Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
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As organizações de produtores (cooperativas, sindicatos e associações) tam-
bém têm intensificado a utilização de estimativas de custos agrícolas nas análises
da situação das atividades agropecuárias e no apoio às suas reivindicações junto
aos governos estaduais e federal. O exemplo mais claro, na área de produção da
cana-de-açúcar, é o Conselho dos Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool
do Estado de São Paulo (Consecana-SP)
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e as entidades nele representadas, que
utilizam os custos para orientar contratos entre fornecedores e indústrias proces-
sadoras da cana-de-açúcar.
No âmbito governamental, o Instituto de Economia Agrícola (IEA) vem há
décadas efetuando estimativas de custos de produção, visando analisar diferentes
atividades e sistemas de produção para atender às demandas internas, subsidiar po-
líticas e fornecer informações atualizadas ao setor agrícola. De acordo com Oliveira
e Nachiluk (2011), Conab (2010) e Bressan Filho (2009), diferentes sistemas de
produção e de gestão, bem como distintas regiões, escalas de produção e condições
naturais, resultam em custos distintos.
Nesse sentido, o conhecimento das formas de produção e o custo de produção
de cana-de-açúcar, produto para obtenção de alimento, biocombustível e energia
elétrica, tornam-se primordiais para subsidiar o planejamento do produtor, uma
vez que nos últimos anos a atividade canavieira de São Paulo apresentou grandes
mudanças na evolução dos sistemas de produção, quanto ao preparo do solo, aos
tratos culturais, ao plantio e à colheita, destacando-se, mais recentemente, o grande
avanço na sistematização do plantio e da colheita mecanizada, resultando em melhor
aproveitamento da terra e maior produtividade, com ganhos econômicos e ambientais.
Tais mudanças se devem ao crescimento do setor, motivado pela demanda por
etanol e produção de energia nos mercados doméstico e internacional, bem como à
maior participação do país no mercado global de açúcar e às questões ambientais.
Este trabalho tem o objetivo de apresentar o custo médio de produção e as
mudanças ocorridas nos sistemas de produção da cana-de-açúcar, bem como os
impactos dessas mudanças na composição do custo da cultura dos fornecedores
de cana associados à Organização de Plantadores de Cana do Centro-Sul do Brasil
(Orplana). O estudo limita-se ao estado de São Paulo, maior produtor nacional e
líder em desenvolvimento de tecnologias de produção da cana, mas que apresenta
ainda heterogeneidade produtiva nas diversas regiões destacadas neste texto.
3.O Conselho dos Produtores de Cana-de-Açúcar, Acúcar e Álccol do Estado de São Paulo (Consecana-SP) é uma
associação sem fins lucrativos, constituída em 1999 e composta por representantes da Organização de Plantadores de
Cana do Centro-Sul do Brasil (Orplana) e da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), com a responsabilidade
de zelar pelo relacionamento entre as partes, os fornecedores e a indústria. Para tanto, o conselho criou um sistema
de pagamento da cana-de-açúcar pelo teor de sacarose, de adoção voluntária, com critérios técnicos para avaliar a
qualidade da cana-de-açúcar entregue pelos plantadores às indústrias e para determinar o preço a ser pago ao produtor
rural. Para mais informações, ver o site disponível em:
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