no homem afetado; um
homem com hemofilia não transmite o traço hemofílico aos seus filhos; todas as filhas de um homem
hemofílico serão carreadoras do gene da hemofilia; uma mulher carreadora do gene deficiente irá transmiti‐
lo aos filhos em 50% dos casos.
A tabela abaixo lista as principais características dos 3 tipos de hemofilia:
A principal característica clínica da hemofilia é a tendência ao sangramento. São comuns os
hematomas e as hemorragias intra‐articulares (hemartroses) que podem ser deformantes e incapacitantes.
Procedimentos cirúrgicos, mesmo de pequeno porte, podem desencadear hemorragias severas que
necessitem internação hospitalar e transfusão de sangue para repor as perdas agudas.
O tratamento dos pacientes hemofílicos consiste na administração do fator de coagulação deficiente
(crioprecipitados), quando há hemorragias. Os procedimentos cirúrgicos nos hemofílicos, quando
necessários, exigem meticulosa preparação, para evitar hemorragias severas.
A aplicação de gelo no local do sangramentos, auxilia o seu controle. Os hematomas musculares e a
hemorragia intra‐articular são tratados pela administração dos fatores de coagulação. Estão contra‐indicados
o calor local, as injeções intramusculares e certos medicamentos, como aspirina ou outros antiinflamatórios
com ação antiplaquetária.
Os antifibrinolíticos podem ser usados para estabilizar os coágulos formados e inibir a sua lise, como
um complemento do tratamento das alterações hemorrágicas.
Há uma série de estudos de aperfeiçoamento genético que procuram terapias definitivas para as
hemofilias.
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