Edição 10 – Dezembro de 2015
ETANOL DE BETERRABA
MARTINS, Rhodiney Vaz
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Resumo
O etanol é conhecido há muito tempo, sendo, talvez, o mais antigo produto obtido pela
biotecnologia tradicional. Em suas aplicações incluem-se o álcool potável, químico e combustível.
De fato, carros abastecidos com etanol foram planejados a décadas, entretanto, no século 20, os
combustíveis derivados de petróleo, chamados "combustíveis fósseis", apareceram e rapidamente
dominaram o mercado. O etanol atualmente tem sido considerado como um combustível viável,
antigamente ele não era considerado viável pelo baixo preço da gasolina. Com o passar dos anos e
principalmente com a crise do petróleo de 1970, o etanol começou a ganhar espaço no cenário
mundial, como um combustível alternativo a gasolina. O presente artigo traça a trajetória deste
importante produto, destacando a importância da beterraba, para a produção desta, pois esta contém
uma quantidade considerável de carboidratos – açúcares, para a produção de álcool, também possui
um volume de produção, rendimento e custo significativos, o que gera um produto viável para a
produção do etanol.
Palavras chave: Etanol – Beterraba – Biomassa – Biocombustíveis.
Abstract
Ethanol is known for a long time, and perhaps the oldest product obtained by traditional
biotechnology. In their applications include potable alcohol, chemicals and fuel. Indeed, cars fueled
with ethanol were designed decades, however, in the 20th century, petroleum-based fuels, called
"fossil fuels", appeared and quickly dominated the market. Ethanol has currently been considered as
a viable fuel, formerly it was not considered feasible by the low price of gasoline. Over the years,
particularly with the 1970 oil crisis, ethanol began to gain ground on the world stage as an
alternative fuel to gasoline. This article traces the history of this important product, highlighting the
importance of beet for the production of this, as it contains a considerable amount of carbohydrates
- sugars for the production of alcohol, also has a volume of production, income and significant cost,
which causes a viable product for the production of ethanol.
Keywords: Ethanol - Beet - Biomass - Biofuels.
INTRODUÇÃO: O FIM DA ERA DO PETRÓLEO FÁCIL
O petróleo trouxe evolução a humanidade, desde a antiguidade, e atualmente a principal
fonte energia usado no planeta. Na matriz energética mundial o petróleo e seus derivados
respondem por 85% da energia consumida mundialmente, o que causa uma grande dependência ao
petróleo. O petróleo se apresenta ao cenário mundial como um item econômico e estratégico.
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Energia, Universidade Federal do ABC. E-mail:
rvmvaz@hotmail.com
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Econômico como matéria prima indispensável ao setor industrial, gerando assim recursos ao
mercado de capitais, cujo principal objetivo é o lucro. No setor estratégico o petróleo é um recurso
não renovável, tem em poucas partes do planeta, sendo considerado um item de segurança nacional
de todos os Estados. A valorização do petróleo traz implicações no cenário geopolítico
internacional, que podem causar conflitos interestatais, para ter acesso direto às reservas de petróleo
(FUSER,2013)
As várias teorias do pico da produção do petróleo, a que ficou mais famosa foi a de Hubbert,
1974. O declínio da produção nos poços que são explorados atualmente e com a queda nos ritmos
das descobertas, que tem sido confirmados nos relatórios da Agencia Internacional de Energia e
demais pesquisas, nos alertam para o pico do petróleo. O mundo hoje conta com 116 campos
gigantes de petróleo, cada um deles produz mais de 100 mil barris por dia, na sua maioria
apresentam sinais de declínio de produção. Temos também Fatih Birol em entrevista ao jornal The
Independent, diz: “O mundo terá de encontrar seis novas Arábias Sauditas para dar conta da
demanda esperada até 2030, ou quatro, apenas para atender a demanda atual”. Na sociedade atual
temos um consenso que se mantendo o ritmo atual de consumo, que tem hoje um consumo de 90
milhões de barris por dia, e com previsão de 99 milhões de barris ao dia em 2030, o petróleo poderá
chegar ao seu fim em torno de 50 anos, como afirma Soetaert e Vandamme, 2007.
Esses relatos com relação ao temido pico do petróleo, e principalmente com relação às crises
do petróleo, liderada pela OPEP, onde demonstrou a grande dependência mundial com relação ao
petróleo, mostra que a obtenção desse energético esta cada vez mais difícil, seja pelo seu acesso
político (guerras) ou pelo acesso físico, como exemplo o petróleo extraído a km de profundidade no
mar. Estamos vivendo o fim da era do petróleo fácil, as áreas de fácil acesso, ou seja, onde os custos
de produção de petróleo são baixos, praticamente já estão todas mapeadas, restando nos dias atuais
a exploração muito mais arriscadas, a exploração em alto mar, locais perigosos, e ambientalmente
sensíveis, como por exemplo as explorações no Ártico, no Alaska (FUSER, 2013).Temos que
lembrar que o petróleo não precisa ser totalmente esgotado, mas simplesmente começar a decair a
sua produção, para que se tenha uma crise mundial tanto energética como econômica mundial sem
precedente.
Portanto, temos que encontrar fontes alternativas ao petróleo, uma fonte primaria de energia
que possa fazer frente ao petróleo. Essa nova busca por alternativas marcaram as mudanças na
matriz energética mundial, onde podemos destacar a energia nuclear, hidrelétrica, lenha e carvão
vegetal, derivados de cana-de-açúcar e biocombustíveis. As energias alternativas se pode dizer que
a sua maioria são renováveis, mas temos que tomar cuidado com a ideia de renovável, que não
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significa totalmente limpa, todos os tipos de energia tem seu impacto considerado, afetando seu
entorno social e natural.
1. ETANOL UMA ALTERNATIVA VIÁVEL
A busca por alternativas ao petróleo tem como estudo a aplicação do etanol, estudo esse que
começou com Samuel Morey em 1826, quando ele fez o protótipo do motor de combustão interna
nos Estados Unidos, seguido por Henry Ford em 1925, que utilizou o etanol como combustível
automotriz (MINTEER, 2006). Na Europa, mais precisamente na Alemanha, o etanol era utilizado
para mover locomotivas e os motores de combustão interna alimentados por este eram bastante
apreciados, devido ao menor desgaste, menor poluição e por serem mais silenciosos, assim o etanol
passou a funcionar como anti-detonante, graças ao nível de octano médio de 99 face aos 88 da
gasolina (GNANSOUNOU, 2009), substituindo assim o tóxico tetraetilo de chumbo.
No Brasil o etanol passou ser testado em 1933 no setor de transporte, principalmente após a
fundação do Instituto do Açúcar e do Álcool, durante a ditadura militar de Getúlio Vargas
(BODDEY et al., 2008). Durante a crise petrolífera em 1973, foi criado um programa nacional para
a produção de bioetanol, chamado de Proálcool, com o intuito de alimentar veículos movidos
exclusivamente a etanol e ajudar a diminuir a dependência do país de petróleo externo, que nessa
época contabilizava 72 % do consumo interno de petróleo (BODDEY et al., 2008). A produção de
bioetanol passou de 500.000 l/ano para 3,4x1012 l/ano, entre 1975 e 1980 (BODDEY et al., 2008),
tendo assim um aumento considerável na produção de cana-de-açúcar.
Essa busca tornou o etanol o biocombustível liquido mais produzido atualmente, dado no
Brasil e nos E.U.A, tendo vastos programas de subsídios para a produção de etanol, como substituto
ou aditivo a gasolina para veículos, assim E.U.A e Brasil produzem 75% do bioetanol no mundo
(IEA, 2010). Também temos como destaque a Índia, sendo o segundo maior produtor mundial de
cana de açúcar, vem crescendo como produtor de bioetanol. No ano de 2009 chegaram a ser
produzidos 1112Kb/d de biocombustíveis, dentre os quais 75% foi de etanol (IEA, 2010). Na tabela
abaixo mostra a produção de etanol e biodiesel no mundo.
TABELA 1. Produção de biocombustíveis em 2009 por país (IEA, 2010)
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Atualmente, aproximadamente 95% da produção mundial de etanol vêm da cana
‐de-açúcar e
do milho (WALTER e ENSINAS, 2010). Como podemos ver na tabela os Estados Unidos é o
maior produtor mundial de etanol com aproximadamente 50 bilhões de litros produzidos na safra
2010/2011 (NASTARI, 2012) basicamente derivado de milho, enquanto o Brasil é o maior produtor
no mundo de etanol de cana
‐de‐açúcar com aproximadamente 27 bilhões de litros produzidos na
safra 2010/2011, (MDIC, 2012).
A produção tende a crescer nos próximos anos devido ao grande interesse que muitos países
passaram a ter pelos biocombustíveis, especialmente por três fatores principais: preocupações
ambientais (redução de emissões de gases de efeito estufa e da poluição das grandes cidades),
segurança energética (diversificação da matriz energética e redução da dependência em relação aos
combustíveis fósseis) e incentivo à agricultura (LEITE, et al. 2009). No gráfico abaixo podemos
observar a evolução da produção mundial de biocombustíveis na ultima década, com destaque para
o Brasil e E.U.A.
Gráfico 1. Evolução na produção mundial de biocombustíveis na ultima década (IEA,2010)
Nos motores a combustão com etanol, motivou a grande expansão do bioetanol produzido a
partir da cana de açúcar no Brasil. Nos anos 90, cerca de 4,5 milhões de veículos movidos a 93 %
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etanol (7 % gasolina) circulavam no Brasil (DAVIS, 2006). Também na Suécia e Estados Unidos se
desenvolveu este tipo de veículos, permitindo ao etanol competir diretamente com a gasolina
(GNANSOUNOU, 2009). Outra grande vantagem do etanol é poder ser misturado à gasolina em até
25%, sem que o motor precise sofrer alterações.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 O ETANOL
O homem aprendeu a controlar o processo de fermentação de hidratos de carbono simples,
principalmente o açúcar presente na fruta, para produzir bebidas espirituosas. Temos provas de que
o álcool é tão antigo como os encontrados na aldeia de Jiahu, na província de Henan na China,
mostram assim que o etanol já era obtido, com a fermentação de uma mistura de arroz, fruta e mel
(OLAH et al., 2010), há cerca de 9000 anos atrás. A sua composição química é C
2
H
5
OH, onde é
utilizado em produtos de limpeza, bebidas alcoólicas, perfumes, entre outros produtos do nosso dia-
a-dia. Entre as principais características destacam-se ser incolor, ponto de fusão aos -114,3 °C e o
ponto de ebulição aos 78,4 °C, a massa volumétrica é de 790 kg/m3 (mais leve do que a água) e é
higroscópico, o que limita a sua exposição a água. É menos tóxico que o metanol (MINTEER,
2006), o que possibilita a sua utilização numa miríade de produtos que entram em contato direto
com seres vivos e representa menor perigo em caso de derrame acidental no ambiente.
O álcool tem concentração em misturas combustíveis varia entre 5 % (E5) e 100 % (E100),
sendo as mais comuns a E10 (Estados Unidos, Canadá, Austrália, China, entre outros) e a E85
(Canadá, Suécia); no Brasil são comuns a mistura de 24 % etanol e 76 % gasolina e o E100
(GUPTA e DEMIRBAS,2010). Com Concentrações superiores a 10 % implicam alterações no
motor Otto, motor utilizado nos carros atualmente, caso contrário anteveem-se perdas de
performance e menor rendimento. Podemos obter o etanol em diferentes culturas energéticas, sendo
o milho nos E.U.A, e a cana-de-açúcar no Brasil. Em 2003, mais de 60 % do etanol produzido
mundialmente teve origem em culturas de açucareiras, maioritariamente cana e beterraba sacarina, e
o restante produzido a partir de cereais, com o milho a encabeçar a lista (EL BASSAM,2010).
Na fermentação de açúcares, temos três passos: primeiro: A extração do açúcar sob a forma
de solução líquida; Segundo : A fermentação do açúcar por parte das leveduras; e por fim a
Destilação do etanol visando a sua purificação, geralmente a 95,5 % (etanol hidratado, com 4,5 %
de água) ou 99,6 % (etanol desidratado ou puro, com 0,4 % de água) (DERMIRBAS,2007). Assim
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nem todos os autores se referem a estas misturas de etanol com água e impurezas nestas mesmas
proporções, assim neste texto aparecerem valores entre 95 % ou 96 % para o etanol hidratado e
valores entre 99 % e 100 % para o etanol desidratado. No caso da atividade das leveduras resultam
etanol e dióxido de carbono, Figura 1. No segundo pode ser considerado desperdício ou então ser
capturado e vendido para gasificação de bebidas ou processos industriais, sendo um co-produto que
poderá aumentar a rentabilidade do processo industrial (por exemplo, no processo de soldadura
serve de atmosfera protetora para não ocorrer oxidação do metal fundido).
Figura 1. Esquema fermentação (GUPTA e DEMIRBAS, 2010)
A destilação do etanol é um passo comum a todos os processos tecnológicos de conversão
de culturas energéticas ou biomassa celulósica em etanol e é também energeticamente voraz
(GUPTA e DEMIRBAS,2010). A mistura de etanol e água é destilada até se obter etanol hidratado
com 5 % de água, sendo necessárias cerca de 3 destilações para passar da concentração de 10 %
(v/v) de etanol para 95 % (v/v) (PIMENTEL e PATZEK,2005). A fatia energética do
processamento tecnológico das matérias-primas varia entre 46 % e 85 %, dos quais entre 29 % e 55
% são consumidos na destilação, comprometendo o retorno energético que seria possível obter não
fora o baixo rendimento das soluções tecnológicas implementadas na maioria das refinarias de
etanol.
2.2 Beterraba
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A beterraba, hortaliça pertencente a família chenopodiaceae , é nativa da Europa, norte da
África e Oeste da Ásia. Tem seu maior cultivo em países de clima temperado, sendo que no Brasil
seu cultivo concentra-se em São Paulo, Minas Gerais e nos Estados do Sul. A cultura da beterraba é
mais adaptada ao clima ameno com temperatura media entre 15ºC a 18ºC, tolerando variações de
4ºC a 24ºC (Embrapa, 2010). Em temperaturas altas as raízes apresentam, em secção transversal,
anéis de cor clara alternadas com anéis de coloração violeta escuro, o que é considerado como
demérito da qualidade.
As raízes da beterraba são de grande importância econômica devido ao seu alto valor
nutritivo e industrial, tendo também um destaque para a produção de etanol na Europa, sendo uma
planta de fácil cultivo. A propagação se faz diretamente pela semente, podendo-se transplantar
(EMBRAPA, 2010). Os melhores solos para o cultivo da beterraba são os profundos, bem drenados
soltos e com alto teor de matéria orgânica. É uma hortaliça sensível a acidez, devendo o solo
apresentar pH de 6 a 7.
Na Europa o cultivo da beterraba é uma fonte importante de açúcar, contribuindo para 30%
da produção mundial. No ano 2008, a União Europeia (EU) contabilizou a produção de mais
101.777.949 t de beterraba, de acordo com dados da FAO (2010). A sua produção avultada na
Europa deve-se ao fato de esta cultura se desenvolver em climas temperados, sendo o seu principal
produtor a França com 29 t, seguida de perto pela Alemanha com 25 t, os Estados Unidos também
com 25 t e a Rússia com 22 t, sendo os restantes 10 maiores produtores a nível mundial do ano 2005
todos Europeus (EL BASSAM,2010). Na figura 2, temos a foto de uma beterraba.
Figura 2. Beterraba sacarina (SALEM NEWS, 2010)
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Na figura 3, podemos notar a maior concentração de produtores de beterraba no hemisfério
norte, sobretudo na Europa, onde o clima é mais propicio para a cultura da beterraba, onde a
extração de sacarose é destinada a indústria açucareira e para a produção de etanol.
Figura 3. Distribuição mundial da produção de beterraba sacarina. (SALEM NEWS, 2010)
O trabalho tem como objetivo mostrar o processo de etanol a partir da beterraba, sua
viabilidade econômica como ambiental, demonstrando assim que a beterraba é mais uma alternativa
de energia renovável aos combustíveis fósseis.
3. A PRODUÇÃO DE ETANOL A PARTIR DA BETERRABA
Para a produção de etanol de Beterraba temos toda uma preparação no solo, e ter um clima
próprio para seu cultivo. No caso do solo, este deve ser pouco compacto, nem ser pedregoso e não
ser alcalino, nem conter grande quantidade de água. As necessidades nutritivas da beterraba são
avultadas, pelo que é aconselhável proceder a uma análise prévia das características do solo, para
que não sejam gastos fertilizantes em quantias desnecessárias ou insuficientes; no caso de não ser
feita esta análise, as quantidades aconselháveis dos três principais nutrientes como fósforo, potássio
e azoto (EL BASSAM,2010).
Tanto no seu cultivo, como na sua colheita, existem gastos energéticos atreitos à maquinaria
necessária para limpar o terreno, arar a terra, plantar semente, colocar fertilizantes, pulverizar
pesticidas e herbicidas e colher a beterraba. Destas operações, uma das que mais contribui para o
consumo energético é a colheita. Esta é feita recorrendo a colhedeiras mecânicas que cortam a coroa
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de folhas, retiram a raiz do solo e agitam-na para retirar a maior parte da terra agarrada. A função de
cortar a coroa de folhas não é executada por colhedeiras mais antigas, pelo que é necessário fazer
uma passagem prévia com um cortador, implicando maior gasto energético. Após esta operação, a
colhedeira coloca a beterraba no solo para ser apanhada por um camião ou envia diretamente a
beterraba para o caminhão, através de um tapete transportador na lateral da colhedeira, sendo depois
transportada para a fábrica de etanol. Devido ao grande peso e volume das raízes, as distâncias
percorridas pelos veículos transportadores são minimizadas, pelo que as fábricas são erguidas nas
imediações da plantação e esta, por sua vez, de grandes centros urbanos, que fornecem a mão-de-
obra necessária. O transporte da beterraba existe ainda o fato de a beterraba ser uma cultura
rotacional, o que implica que a área ocupada seja superior à utilizada na monocultura e as distâncias
envolvidas sejam superiores (EL BASSAM, 2010).
Na figura 4 abaixo podemos observar uma colheitadeira e um caminhão na colheita da
beterraba.
Figura 4. Colheitadeira de beterraba acompanhada de um caminhão que recolhe a
beterraba (Coloradoguy.com, 2008)
Depois do carregamento ser depositado e pesado na entrada da fábrica, as beterrabas são
lavadas para retirar a terra remanescente. Concluída a lavagem, são cortadas em palitos para desta
forma aumentar a superfície de extração da sacarose (EL BASSAM, 2010). Em seguida, os palitos
são enviados para um difusor, ou seja, um tanque onde beterraba e água quente circulam em
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contracorrente, aumentando o tempo de contato e, consequentemente, a concentração de açúcar na
solução aquosa resultante. À saída do difusor a beterraba contém um teor de umidade da ordem dos
95 %, pelo que é depois prensada até atingir 75 % de umidade, o que permite extrair parte do açúcar
ainda residente nos palitos. O líquido extraído é adicionado à restante solução açucarada e os palitos
são utilizados para formar peletes, que servem de forragem para gado e constituem uma fonte de
rendimento complementar no processo de conversão de beterraba em etanol.
O sumo de beterraba que sai do difusor é então submetido ao processo de evaporação para
aumentar a sua concentração em açúcar, formando um xarope espesso. Este xarope é fermentado e
origina dois produtos após centrifugação: o caldo fermentado, que constitui a fase líquida e onde se
encontra o etanol, e as leveduras responsáveis pela fermentação, que são novamente introduzidas no
tanque de fermentação, reciclando material e diminuindo o consumo energético do processo. Na
figura 5, abaixo, mostra o fluxograma do processo de conversão da beterraba em etanol.
Figura 5 . Esquema do processo de conversão da beterraba em etanol (SANTEK et al.,2010)
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Os principais passos consumidores de energia no processamento da beterraba em etanol são:
extração de açúcar dos palitos de beterraba (difusão), concentração por evaporação do sumo de
beterraba, destilação do etanol e secagem da polpa de beterraba para formação de peletes (SANTEK
et al., 2010). O processo de destilação de etanol obtido a partir de beterraba sacarina consome
aproximadamente 21 % a 24 % do total de entradas energéticas no percurso total de produção e
representa aproximadamente 29 % da energia gasta no processamento industrial da beterraba. O
processamento tecnológico representa entre 72 % e 83 % da energia gasta no percurso desde a
beterraba até ao etanol.
Apesar do apetite energético característico desta cultura, a beterraba apresenta, porém,
grandes vantagens face a outras culturas. Um dos atrativos da beterraba sacarina é a generosa
produção de etanol por hectare de terreno agrícola, cerca de 70 t/ha, com isso verifica-se que a
beterraba apresenta o maior rendimento de etanol por hectare, dentre as principais fontes de
bioetanol: milho, cana-de-açúcar e beterraba, como podemos notar na figura 6.
Figura 6. Produção de etanol por hectare de terreno agrícola ( El Bassam,2010 )
A grande vantagem da beterraba é o aproveitamento dos produtos secundários obtidos durante
o seu processamento. Um dos produtos é a polpa de beterraba prensada em peletes e enriquecida
com melaço, como já foi mencionado. As peletes de beterraba são principalmente utilizadas como
forragem para gado bovino, suíno e equino, devido ao seu conteúdo proteico, cerca de 7 %
(ingredients101.com), por conter fibra de fácil digestão e pelo elevado conteúdo energético. Os
produtos secundários obtidos no processamento da beterraba são os que apresentam maior conteúdo
energético, 18,1 MJ/l de etanol. Segundo El Bassam, a densidade energética é de 10,84 MJ/kg
peletes (2010). O melaço também pode ser vendido e utilizado como base para o fabricação de
bebidas alcoólicas ou como substrato de produção de fermento de pão.
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3.1 O potencial energético da beterraba
Atualmente no Brasil, o etanol combustível é utilizado de duas maneiras: o álcool anidro e o
álcool hidratado. O anidro possui menos água em sua composição, sendo mais adequado para a
mistura carburante com a gasolina. A adição do álcool carburante à gasolina eleva em 2% o volume
métrico consumido. Assim, para cada 100 L de gasolina misturada existirá uma proporção de 81,6 L
de gasolina e 20,4 L de álcool anidro. Assim, 20,4 L de álcool anidro podem poupar 18,4 L de
gasolina.
O álcool hidratado é adequado para os veículos movidos exclusivamente à álcool ou aos
bicombustíveis. Por sofrer um menor número de operações produtivas, o álcool hidratado é, em
média, 4,5% mais barato do que o álcool anidro. O rendimento motor do álcool hidratado é de 20%
a 27% menor do que a gasolina. Isso significa que para cada quilômetro rodado com gasolina requer
se um consumo volumétrico de álcool com essa proporção. Para compensar esse diferencial,
atualmente o preço do álcool é 21,4 % menor do que a gasolina. As principais propriedades da
gasolina e do álcool estão indicadas na Tabela 2.
TABELA 2. Propriedades e características dos combustíveis (Goldemberg e Macedo, 1994)
A beterraba pode ser considerada uma boa fonte de etanol, tendo uma alta concentração de
açucares em torno de 15%, fazendo com que uma tonelada de beterraba possa render cerca de 100L
de álcool.
3.2 Análise do custo benefício da beterraba
A beterraba contém uma quantidade considerável de carboidratos – açúcares, para a produção
de álcool, também possui um volume de produção, rendimento e custo significativos, o que gera um
produto viável para a produção de álcool. A beterraba possui dissacarídeos que são fermentados
após uma hidrolise ocorrida pela ação de uma enzima invertase, produzida pelo agente de
fermentação.
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Os substratos que contem sacarose ou glicose como no caso da beterraba, tem um número de
etapas menor para a produção de etanol, sendo necessário apenas terem uma etapa de extração da
glicose, feita normalmente pela prensagem, seguida pela filtração e ter seu pH ajustados na
fermentação, em casos especiais pode se adicionar fosfatos e sais de amônio. O melaço retirado da
beterraba tem composição variável, sendo um subproduto da beterraba, contendo de 50% a 55% de
açúcares fermentescíveis, tendo assim um bom rendimento por tonelada, para a produção de álcool.
Na Europa uma decisão em aumentar o uso de energia renovável, um dos produtos que tem
sido muito estimulado é o etanol. A França, líder da União Europeia na tentativa de incrementar o
uso do etanol, produziu mais de 750 milhões de litros do etanol de beterraba e de trigo. Para fazer
uma tonelada de açúcar refinado de beterraba, os franceses têm um custo equivalente a R$ 1.100. Já o
mesmo tipo de açúcar, saindo de uma usina de cana do Brasil, custa aproximadamente a metade desse
valor. Além de ser mais barato, o açúcar brasileiro é produzido em quantidades muito maiores. Os países
da União Europeia cultivam juntos 1,4 milhão hectares de beterraba, contam com 106 usinas em
atividade e produzem 14 milhões toneladas de açúcar por ano. Já o Brasil, sozinho, tem oito milhões de
hectares de cana, 440 usinas em operação e fabrica anualmente 38 milhões toneladas de açúcar.
Enquanto a beterraba precisa ser replantada todos os anos por sementes, os canaviais só precisam
ser renovados a cada seis anos, uma vantagem em termos de custos. A safra da beterraba, na Europa,
dura menos de um trimestre. A de cana, no Brasil, se espalha por nove meses, o que garante o
funcionando das usinas por mais tempo. Outra diferença central vem de um subproduto da cana, o
bagaço, usado para gerar eletricidade. Todas as usinas do Brasil têm termoelétricas próprias, são
autossuficientes em energia e, muitas, vendem a eletricidade que sobra, uma energia barata e renovável.
Já as usinas de beterraba normalmente geram eletricidade queimando carvão mineral, gás ou óleo diesel,
fontes mais sujas, não renováveis, e que encarecem o custo do açúcar ou etanol.
3.3 Os impactos ambientais na produção de etanol beterraba
Os cientistas tem consenso em dizer que o desenvolvimento econômico com base no
consumo intensivo de combustíveis fósseis, está colocando o planeta terra em perigo, ameaçando a
própria sobrevivência da humanidade. A produção e o consumo atingiram um patamar além da
capacidade de reposição de nosso planeta. O relatório do IPCC, Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas, afirma que as ações humanas já aumentaram a temperatura da terra em 0,8ºC,
para que essa não temperatura não chegue aos 2ºC, será necessária uma redução das emissões de
CO
2
da ordem de 50% a 80%, o que não vem acontecendo, pelo contrario, vem aumentando.
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A sociedade humana sobrevive principalmente baseada da energia retirada do petróleo e
seus derivados. O petróleo é a energia mais consumida no mundo, o que representa em torno de
85% da energia advinda dos derivados de petróleo, representando também uma fonte para a
produção de matérias-primas para a indústria petroquímica e agricultura. Em seu relatório sobre o
mercado mundial de petróleo, a Agência Internacional de Energia divulgou que em 2013 o consumo
mundial de petróleo chegou a 91,2 milhões de barris diários (mbd), e com previsão de 92,4 milhões
de barris diários em 2014, para que esse consumo de milhões de barris diários seja resposto é
necessário que esse tipo de energia tenha um extenso processo de evolução e descobertas ao longo
do tempo. Quando comparamos o etanol com a gasolina, a grande vantagem e ser renovável, e
totalmente sustentável com menor emissão de poluentes, como o CO
2
, que antes de ser eliminado
pela queima do combustível, foi capturado antes pela planta, assim não contribuindo para o
aquecimento global.
As vantagens do álcool são reconhecidas, seja para a produção do álcool hidratado ou
anidro, nos dois casos tem a função de diminuir a emissão de monóxido de carbono e
consequentemente o fim do uso do chumbo tetraetila como aditivo, um elemento altamente tóxico,
gerando uma energia limpa. Na extração do açúcar da beterraba, temos produtos residuais, que são
ricos em minerais, com fácil digestão, assim podem ser usados na alimentação animal em
complementação a ração. A polpa da beterraba tem grande valor nutricional para a produção de
carne e leite, sendo assim destinado as indústrias de alimentação animal.
4. CONCLUSÃO
O petróleo tende a acabar, tornando-se um item escasso. Isso terá um impacto enorme em
nossa sociedade. Para amenizar esse impacto tanto social como ambiental, temos que buscar uma
fonte alternativa ao petróleo, temos uma variedade de combustíveis, como no caso desse trabalho
temos o etanol a partir da beterraba. O etanol a partir da beterraba tem tido sucesso na Europa,
principalmente na França, onde já se mistura o etanol a gasolina e se tem carro flex em sua frota. A
França lidera a produção de etanol a partir da beterraba.
Quando comparamos a produção de etanol a partir da beterraba e da cana-de-açúcar, alguns
pontos podem ser decisivos, que contribuem para um preço menor. No caso da beterraba além de
precisar ser cultivada em ambientes de clima moderado, a beterraba precisa ser replantada todos os
anos por sementes, já no caso da cana só precisam ser renovados a cada seis anos, fazendo com que
a cana leve uma vantagem considerável sobre o etanol de beterraba. A cana possui um subproduto,
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o bagaço, usado para gerar a eletricidade das próprias usinas produtoras de etanol, ou seja, são
autossuficientes em energia, sendo assim uma energia barata e renovável. Diferentemente nas
usinas de etanol de beterraba geralmente se usa combustíveis fósseis, fontes sujas e não renováveis,
encarecendo assim a produção, e prejudicando o meio ambiente. Outra questão a ser discutida, e
quanto a safra da beterraba, na Europa, dura menos de um trimestre, já a cana no Brasil pode chegar
a nove meses, o que garante assim o funcionamento das usinas por um período maior do que se usa-
se a beterraba.
Esse trabalho mostrou que a produção de etanol a partir da beterraba e viável, talvez não seja
viável ao Brasil, já que a produção de beterraba depende de vários fatores, principalmente ligado ao
clima. No Brasil não se tem a cultura da beterraba para a produção de etanol, mas devemos dominar
essa tecnologia, para quem sabe um dia a beterraba possa ser usada na entressafra da cana, o que
ajudaria de certa forma a controlar o preço do etanol no Brasil, fazendo com que se tenha um uso
continuo do etanol, contribuindo também ao meio ambiente.
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