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ENGEVISTA, V. 11, n. 2. p. 127-136, dezembro 2009
PROGRAMA DO PROÁLCOOL E O ETANOL NO BRASIL
Ednilton Tavares de Andrade
1
Sergio Roberto Garcia de Carvalho
2
Lucas Fernandes de Souza
3
Resumo: O álcool da cana-de-açúcar, produzido pelo Brasil tem se mostrado grande potencial de
contribuição para amenizar a crise energética em que mergulhamos e que é efeito direto da poluição causada
pelos combustíveis fósseis, que viraram os grandes vilões para a sobrevivência da humanidade. Bem como a
crescente demanda por combustíveis de fontes renováveis. O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) não
foi a primeira experiência brasileira em produzir álcool para ser utilizado em veículos, porém, a estabilização
do preço do barril de petróleo e os problemas enfrentados pelos usinas como falta de gerencia e a retirada
dos subsídios levou um grande número delas a quebrar, interrompendo, assim, este programa. É notório
porém, que a produção de álcool e açúcar não foi totalmente interrompida pois muitas usinas permaneceram
fornecendo álcool para os veículos que ainda rodavam com esse combustível. Agora, com a necessidade
de redução imediata da emissão de gases de efeito estufa, produzido em grande escala pelos combustíveis
fósseis, os biocombustíveis surgem como solução e assim o álcool brasileiro volta à cena. O álcool produzido
no Brasil contém 370% mais energia do que gasta para a sua obtenção. Um altíssimo custo benefício em
comparação com o álcool produzido de milho, pelos USA, que produz em energia apenas 10% a mais
do que gasta (BARROS, 2007). Os biocombustíveis liderados pelo biodiesel e o álcool passam a ser um
importante passo para a mudança na matriz energética mundial.
Palavras-chave: etanol, produção, Proálcool.
Abstract: The alcohol of sugar cane, produced by Brazil has shown great potential to contribute to alleviate
the energy crisis in which we dip and it is direct effect of pollution caused by fossil fuels, which turned the
great villains for the survival of humanity. As well as the increasing demand for fuels from renewable sources.
The National Program of Alcohol (Proalcool) was not the fi rst Brazilian experience in producing alcohol
for use in vehicles, however, the stabilisation of the price of a barrel of oil and the problems faced by plants
as lack of management and the withdrawal of subsidies led a large number of them to break, stopping thus
this program. It is clear however, that the production of alcohol and sugar was not completely stopped
because many plants remained providing alcohol for vehicles that still used this fuel. Now, with the need
for immediate reduction of emission of greenhouse gases, produced on a large scale by fossil fuels, biofuels
emerge as a solution and so the brazilian alcohol back to the scene. The alcohol produced in Brazil contains
370% more energy than spend for their achievement. A high cost benefi t compared to the alcohol produced
from corn, the USA, which produces energy in only 10% more than spent (BARROS, 2007). Biofuels led
by biodiesel and alcohol become an important step for change in the global energy matrix.
Keywords: Ethanol, production, Proalcool.
1
Prof. Doutor, Departamento de Engenharia Agrícola e Meio Ambiente – UFF, ednilton@vm.uff.br.
2
Estudante de Pós-Graduação em Eng. Mecânica – UFF, Grupo de Armas – Instituto de Pesquisas da Marinha –RJ.
3
Engenheiro Agrícola – UFF.
128
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1-INTRODUÇÃO
Em pleno século XVI, o comércio europeu,
tinha nas especiarias vindas da Índia e nos metais
preciosos a sua total atenção. Espanhóis e portu-
gueses alcançaram o Novo Mundo e pretendiam
com isso intensifi car o comércio na Europa e au-
mentar a suas riquezas. A mola propulsora para
esta nova etapa da história foi o avanço tecnoló-
gico desses dois países apoiado em uma economia
sólida que podia aplicar os seus recursos em novas
conquistas e mercados.
Com o Tratado de Tordesilhas, defi niu-se o
novo mapa geoeconômico do mundo, dividindo as
terras recém-encontradas a leste e a oeste desta linha
vertical, praticamente ao meio, a oeste fi cou para a
Espanha e a leste para Portugal. A Espanha só dois
séculos mais tarde, com a descoberta das civilizações
andinas, encontrou os metais preciosos tão almeja-
dos na época. A primeira parte do século XVI foi
para Portugal, um período de busca de riquezas na-
turais, menos valiosas que seriam encontrados pela
Espanha, porém a possibilidade de encontrar ouro
e prata, levou os portugueses a elaborarem planos
de defesa das terras, com a fi xação nas terras que lhe
cabia pelo tratado (Barros, 2007).
Considerando a distância e extensão das
terras, a sua defesa, por exércitos, levaria Portugal
a estagnação. O plano português para possibilitar
a manutenção da posse das terras de forma econo-
micamente viável, foi a criação da primeira em-
presa agrícola em terras brasileiras, Baseando-se na
experiência das empresas orientais e das ilhas do
Atlântico. Portugal, não poderia imaginar como
seriam grandiosos os impactos dessa atividade
agrícola na economia do Velho Mundo. A empre-
sa agrícola de cana-de-açúcar que se desenvolveu
no Brasil garantiu as permanências portuguesas,
que montou todo um aparato para viabilizar esta
monocultura, utilizando escravos e proporcionan-
do desenvolvimento tecnológico para, cada vez
mais, produzir açúcar.
Na categoria dos combustíveis renováveis,
destacam-se as obtenções de energia de biomassa
e em especial, o álcool etílico, o metanol ou álcool
metílico, que é menos utilizado como combustí-
vel, devido ao seu alto grau de toxidez, porém,
também pode ser obtido por meio de fontes reno-
váveis (Macedo, 2005; Marques et al. 2001; Mar-
ques et al., 2006; Ripoli e Ripoli, 2005; Rosillo-
Calle e Bajay, 2005).
Embora o etanol possa ser obtido a partir de
diferentes fontes alternativas, como mencionado
anteriormente, é a cana-de-açúcar a matéria-prima
mais importante e sustentáculo da produção alcoo-
leira nacional. A grande performance dá-se devido
a existência de uma estrutura agro-industrial bem
montada e desenvolvida graças a grande adaptação
da cana às nossas condições climáticas e a já citada
experiência secular do plantio da cana-de-açúcar.
2 - O EFEITO ESTUFA E O
AQUECIMENTO GLOBAL
O aquecimento global, efeito mais sentido
pelas populações, começa a dar mostras que não é
um fenômeno natural cíclico, apenas, porém, o mais
claro resultado do grande e indiscriminado derrama-
mento de dióxido de carbono, dióxido de enxofre,
metano, CFCs e outros na atmosfera. O grande ní-
vel de utilização dos combustíveis fósseis, na geração
de energia para as indústrias, casas, aquecimento do-
miciliar e como propulsão das frotas de coletivos e
dos carros particulares (Figura 1 e Figura 2), a inter-
venção danosa do homem na natureza, pós-período
da revolução industrial é o que tem causado tudo
isso. Desde 1860, tem sido lançado na atmosfera de
90 a 180 bilhões de toneladas de carbono em decor-
rência de queimadas para desmatamentos, ao que
vem sendo somados de 150 a 190 bilhões de tone-
ladas devido à combustão de carvão, petróleo e gás
natural para, produção de energia elétrica (Ripoli e
Ripoli, 2005; Macedo, 2005; Hinrichs e Kleinbach,
2001; Rosillo-Calle e Bajay, 2005
).
O impacto causado pela emissão dos gases
de efeito estufa tem sido o responsável pela dimi-
nuição da produção de grãos em todo o mundo,
em virtude dos problemas causados às lavouras
por ocorrência dos Eventos Extremos. Isso, tem
agravado a possibilidade de fome no nosso pla-
neta, principalmente em países pobres. Incêndios,
desequilíbrios no abastecimento de água, aumen-
to do ímpeto dos temporais e a crescente eleva-
ção da temperatura média do planeta, causando a
elevação dos níveis das marés e com conseqüentes
inundações, todos esses eventos prejudicam di-
retamente a produção de alimentos, elevando os
preços da produção, e tornando, cada vez mais es-
cassos, na mesa daqueles que não podem pagar.
Um relatório elaborado pelo economista
inglês Nicolas Stern, a pedido do ministro das Fi-
129
ENGEVISTA, V. 11, n. 2. p. 127-136, dezembro 2009
nanças da Inglaterra e publicado no 2º semestre
de 2006, alerta que os impactos ambientais, cau-
sados pela emissão de dióxido de carbono (Efeito
Estufa), serão sentidos em todas as regiões do pla-
neta em poucos anos (Barros, 2007).
O etanol, originário da cana-de-açúcar, da
mandioca, do milho, da batata-doce, do babaçu
e de outros produtos de elevada importância eco-
nômica para o país, poderá contribuir de forma
substancial para atenuar os prejuízos dos gases de
efeito estufa (GEE). Os GGE estão alimentando
uma crise mundial não de energia, mas por cau-
sa dela. Esta crise está ocorrendo em virtude do
grande volume de CO
2
que é lançado na atmos-
fera para se obter energia, insumo extremamente
necessário às indústrias e a sociedade moderna.
O processo biotecnológico de obtenção do
etanol para ser econômico depende de três fatores
principais: 1) efi ciência do microorganismo; 2) ex-
ploração da matéria prima, com especial considera-
ção ao pré-tratamento e desintegração; e 3) sistema
apropriado do biorreator para a fermentação. Rápi-
da fermentação e alto nível de etanol são desejáveis
para o processo ser economicamente viável (AN-
DRADE, 1997).
Embora automóveis e usinas produtoras de
energia contribuam com aproximadamente 5%
do gás carbônico liberado pelas nações industriali-
zadas, a devastação e queima de fl orestas tropicais
em países como o Brasil é outro grande contri-
buinte, contribuindo com 18% a 25% das emis-
sões globais de CO
2
. STERN, (2006)
informou
em seu relatório que nos últimos 30 anos, a tem-
peratura global vem crescendo rapidamente, em
torno de 0,2 graus Celsius por década e que os dez
anos mais quentes dos últimos 1,5 séculos, foram
registrados a partir de 1990 (BARROS, 2007).
Fonte: Ecourbana
Figura 1 – Automóveis poluindo o ar.
Fonte: Mundo Educação
Figura 2 - Esquematização do efeito estufa.
O dióxido de carbono apesar de tudo é de
relevante importância em vários processos que se
desenvolvem na Terra. Estes são imprescindíveis
para a manutenção da vida no nosso planeta. O
próprio efeito estufa não pode ser totalmente des-
considerado, pois sem ele, a Terra seria congelada,
assim como a não produção de gás carbônico pre-
judicaria a fotossíntese das plantas que só é possí-
vel por causa da existência desse gás na atmosfera.
Nota-se então, que é preciso impedir os excessos
que vem sendo lançados na atmosfera. Pois pro-
vocam grandes descontroles e gerando malefícios,
do até então benéfi co, efeito estufa.
Adaptado de Hinrichs e Kleinbach (2001) e Helene et al.
(1994)
Figura 3 - Esquema da troca de carbono
entre os reservatórios da terra
(em bilhões de toneladas).
130
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2.1 - DIÓXIDO DE CARBONO
O carbono da Terra está armazenado em di-
ferentes reservatórios: (1) os oceanos, (2) as reser-
vas de combustível fósseis em baixo da terra e do
mar, (3) o solo, (4) a atmosfera e (5) a biomassa,
conforme fi gura acima.
De acordo com
estimativas superfi ciais, o fl uxo de carbono (quan-
tidade de carbono que passa de um reservatório
para outro), captado pelos oceanos está estimado
em 4 bilhões de toneladas que é o resultado de
104 – 100 = 4, ilustrado na Figura 3, as fl ores-
tas e seus solos estariam captando 100 bilhões de
toneladas por ano pela fotossíntese, emitindo 50
pela respiração do solo e seres vivos e restos de
vegetais que aí são encontrados e 50 pela respira-
ção das plantas. Isto zera o balanço com relação
as fl orestas, o que permanece é a idéia que elas
são reguladoras do clima através da umidade que
retém. Além disso são emitidos 2,8 bilhões por
conta de desmatamento e queimadas e 5,8 bilhões
de toneladas pela queima de combustíveis fósseis
por ano (Woodwell, 1989; Hinrichs e Kleinbach,
2001).
A mudança de visão, internacional, que
busca novas e alternativas formas de produção
energética, foi incentivada pelos efeitos negati-
vos atribuídos a queima dos combustíveis fósseis,
além da procura por fontes renováveis, diante do
esgotamento previsto dos combustíveis fósseis. O
etanol, candidata-se a assumir uma nova e impor-
tante posição na matriz energética mundial. Para
isso, é preciso
tratar da matéria prima, a cana-de-
açúcar, de quem, em outras palavras, depende o
bom rendimento da produção de álcool (Macedo,
2005; Marques e Marques, 2001; Marques et al.,
2006; Ripoli e Ripoli, 2005; Rosillo-Calle e Bajay,
2005).
3 - A CANA DE AÇÚCAR
A cana de açúcar é um vegetal perecível,
necessitando ser processada o mais rápido possí-
vel, dentro de um intervalo máximo, entre o cor-
te e sua utilização que não ultrapasse a 24 horas.
Os seus principais produtos até aqui tratados são
o açúcar e o etanol, aos quais tem sido atribuí-
do maior valor em função da maior aceitação
de mercado. Entretanto estes não são os únicos
subprodutos da cana-de-açúcar. Diante das atuais
previsões de crescimento o Brasil deverá aumentar
a sua safra de cana até 2010 cerca de 7% ao ano
(Agroanalysis, 2006). Entre 1977 e 1979, houve
uma expansão da produção de etanol de cana-de-
açúcar, que foi o vegetal escolhido para produzir
este combustível no Brasil. Os fatores que deter-
minaram essa escolha foram: 1) grande extensão
territorial do país; 2) o clima propício para a cul-
tura da cana; 3) o domínio da tecnologia da fabri-
cação do etanol.
O caldo extraído da cana-de-açúcar é ma-
téria-prima para a fabricação de etanol, sendo a
sua composição função da cana que lhe originou,
e do processo de extração. Pode-se enumerar os
fatores que infl uenciam a qualidade tecnológica
da cana-de-açúcar as quais são: a) o tipo; b) o
estágio de maturação; c) as condições climáticas
locais; d) o processo de adubação (se é ferti-ir-
rigação com vinhaça); e) altura de desporte; f )
estado de sanidade da cultura; g) tempo do corte
ao processamento.
Para o produtor de etanol o que importa no
caldo são as porcentagens de açúcares totais (AT),
matérias nitrogenadas e fósforo (Andrade, 1997).
O processo de obtenção do caldo deve ser
cercado de cuidados pois em geral, o caldo de
cana é um meio bastante favorável ao desenvol-
vimento de microorganismos, tomados cuidados
de assepsia, desde a moagem, para não haver con-
taminação com microorganismos indesejáveis à
fermentação.
A utilização de colmos com pontas não
acusam problemas, já que no palmito são encon-
tradas vitaminas, enzimas, açúcares redutores que
auxiliam a fermentação, entretanto causam um
aumento de espumas, caso o caldo não seja pas-
teurizado, mas em contra partida aumentam o
rendimento de corte em até 60%, como também
o de fermentação, ocorrendo ainda uma redução
do tempo de fermentação (Andrade 1997).
O emprego da vinhaça como ferti-irrigação
apresenta vantagens na fermentação, pois o caldo
extraído da cana-de-açúcar que foi ferti-irrigada
com vinhaça apresenta teor de cinzas condutimé-
tricas triplicado e provavelmente favorecido por
isto; fermenta melhor, em torno de 1,94% em
relação ao não irrigado, além de apresentar uma
redução de cerca de 3 horas no tempo de fermen-
tação. Na Tabela 1, tem-se
a projeção da safra de
açúcar e álcool de 2005 a 2007 (Agroanalysis,
2006
;
Andrade 1997).
131
ENGEVISTA, V. 11, n. 2. p. 127-136, dezembro 2009
Tabela 1- Aspecto de produção estimativa
de cana-de-açúcar, açúcar e etanol de 2005 a
2007.
Brasil produção de cana-de-acúcar
(milhões de toneladas)
Regiões
2005/2006
2006/2007
Centro-Sul
341,1
370,2
Nordeste
50,1
53,2
Total
391,2
423,4
Exportação
Açúcar (milhões
de toneladas)
18,2
22,0
Etanol (bilhões
de litros)
2,1
2,5
(Agroanalysis, 2006)
4 - O PROGRAMA NACIONAL
DO ÁLCOOL
Após 500 anos o cultivo da cana-de-açúcar
continua a ter relevância na nossa economia na
produção de açúcar, naquele momento, porém, o
produto, foi uma novidade, um arrojado esforço
de libertação da dependência do petróleo, que se
almejava com a criação do Programa Nacional do
Álcool, em 14 de novembro de 1975. O Proálco-
ol, como foi popularmente batizado, visava o de-
senvolvimento das técnicas e aperfeiçoamento dos
insumos para a produção de álcool etílico (Tabela
2). Na primeira etapa os esforços concentraram-
se na produção de álcool etílico anidro para ser
acrescentado à gasolina e isso foi de 1975 a 1979.
Os primeiros carros movidos totalmente a álco-
ol etílico hidratado só começaram a circular em
1978, após modifi cações técnicas nos motores.
Porém
,
em 1973
,
o preço do petróleo havia salta-
do de US$2,91 para US$12,45, um aumento de
428%, empurrando o governo brasileiro para essa
decisão (Barros, 2007).
O esquema abaixo Figura 3, descreve os
tipos de álcool etílicos para as aplicações em mo-
tores à explosão. O Instituto do Álcool e Açúcar
através da resolução 01/77, classifi cou o álcool em
três tipos:
álcool refi nado industrial (para indústria
•
química);
álcool anidro (para misturar a gasolina);
•
álcool combustível (automobilístico)
•
(Souza, 2006).
(Souza, 2006).
Figura 3 - Os tipos de Álcool Etílicos
4.1-CARACTERÍSTICAS DO ETANOL
As características básicas do etanol como
combustível, podem ser:
a) anidro, que funciona como excelente aditivo
melhorando inclusive os índices de octanagem da
gasolina;
b) hidratado, possui 5% de água e somente pode
ser utilizado como combustível puro.
O álcool etílico ou etanol pode ser de ori-
gem renovável ou derivado do petróleo, porém
em ambos os casos, devem atender, as especifi ca-
ções do Conselho Nacional do Petróleo conforme
Tabela 2.
O álcool etílico é um derivado dos hidro-
carbonetos, diferindo destes por possuir na estru-
tura molecular o grupo – OH, altamente polar.
Suas moléculas encontram-se ligadas pelos mes-
mos mecanismos que unem as moléculas da água.
Por isso é possível ligar se as três moléculas.
Embora com poder calorífi co inferior a ga-
solina o álcool tem características que permitem
excelente desempenho aos motores, entre as quais
citam-se:
(1) larga faixa de infl amabilidade;
(2) grande poder antidetonante;
(3) um elevado calor latente de vaporização; (4)
densidade superior a da gasolina; e
(5) baixo ponto de fulgor, assim como a gasolina.
Considerando a mistura álcool-gasolina o
principal ponto negativo é a baixa tolerância à
132
ENGEVISTA, V. 11, n. 2. p. 127-136, dezembro 2009
água já que uma pequena quantidade acima do
tolerável acarretará em separação de fases, por
isso usa-se álcool anidro para misturar a gasolina.
(Souza, 2006)
A seguir, mostra-se o fl uxograma da produ-
ção do álcool etílico e na Figura 4 o fl uxograma
para benefi ciamento da cana e a produção de eta-
nol. Na Figura 5, tem-se o fl uxograma dos equi-
pamentos utilizados no processo de produção do
álcool.
As etapas do processo de obtenção de álco-
ol etílico podem ser descrita na seqüência como:
Recepção da Cana; Pesagem da Cana-de-Açúcar;
Descarga da Cana-de-Açúcar; Armazenamento da
Cana-de-Açúcar; Moagem da Cana-de-Açúcar;
Lavagem da Cana-de-Açúcar; Preparo da Cana-
de-Açúcar; Extração do Caldo; Purifi cação do
Caldo; Tratamento do Caldo; Embebição; Cala-
gem, Aquecimento e Sedimentação; Sulfi tação;
Evaporação; fi ltração do Iodo; Preparo do Mos-
to; Fermentação Alcoólica; Reação de Fermenta-
ção Aloólica; Processo de Fermentação Alcoólica;
Destilação Alcoólica; Armazenamento do Álcool
(Souza ,2006).
Figura 4. Fluxograma do benefi ciamento da
cana para a produção de etanol
(Souza, 2006).
Figura 5- Fluxograma dos equipamentos
utilizados no processo de obtenção de etanol
(Souza, 2006).
Tabela 2 -Especifi cação do álcool etílico
segundo o Conselho Nacional do Petróleo
(Souza, 2006).
Desde 1925, os brasileiros conheciam a
possibilidade da utilização do álcool etílico como
combustível. Nessa época, porém, o preço da ga-
133
ENGEVISTA, V. 11, n. 2. p. 127-136, dezembro 2009
solina desencorajava os esforços em produzir um
combustível novo no Brasil, não havendo, assim,
interesse no aperfeiçoamento das pesquisas com o
álcool. No entanto, já na década de vinte, existiam
no Brasil veículos movidos a combustível compos-
to de 75% de álcool e 25% de éter, isso aconteceu
durante a Segunda Guerra Mundial, quando o ál-
cool ajudou o país a conviver com a escassez de
gasolina (Barros,2007). Entre 1977 e 1979, houve
uma expansão da produção de álcool de cana-de-
açúcar, visando atender a maior demanda para
atender a indústria automotiva e aos mercados de
açúcar nacional e internacional. A implantação
do Proálcool após passar pelas duas fases distintas,
uma como aditivo à gasolina e a outra a produção
de álcool hidratado, para ser utilizado puro como
combustível. O agora, etanol combustível, tinha
nos altos preços da gasolina um decisivo incentivo
para a sua produção. Isso foi tão expressivo que
em 1985, dos carros fabricados no país, 95,8%
eram movidos a álcool (Barros, 2007).
4.2-
OS INCENTIVOS AO PROÁLCOOL
A partir de 1982, o governo investiu no sen-
tido de aumentar as vendas de veículos a álcool.
Criou facilidades aos compradores, como maior
prazo de fi nanciamento, taxas mais baixas e os ve-
ículos passaram a ser dotado de sistema de partida
a frio (isto se dava com a introdução da gasolina
que era injetada diretamente no carburador para
facilitar a partida quando o carro ainda estava frio,
isto é, quando o motor era ligado após um longo
período parado e em dias frios). Com o fi m de
evitar a corrosão, os carburadores passaram a ser
revestidos com zinco e os tanques de combustível
com estanho.
Apesar do sucesso técnico do Proálcool,
ocorreram muitas críticas à sua implantação. Tais
críticas baseavam-se no fato de que as áreas de
cultivo de cana-de-açúcar aumentaram muito, en-
quanto as de cultivo de alimentos se mantiveram
inalteradas. Além disso, a sazonalidade, na épo-
ca, foi também um grande contribuinte negativo
a continuidade do projeto. Hoje os operários do
campo estão a cada dia mais especializados e já
não se fala em bóias-frias como no tempo do Pro-
álcool, quando, tinha-se trabalho durante metade
do ano; na outra metade, permaneciam ociosos,
agravando os problemas no campo.
4.3 - AS EXPERIÊNCIAS DO PRÓALCOOL
O pleno sucesso do Proálcool só teria sido
alcançado se: fosse compatível com uma política
energética nacional isenta de infl uências externas
que tinham no petróleo a melhor matéria prima
para produção de combustível; uma política agrá-
ria, uma política agrícola e em contrapartida um
preço elevado do barril de petróleo. De 1986 a
1996 após ter chegado a US$ 40 o barril, baixou
para US$ 30 servindo de desestímulo ao Proál-
cool. Desta forma, já não compensavam mais os
gastos do governo brasileiro para manter os pre-
ços, com subsídios e a garantia da compra dos es-
toques de álcool pela Petrobras. Outro fator tam-
bém importante é que com a garantia de compra
pelo governo os usineiros fi cavam bem à vonta-
de e quando o preço do açúcar estava baixo nas
bolsas internacionais, eles produziam álcool com
preço garantido pelo governo. Assim os tanques
com álcool, fi cavam abarrotados, demonstrando
claramente o sinal de desaceleração da produção
de carros a álcool no país.
5-O ETANOL
Apesar de tudo, a Confederação de Agricul-
tura e Pecuária do Brasil (CNA), confi rma que o
nosso país é o maior produtor de cana-de-açúcar,
sendo o segundo produtor mundial de açúcar, per-
dendo apenas para a Índia, assim como o Brasil é
o segundo produtor de etanol perdendo para os
EUA (Severo, 2006). O setor canavieiro contribui
com 1,5% da produção de bens e serviços do país.
Na Figura 5 mostra-se a quantidade de álcool hi-
dratado e anidro em milhões de
m
3
.
Revista de Agronegócios da FGV (Agroanalysis, 2006).
Figura 5 - Produção Brasileira de Álcool
anidro, Álcool Hidratado e o Total
134
ENGEVISTA, V. 11, n. 2. p. 127-136, dezembro 2009
6 - O BRASIL TEM A SOLUÇÃO
IMEDIATA PARA A CRISE DOS
COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS
As principais vantagens do etanol brasilei-
ro recai sobre o custo de sua produção, garantido
pelas suas máquinas que são movimentadas por
energia gerada pela queima do próprio bagaço de
cana, não dependendo de combustíveis fósseis e
aumentando a relação custo benefício, pelo nível
de insolação do nosso país e pela regularidade do
índice pluviométrico.
Os Estados Unidos, não tem, na realidade
demonstrado preocupação com o aquecimento
global, porém a sua investida em energias de fon-
tes renováveis se dá pela difi culdade de manter o
seu controle no Oriente Médio, e na Ásia Central,
e por que já está anunciado o esgotamento dos
poços de petróleo. Estes fatos, tem levado os EUA
a buscar outras fontes renováveis de energia e dois
são os caminhos:
1) O primeiro é a produção de energia nuclear, já
bem desenvolvida por essa nação;
2) O segundo são os biocombustíveis, biodiesel e
o etanol.
Este último, assim como os primeiros pas-
sos brasileiros, é produzido por eles de forma to-
talmente subsidiada, e mesmo assim por um custo
25% mais alto que o nosso álcool. Barros (2007)
afi rma em seu livro Energia Para um Novo Mun-
do, que se os USA, comprasse o álcool brasileiro
e o distribuísse gratuitamente, em seus postos de
combustível, lucraria mais do que consegue pro-
duzindo. Daí o grande interesse americano na
parceria com o Brasil, o know-how adquirido há
mais de três décadas de produção de etanol de
cana-de-açúcar.
6.1- PREVISÕES DE MERCADO FUTURO
As previsões de especialistas mostra um ce-
nário bastante promissor para o Brasil no merca-
do produtor de etanol no mundo. Projeções da
Empresa de Pesquisas Energéticas mostram uma
safra de cana na ordem de 570x10
6
t em 2010 e
de 715x10
6
t em 2015, um aumento na ordem
de 5% em relação a 2006. O Brasil produzirá
25,4x10
6
m³, em 2010, crescendo 10% ao ano de
2006 a 2010. Em 2015 a produção de etanol será
de 6,9x10
6
m³, o que corresponde a um aumento
de 8% ao ano a partir de 2010. As vendas cres-
cem aceleradamente e já há previsão de 89 novas
unidades de açúcar e etanol até 2013. Segundo a
União da Agroindústria Canavieira de São Paulo
(ÚNICA), 12 novas usinas entraram em funcio-
namento e outras 16 deverão começar a atuar em
2007/2008, criando um total de um milhão de
novos empregos diretos e indiretos. Os novos in-
vestidores a Odebrech (Barro, 2007; EPE, 2008),
líder em construção de químicas e petroquímicas
da América Latina, anunciou que em 2007 , co-
meçou a investir na industria do álcool e do açú-
car, investindo R$ 5 bilhões nos próximos 8 anos.
A Cosan, que investe nesta área pretende aumen-
tar o seu investimento e elevar a sua produção de
40 milhões de toneladas para 60 milhões de tone-
ladas. Este aumento será fi nanciado por ações a
serem negociadas pela bolsa de Nova York.
7- CONCLUSÃO
A questão é se estará o Brasil preparado para
atingir o patamar produtivo esperado?...Especialis-
tas alertam para esse risco e advertem para que não
venha-se a ultrapassar o que podería-se
produzir
com olho no mercado externo. Assim o País deve
desenhar um novo caminho, através de novas me-
tas de produção, desenvolver tecnologias inovado-
ras, aumentar a performance dos seus produtos de
forma a suportar as mudanças sazonais e utilizar ao
máximo os subprodutos. A cadeia produtiva do eta-
nol é rica e isso pode agregar valor ao etanol, além
do bagaço de cana. Pode-se citar (Barros, 2007):
1) o etileno, produto muito requisitado para fa-
bricação de plástico e os mais variados fi ns, o pre-
ço da tonelada pode chegar a US$ 1.600;
2) o sorbitol, um álcool de açúcar que tem um po-
der adoçante 50% menor que o da sacarose, não
causa cárie e pode ser usado de diversas formas
nas industrias farmacêuticas, de cosméticos e ali-
mentícias;
3) o ácido lático, matéria prima para produção de
plástico biodegradável. (O plástico comum leva
100 anos para se decompor, já o biodegradável
decompõe-se em seis meses);
4) o etanol, que é um combustível altamente ener-
gético (para seu melhor aproveitamento deve-se
construir motores específi co que não é o caso dos
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ENGEVISTA, V. 11, n. 2. p. 127-136, dezembro 2009
motores fl ex, que por causa da diferença de explo-
são entre o álcool e a gasolina, na casa de 40%,
acaba jogando combustível fora).
Apesar do otimismo é necessário considerar
as metas da produção nacional e resolver as ques-
tões que tem sido levantadas em relação às áreas
de preservação e a migração de áreas de produção
de grãos para a agricultura de energia, bem como,
aumentar a abrangência no mercado externo sem
incorrer em danos ambientais.
A Alemanha é um ótimo exemplo para o
Brasil, uma potência que aparece entre os maiores
produtores de biocombustíveis do mundo, e atu-
almente produz mais da metade do combustível
limpo da Europa e já possui em seus postos de
abastecimento o biodiesel em versão pura (B100),
com plena garantia para seus fabricantes de veí-
culos. Deve-se com isto incentivar a preservação
e a produção de grãos para um desenvolvimento
sustentável.
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