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Os Desafios da Expansão da Cana-de-açúcar: a perçepção de produtores e 
arrendatários de terras em Goiás e Mato Grosso do Sul
 
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 121
A aplicação do questionário, com duração média de uma hora e trinta minu-
tos, foi conduzida por dois entrevistadores.
19
 O questionário desenvolvido pelos 
coordenadores da pesquisa foi instalado em um tablet, contendo imagens de satélite 
e um software de informações geográficas. Este conjunto de preparação e a amostra 
como um todo foram considerados satisfatórios para o método de tratamento de 
dados utilizado e para o estudo do perfil e da opinião dos entrevistados.
3.1 Características da amostra e dos procedimentos metodológicos
De modo a examinar a representatividade dos resultados da pesquisa, foram com-
paradas as médias ponderadas de indicadores obtidos com as médias do Censo 
Agropecuário de 2006 (tabela 1).
20
 
TABELA 1
Comparação das médias do Censo Agropecuário de 2006 com as da pesquisa
Características
Censo 2006
Estudo
Média da área das fazendas (ha)
414.97
912.60
Donos de terra (%)
87
78
Membros de associação ou cooperativa (%)
Cooperativa 
11
49
Associação 
11
49
Gênero (%)
Masculino 
92
96
Feminino 
8
3
Educação – Pessoas que completaram (%)
5
a
 a 8
a
 série 
4
7
Ensino médio 
4
37
Ensino superior 
3
28
Produção de cana-de-açúcar:
Produtividade média (t/ha)
1
70.30
87.71
Valor médio da produção (R$ 1 mil)
330.18
1035.24
Fonte: Conab (2013); IBGE (2006).
Elaboração dos autores.
Nota: 

Esta informação tem como fonte Conab (2013).
Obs.: 1. O tamanho da amostra é de 148 indivíduos (83 em Goiás; e 65 em Mato Grosso do Sul). 
2. Mais informações disponíveis no Sistema IBGE de Recuperação Automática (Sidra): .
19. A equipe de campo da pesquisa foi composta por dez membros associados à Universidade Estadual do Kansas 
(Kansas State University), à Unesp/Tupã, à Universidade de São Paulo (USP/Ribeirão Preto) e à Universidade Federal 
de São Carlos (Ufscar/Sorocaba) dentro do projeto Direct and Indirect Drivers of Land Cover Change in the Brazilian 
Cerrado: The Role of Public Policy, Market Forces, and Sugarcane Expansion.
20. O fato de o tamanho de uma propriedade na pesquisa ser, em média, superior ao tamanho médio da propriedade 
no Censo Agropecuário se deve ao fato de a amostra consistir, na sua maioria, de membros de uma cooperativa, as-
sociação ou sindicato rural, que geralmente administram fazendas comerciais e tendem a ser maiores. Por outro lado, 
o Censo Agropecuário engloba um número maior de pequenos fazendeiros. O mesmo raciocínio pode ser usado para 
explicar o porquê de a média do valor da produção de cana ser maior neste estudo do que a obtida pela Conab (2013). 
É importante considerar ainda a periodicidade dos dados: os da pesquisa são de 2014 e os do censo são de 2006.

Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
122 
|
 
O fato de os sindicatos rurais e as associações e cooperativas terem ajudado a 
contatar os participantes explica a maior porcentagem de membros de cooperativas 
e/ou associações encontrados na amostra. O destaque, nesses dados, é que a pes-
quisa obteve porcentagens de entrevistados com ensino médio e superior completo 
superiores às apresentadas no Censo Agropecuário. Ressalta-se que as diferenças 
de características entre a amostra e os dados do censo não constituem empecilho à 
pesquisa, que trata da percepção de um grupo específico de produtores sobre um 
produto específico com o qual trabalham.
A amostra retrata a diversidade dos produtores e arrendatários de terras. Cerca 
de dois terços dos entrevistados, envolvidos com a atividade sucroalcooleira, podem 
ser divididos em três grupos: i) donos de terra que não plantam cana, mas arrendam 
terras para a sua produção; ii) produtores que não têm terra, mas as arrendam de 
terceiros para produzir cana; e iii) produtores que plantam cana em sua propriedade. 
A heterogeneidade se nota, por exemplo, na escolaridade, idade, produtividade, 
renda e participação em associações e cooperativas. Os resultados apresentados na 
seção seguinte se referem às pessoas envolvidas no setor sucroalcooleiro conforme os 
grupos citados, com exceção da subseção 4.4, na qual toda a amostra é considerada. 
4 RESULTADOS
As subseções seguintes apresentam os resultados da pesquisa, discutindo, em cada 
trecho, os principais pontos observados. Destacam-se aspectos ligados aos desafios 
da expansão da cana-de-açúcar do ponto de vista de fornecedores de cana-de-açúcar 
e arrendatários de terra para a produção de cana nos municípios selecionados.
4.1 Perfil social e produtivo dos fazendeiros e arrendatários entrevistados
A maioria dos entrevistados eram donos da terra em questão, ativos na fazenda, 
do sexo masculino e possuíam o ensino médio completo (tabela 2). Na amostra, 
os níveis de renda em Mato Grosso do Sul aparentam ser distribuídos mais ho-
mogeneamente do que no estado de Goiás. Em Goiás, destaca-se o fato de que 
cerca de 50% da amostra declarou ter renda total anual não superior a R$ 15 mil.
TABELA 2
Características gerais dos entrevistados em Goiás e em Mato Grosso do Sul
 Característica
Goiás
Mato Grosso do Sul
Número
Porcentagem
Número
Porcentagem
Ocupação ou relação com dono da terra
Dono da terra
43
74
38
84
Filho
8
14
3
7
Administrador
5
9
4
9
Outro
2
3
1
2
(Continua)

Os Desafios da Expansão da Cana-de-açúcar: a perçepção de produtores e 
arrendatários de terras em Goiás e Mato Grosso do Sul
 
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 123
 Característica
Goiás
Mato Grosso do Sul
Número
Porcentagem
Número
Porcentagem
Sexo
Feminino
2
3
4
9
Masculino
56
97
42
93
Escolaridade
Pré-escola a 4
a
 série
13
22
7
15
5
a
 a 8
 a
 série
5
9
2
4
Ensino médio
17
29
20
44
Graduação
17
29
12
27
Pós-graduação
6
10
5
11
Renda (R$)
0-5.000
8
14
5
11
5.001-10.000
14
24
9
20
10.001-15.000
4
7
4
9
15.001-20.000
7
12
6
13
20.001-25.000
6
10
3
7
25.001-30.000
2
3
2
4
30.001-40.000
5
9
4
9
40.001-60.000
4
7
3
7
>60.000
5
9
10
22
Ativo na fazenda
1
Sim
49
84
40
89
Não
9
16
5
11
Elaboração dos autores
Nota:
 1  
É considerado ativo o entrevistado que não somente possui a terra, mas que também participa ativamente nas operações 
da fazenda por meio da tomada de decisão e do acompanhamento das atividades diárias.
Obs.: O tamanho da amostra é de 104 envolvidos (58 em Goiás; e 46 em Mato Grosso do Sul).
Ademais, observou-se que mais de 50% dos entrevistados eram membros de 
sindicato rural, cooperativa e/ou associação (tabela 3).
21
 Essas instituições agregam 
não somente produtores de cana-de-açúcar, como também produtores em outras 
atividades, a exemplo de soja e da pecuária bovina. 
A tabela 3 apresenta respostas às indagações sobre a produção e algumas 
características das fazendas dos entrevistados. Observa-se que a colheita mecânica 
está se tornando cada vez mais comum na produção canavieira. Em Goiás e Mato 
Grosso do Sul, as grandes áreas planas favorecem a colheita mecanizada: 97% dos 
21. Os envolvidos no setor sucroalcooleiro eram membros em Goiás: do Sindicato Rural, da Cooperativa dos Plantadores 
de Cana (Coplacana), da Associação dos Canavieiros entre Rios (Acaer), da Associação dos Fornecedores de Cana da 
Usina Bom Sucesso (AFC), da Associação dos Produtores de Matérias-Primas para as Indústrias de Bioenergia de Goiás 
(APMP) e da Associação dos Fornecedores de Cana Goiás (Aprocana); em Mato Grosso do Sul: do Sindicato Rural e da 
Associação dos Fornecedores de Cana Sul-Mato-Grossense (Sulcanas), para citar alguns.
(Continuação)

Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
124 
|
 
entrevistados em Goiás e 67% em Mato Grosso do Sul confirmaram o uso deste 
método de colheita. A colheita mecânizada, segundo os entrevistados, tem sido 
feita pelas usinas – cerca de 80% em Goiás e mais de 50% em Mato Grosso do 
Sul. Um referencial para a mecanização tem sido o estado de São Paulo, em que a 
Lei da Queima de Cana estabelece o fim desta prática até 2021 (São Paulo, 2002). 
TABELA 3
Características dos entrevistados segundo técnica de colheita utilizada, preferência 
por risco e participação em associações, sindicato e/ou cooperativa em Goiás e Mato 
Grosso do Sul
Características
Goiás
Mato Grosso do Sul
Número
Porcentagem
Número
Porcentagem
Colheita mecânica
56
97
31
67
Usina colhe
46
79
25
54
Dono colhe
5
9
2
4
Tercerizado
5
9
4
9
Colheita manual
2
3
15
33
Preferência por risco
Avesso ao risco
35
61
28
65
Neutro ao risco 
18
32
9
21
Tomador de risco
4
7
6
14
Membro do sindicato rural
Sim
41
71
35
76
Não
17
29
11
24
Membro de cooperativa
Sim
35
60
16
35
Não
23
40
30
65
Membro de associação
Sim
32
55
30
65
Não
26
45
16
35
Elaboração dos autores.
Obs.: 
 
O tamanho da amostra é de 104 entrevistados (58 em Goiás; e 46 em Mato Grosso do Sul).
Segundo os dados da tabela 3, mais de 60% dos entrevistados em ambos os 
estados se descrevem como avessos ao risco. Em geral, eles são cautelosos e pro-
curam evitar ou minimizar o risco associado à incorporação de novas atividades 
de produção. Contudo, mais de 30% dos participantes em Goiás e mais de 20% 
daqueles em Mato Grosso do Sul se descrevem como neutros ao risco, e o restante  
da amostra (7% em Goiás e 14% em Mato Grosso do Sul) se descreve como 
tomador de risco. 

Os Desafios da Expansão da Cana-de-açúcar: a perçepção de produtores e 
arrendatários de terras em Goiás e Mato Grosso do Sul
 
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 125
Em termos das características de produção, observa-se que, em ambos os 
estados, as fazendas colhem em média a mesma quantidade de cana-de-açúcar por 
hectare, 90 t/ha em Goiás e 85 t/ha em Mato Grosso do Sul, considerando um ciclo 
de cinco cortes (tabela 4). Outra semelhança é a da produtividade nos primeiros 
e segundos cortes de cana: respectivamente, 114 t/ha e 109 t/ha em Goiás e 118 
t/ha e 104 t/ha em Mato Grosso do Sul. 
TABELA 4
Características da produção canavieira por fazendas pesquisadas nos estados de Goiás 
e Mato Grosso do Sul
Características
Goiás
Mato Grosso do Sul
Mínimo
Média
Máximo
DP
1
Mínimo
Média
Máximo
DP
Produtividade média da cana não irrigada
Dos últimos quatro anos (t/ha) 
10
90
130
27
55
85
120
18
1

corte (t/ha)
66
114
153
19
50
118
180
29
2
 o
 corte (t/ha)
72
109
160
18
60
104
130
18
ATR
2
/kg
121
139
160
8
75
125
160
15
Aumento na área com cana desde 2010 (ha)
0
163
2.000
311
0
166
1.391
325
Área própria do entrevistado (ha)
0
1.074
6.246 1.188
34
1.372
10.800 1.977
Área alugada de outros (ha)
0
380
3.000
690
0
96
2.200
353
Área arrendada a outros (ha)
0
172
3.000
464
0
545
3.200
711
Elaboração dos autores.
Notas: 

Desvio-padrão (DP). 

Açúcar total recuperável (ATR).
Obs.: 1. O tamanho da amostra é de 104 entrevistados (58 em Goiás; e 46 em Mato Grosso do Sul). 
2.  Resultados que têm zero como mínimo significam que pelo menos um dos entrevistados em cada caso não aumentou 
sua área desde 2010, não possui área própria, não aluga de terceiros ou não arrenda para outros respectivamente.
Ainda segundo os dados da tabela 4, os entrevistados aumentaram, em 
média, a área de produção canavieira em pelo menos 163 ha desde 2010 em 
ambos os estados. Entretanto, houve também aqueles que não aumentaram 
a área com cana. Razões para tal variam entre as limitações de terra para a 
ampliação e a falta de incentivos econômicos. Em média, os entrevistados 
possuíam áreas superiores a mil hectares e arrendavam mais de 100 ha a ter-
ceiros: 172 ha em Goiás e 545 ha em Mato Grosso do Sul. Ressalta-se que 
nem todos os entrevistados possuíam propriedades, não obstante, arrenda-
vam de terceiros. Já os entrevistados que arrendavam terras de terceiros ar-
rendavam, em média, 380 ha em Goiás e 96 ha em Mato Grosso do Sul.  
O tamanho superior do desvio-padrão em relação à media ilustra a disparidade 
no tamanho das áreas agrícolas. 

Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
126 
|
 
As medidas de ATR e dos preços de seus derivados (açúcar e etanol) são 
usadas para determinar o preço da cana-de-açúcar. O teor de ATR está ligado à 
qualidade da cana, ao clima, à atenção no manejo e ao momento do corte da cana e  
corresponde à quantidade de açúcar presente na cana menos as perdas que ocorrem 
durante o processo industrial (Unica, [s.d.]). Chama a atenção a diferença entre 
os níveis de ATR em cada um dos estados: por exemplo, o valor mínimo de ATR 
citado para Mato Grosso do Sul é inferior ao de Goiás (75 ATR/kg em Mato 
Grosso do Sul versus 121 ATR/kg em Goiás).
Em geral, os entrevistados não participavam de uma grande variedade de 
programas governamentais (tabela 5), de modo que quase um quinto da amostra 
alegou não participar de programa algum. O acesso ao crédito e seguro rurais, 
geralmente oferecidos pelo banco quando da concessão de crédito, foram os pro-
gramas mais citados. Entre os programas de crédito rural, espanta a baixa ocor-
rência da participação no FCO – 2% em Goiás e 9% em Mato Grosso do Sul –,  
por essa modalidade ter sido criada com vistas a promover o desenvolvimento 
econômico do Centro-Oeste (BB, [s.d.]). Esse resultado pode advir tanto pelo fato 
de o entrevistado não ter mencionado o FCO durante a entrevista quanto pelo 
desconhecimento de tal programa. 
TABELA 5
Tipos de programas governamentais dos quais os entrevistados participam
Programas
Goiás
Mato Grosso do Sul
Número
Porcentagem
Número
Porcentagem
Preço mínimo
3
3
0
0
Crédito rural
37
39
26
46
Seguro rural
30
32
5
9
Outros programas
8
8
13
23
FCO
2
2
5
9
Nenhum programa
17
18
12
21
Elaboração dos autores.
Obs.:
 
Um fazendeiro pode participar de vários programas.
4.2  Desafios e riscos enfrentados segundo os envolvidos com o 
setor sucroalcooleiro 
Nas entrevistas, solicitou-se a indicação das duas maiores preocupações que os 
envolvidos tinham quanto à produção de cana. A mais citada estava relacionada à 
situação financeira das usinas, dito por 39% dos entrevistados em Goiás e 33% em 
Mato Grosso do Sul (tabela 6). Doze por cento dos entrevistados em Goiás e 14% 

Os Desafios da Expansão da Cana-de-açúcar: a perçepção de produtores e 
arrendatários de terras em Goiás e Mato Grosso do Sul
 
|
 127
em Mato Grosso do Sul mencionaram preocupação com doenças e pestes. Esse 
resultado pode estar associado à nova tendência do uso de agrotóxicos previamente 
para evitar a ocorrência de ervas daninhas, doenças e pestes. 
TABELA 6
Temas de maior preocupação dos entrevistados com relação à produção canavieira
Preocupação
Goiás
Mato Grosso do Sul
Número
Porcentagem
Número
Porcentagem
Saúde financeira da usina
35
39
17
33
Doenças e pestes
11
12
7
14
Perda de ATR
9
10
0
0
Ataque de insetos
6
7
12
23
Compactação do solo
6
7
2
4
Erva daninha
6
7
1
2
Variação climática
6
7
1
2
Colheita mecânica
4
4
2
4
Variação na produtividade
4
4
5
10
Contaminação do solo/água
2
2
2
4
Perda em fertilidade do solo
1
1
3
6
Elaboração dos autores.
Obs.:
 
O tamanho da amostra é de 104 entrevistados (58 em Goiás; e 46 em Mato Grosso do Sul).
Os entrevistados divergiram quanto à preocupação com a perda de ATR, 
ao ataque de insetos e à variação na produtividade da cana. Em Goiás, 10% dos 
entrevistados admitiram se preocupar com a perda de ATR, enquanto que em 
Mato Grosso do Sul, 23% se preocupavam com o ataque de insetos e 10%, com 
a variação na produtividade. Problemas climáticos não foram mencionados com 
tanta frequência quanto os demais, o que contrariou a expectativa dos pesquisa-
dores, pelo fato de a agricultura ser dependente de fatores como a temperatura, a 
pluviosidade, a umidade do solo e a exposição aos raios de sol. 
4.3  Percepção dos entrevistados acerca de desafios e barreiras para a 
expansão da canavieira
Para alguns dos entrevistados, plantar cana para as indústrias já instaladas 
não era uma opção devido à distância entre suas terras e a usina. Além disso, 
nem todos os entrevistados apreciavam a presença de usinas no seu município.  
Alguns argumentaram que a chegada da usina resultava no aumento do preço 
da terra e na demanda por mão de obra. Devido à usina oferecer empregos com 

Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
128 
|
 
mais estabilidade e salários mais altos, ela atrai mais trabalhadores, reduzindo, 
segundo entrevistados, a oferta de mão de obra sazonal (por exemplo, diaristas 
para o período de colheita). 
Parte dos entrevistados relutou em arrendar terras às usinas devido à ins-
tabilidade financeira de algumas delas ou pelo fato de as usinas demolirem toda 
a benfeitoria da fazenda para realizarem o plantio da cana. Esses donos de terra 
preferem alugar para alguém conhecido localmente ou algúem com quem pos-
sam tratar diretamente. Além destes, outros motivos alegados para a resistência 
ao cultivo de cana foram: o fato de a produção de grãos e/ou a pecuária serem 
associadas à tradição familiar; e o fato de os produtores possuírem mais conhe-
cimento e experiência nesses segmentos. Outros entrevistados consideraram a 
oportunidade de alugar parte de suas terras, muitas vezes consideradas degradadas, 
de forma a obterem uma fonte de renda que os auxiliasse em outras atividades 
agropecuárias. Essas estratégias ajudam a manter a viabilidade econômica da 
fazenda e o baixo risco por meio da diversificação das atividades. 
As respostas à pesquisa apontaram que 56% dos entrevistados em Goiás e 
33% em Mato Grosso do Sul plantavam cana-de-açúcar em terras antes usadas 
para a agricultura. Em Mato Grosso do Sul, os resultados mostraram que a 
maior parte (67%) das terras com cana-de-açúcar havia sido usada para pasta-
gem, enquanto que em Goiás este número foi de 44%. O cultivo da cana serviu 
para contrabalançar as perdas ocorridas em anos de dificuldades da soja e da 
pecuária. Foi indicado o problema da ferrugem na soja, ocorrida entre 2004 
e 2005, como um dos motivos que os levaram a optar pelo cultivo da cana. 
Outros entrevistados se referiram ao baixo preço do gado como fator importante 
para a mudança. Adicionalmente, Rio... (2006) registrou casos em que grandes 
fazendeiros e donos de terra chegaram a unir esforços e apresentaram projetos 
para instalação de uma usina no município, como o grupo Louis Dreyfus, em 
Rio Brilhante (MS), em que três grandes pecuaristas propuseram a instalação 
de uma terceira usina.  
Considerando-se a média do valor bruto das vendas de todos os entrevistados 
envolvidos no setor sucroalcooleiro, a maior parte advinha da produção da cana, 
conforme o gráfico 1. Em Goiás, em média, 90% do valor bruto das vendas 
provinha da cana e menos de 10% advinha da pecuária ou de outras plantações 
agrícolas. Em Mato Grosso do Sul, apesar de haver mais diversidade na origem 
do valor das vendas, mais da metade resultava da venda de cana e 40%, da venda 
do gado e outras culturas.

Os Desafios da Expansão da Cana-de-açúcar: a perçepção de produtores e 
arrendatários de terras em Goiás e Mato Grosso do Sul
 
|
 129
GRÁFICO 1
Distribuição da média de quatro anos do valor bruto das vendas dos entrevistados 
envolvidos no setor sucroalcooleiro segundo a atividade – Mato Grosso do Sul e Goiás
(Em %)
62
17
21
97
2
1
Cana
Pecuária
Grãos
Goiás
Mato Grosso do Sul
Elaboração dos autores.
Obs.:
 
O tamanho da amostra é de 104 entrevistados (58 em Goiás; e 46 em Mato Grosso do Sul).
Outra dificuldade à expansão canavieira são os custos associados ao plantio. 
Conforme relatado anteriormente, estes chegam a ser 2,5 vezes maiores do que os 
da soja (Silva e Miziara, 2011), dificultando a substituição de lavouras; aliado a 
isso está o fato de que nem todos os entrevistados tinham acesso ao crédito rural. 
As usinas tentam atenuar a situação, oferecendo pagamento adiantado, suporte 
técnico, empréstimos e mudas de cana-de-açúcar a fornecedores potenciais, além 
de realizarem a colheita mecânica, exonerando-os, desta forma, dos gastos com a 
aquisição de colhedeiras. 
Assim como em outros estudos mencionados, a pesqusia evidencia que a 
disponibilidade de grandes extensões de terras adequadas ao plantio da cana
22
 é 
apenas um dos muitos fatores aos quais a expansão do cultivo está sujeita. Shikida 
(2013) indica ainda outras limitações, tais como a instabilidade do mercado de 
etanol e a ineficiência da estrutura logística, como assinalado nos capítulos 1 e 8 
deste livro. Apesar dessas dificuldades, as usinas ajudam na logística de transporte, 
inclusive na construção de estradas entre as lavouras e a indústria. 
22. A expansão canavieira depende parcialmente da disponibilidade de terra e de crédito (Shikida, 2013). O ZAE Cana 
identificou mais de 12,6 milhões de ha de área apropriada ao plantio em Goiás e mais de 10,8 milhões de ha em Mato 
Grosso do Sul (Manzatto et al., 2009). 

Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
130 
|
 
4.4 Percepção dos entrevistados sobre impactos locais da expansão canavieira
Segundo Roberto (2012), a instalação de novas usinas e a expansão da produção de 
cana-de-açúcar em determinadas regiões do Cerrado têm sido associadas à expec-
tativa de desenvolvimento econômico, ao aumento na arrecadação de impostos –  
decorrente das taxas pagas pelas usinas –, a melhores oportunidades de emprego 
para a população local e até ao aumento na qualidade de vida. Ainda, de acordo 
com o autor, a chegada da atividade pode ser associada à melhora da infraestrutura, 
da educação, da renda, do poder de compra e ao consequente aumento no Índice 
de Desenvolvimento Humano (IDH).
Indagou-se aos 148 entrevistados (inclusive àqueles não envolvidos no setor 
sucroalcooleiro) sobre sua percepção e expectativa de impactos da usina em suas 
comunidades. Perguntou-se-lhes o quanto a chegada da usina havia afetado o 
município e sua comunidade, com relação à melhora ou piora nas seguintes áreas: 
estradas, infraestrutura básica, serviços de saúde, educação, qualidade de vida, vida 
social, segurança e desenvolvimento econômico. As respostas foram sistematizadas 
conforme a tabela 7. 
TABELA 7
Perspectiva dos produtores a respeito dos impactos em suas comunidades locais com 
a instalação de usinas
(Em %)
Aspecto
Total
Goiás
Mato Grosso do Sul
Piorou Inalterado Melhorou
Piorou Inalterado Melhorou
Piorou Inalterado Melhorou
Estradas
14
11
70
13
17
64
15
5
78
Infraestrutura básica
8
47
39
4
59
29
14
32
52
Serviço de saúde pública
22
38
36
18
46
30
26
28
45
Serviço de saúde particular
9
30
56
8
33
52
9
28
62
Educação
7
44
43
5
51
36
11
35
52
Qualidade de vida
11
15
70
10
14
70
12
15
69
Seguraça
49
27
19
47
33
13
52
20
26
Desenvolvimento ecônomico
6
9
80
7
16
71
5
2
92
Vida social
7
29
60
6
30
58
8
28
63
Elaboração dos autores.
Obs.:
 
O tamanho da amostra é de 148 entrevistados (83 em Goiás; e 65 em Mato Grosso do Sul).
De forma geral, os dados da tabela 7 indicam que os entrevistados dos dois 
estados percebem melhora com a chegada das usinas na maioria dos parâmetros 
levantados (estradas, sistema privado de saúde, qualidade de vida, desenvolvimento 
econômico e vida social), com destaque para estradas e desenvolvimento econômi-
co. Porém importantes aspectos (infraestrutura básica, saúde pública, educação e 
segurança) foram avaliados pela maioria como piorou ou inalterado. A leitura que 

Os Desafios da Expansão da Cana-de-açúcar: a perçepção de produtores e 
arrendatários de terras em Goiás e Mato Grosso do Sul
 
|
 131
há de ser feita é que os agentes econômicos beneficiados percebem ganhos, mas 
reconhecem dificuldades. 
Os entrevistados, geralmente, ressaltaram que as estradas utilizadas pela 
usina foram as que mais melhoraram. Para a maioria dos produtores em Mato 
Grosso do Sul, houve melhora na infraestrutura básica (saneamento, eletricidade e 
pavimentação de ruas), enquanto os produtores em Goiás não notaram nenhuma 
alteração. O mesmo padrão pode ser observado com relação à saúde pública. Por 
outro lado, a melhora nos serviços particulares de saúde se deve ao aumento nos 
serviços oferecidos por médicos particulares e ao aumento no número de consul-
tórios médicos e no de laboratórios de análises clínicas.
Produtores nos dois estados responderam que o desenvolvimento econômico 
ocorre, por exemplo, pelo aumento do número de lojas e serviços, mais opções de 
restaurantes, música e lazer após a instalação da usina. Com o aumento do poder 
de compra da população, novos negócios são naturalmente atraídos, principalmente 
nas cidades onde se situam as usinas. Contudo, de acordo com os entrevistados, 
a piora na segurança do município chama a atenção. A maior oferta de empregos 
atrai pessoas de outras cidades, tanto para trabalhar na usina quanto para abrir 
novos estabelecimentos. 
4.5  Posição dos fornecedores de cana e arrendatários sobre as  
relações contratuais 
Para ter acesso à terra, as indústrias assinam contratos de arrendamento com os 
proprietários de terras (arrendatários) ou estabelecem contratos de fornecimento
23
 
com os produtores. Elas também podem subarrendar
24
 áreas para produtores que 
não têm terras, conforme assinalam Picanço Filho e Marin (2012). Por um lado, 
ao assinar um contrato de fornecimento, a indústria transfere parte dos custos as-
sociados aos riscos de produção para o produtor, segundo Ávila (2009); por outro 
lado, tanto o contrato de arrendamento quanto o de parceria agrícola são adotados 
quando a usina quer operar de forma verticalmente integrada (sendo responsável 
por todos os estágios da produção de cana-de-açúcar). 
Os contratos têm vantagens e desvantagens. Como vantagem, eles trazem 
segurança a ambas as partes quanto ao fornecimento da cana-de-açúcar e às formas 
de pagamento, permitindo que produtores e/ou arrendatários de terra e usinas 
possam organizar suas atividades e investimentos com mais segurança. Como 
23. O contrato geralmente segue o padrão adotado pelo Conselho dos Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool 
(Consecana), entidade que reúne produtores de cana e indústrias, sob a liderança desta. Os contratos se diferem de 
região para região, inclusive na forma de remuneração. Para mais detalhes, ver Ávila (2009) e consecana>. É praticamente inexistente o mercado spot de cana no Brasil, sendo os contratos firmados, geralmente, 
com uma única indústria.
24. A usina/destilaria arrenda para um produtor uma área que ela arrendou de um outro dono de terra.

Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
132 
|
 
desvantagem, contratos reduzem a flexibilidade de produtores e arrendatários de 
terra escolherem qual cultura produzir e/ou de oferecerem sua produção ou terra 
para outro. As formas mais comuns de contrato exigem a fidelidade de forneci-
mento, ou seja, o produtor se obriga a fornecer apenas à usina com a qual assinou 
o contrato.
25
 O que pode ser uma desvantagem em áreas com duas ou mais usinas. 
No caso deste estudo, os resultados indicam a presença de pelo menos duas usinas 
na região, dando ao fornecedor opção de escolha. 
Os contratos de fornecimento são procurados por agricultores interessados 
em manter o vínculo com a produção e as características da propriedade, plantando 
e fornecendo cana-de-açúcar para a usina. O tipo de contrato mais observado em 
Goiás foi o de fornecimento, enquanto que o contrato de parceria agrícola foi o 
mais frequente em Mato Grosso do Sul (tabela 8). Esse resultado se difere do estudo 
específico de Picanço Filho e Marin (2010) para Goiás, no qual eles apontam o 
arrendamento de terras pela usina como sendo mais frequente do que contratos 
de fornecimento da cana. Segundo os autores, a preferência dos agricultores pelo 
arrendamento se deve à falta de capital, devido a crises nas atividades antes desen-
volvidas na área; aos altos custos de formação e manutenção dos canaviais; à falta de 
ânimo para entrar em um novo setor; à idade avançada dos proprietários; à legislação 
trabalhista, que estabelece restrições à mão de obra; à dependência do clima e da 
possível ocorrência de queimadas para definir sua remuneração; e à preferência 
por pagamentos regulares e com menos riscos. Acredita-se que uma das hipóteses 
da diferença entre os resultados seja o fato de os donos de terra que arrendam para 
a usina nem sempre residirem no mesmo município onde sua propriedade está 
localizada, e, portanto, não terem participado da amostra desta pesquisa.
TABELA 8
Tipos de contrato entre produtores, arrendatários e usinas nas áreas pesquisadas
Tipo de contrato
Goiás
Mato Grosso do Sul
Quantidade
Porcentagem
Quantidade
Porcentagem
Arrendamento
13
22
5
10
Parceria agrícola
3
5
30
63
Fornecimento
42
72
13
27
Elaboração dos autores.
Obs.: O tamanho da amostra é de 104 entrevistados (58 em Goiás; e 46 em Mato Grosso do Sul).
25. No caso específico desta pesquisa, foram observadas as seguintes formas de contrato, conforme o Estatuto da 
Terra e a Lei n
o
 4.506/1964: i) contrato de arrendamento de terra; ii) contrato de parceria agrícola (proprietário recebe 
uma porcentagem da produção); e iii) contrato de fornecimento – agricultor vende a cana-de-açúcar à usina/destilaria 
(Brasil, 1964; 1966.) Todos os produtores e arrendatários entrevistados envolvidos com a produção de cana-de-açúcar 
contavam com alguma forma de contrato.

Os Desafios da Expansão da Cana-de-açúcar: a perçepção de produtores e 
arrendatários de terras em Goiás e Mato Grosso do Sul
 
|
 133
A duração média dos contratos analisados na pesquisa foi de um ciclo de 
produção de cana-de-açúcar, ou seja, em torno de seis a sete anos. No entanto, 
variações foram observadas: o contrato mais longo era de quarenta anos e o mais 
breve, de um ano. Em termos de legislação, o prazo do arrendamento se encerra 
após a última colheita, prezumindo-se um prazo mínimo de três anos (Brasil, 1964). 
Em grande parte dos contratos de fornecimento observados, os produtores recebem 
80% do pagamento na entrega da cana e os 20% restantes, ao final do ano-safra.  
É importante notar que questões sobre os contratos consistiam em assunto sensível, 
com produtores se recusando a dar mais informações sobre valores recebidos pela 
produção de cana ou pelo arrendamento da terra. Em alguns casos, essa informa-
ção era definida em contrato como sigilosa, não podendo ser revelada a terceiros. 
Para verificar a percepção sobre o cumprimento dos contratos, no contexto 
alertado por Picanço Filho e Marin (2012), de que os contratos nem sempre são 
seguidos, questionou-se aos entrevistados se a usina com a qual eles tinham um 
contrato alguma vez não honrou os termos nele estabelecidos, incluindo atraso ou 
o não pagamento. Aproximadamente 70% dos entrevistados em Goiás e 88% em 
Mato Grosso do Sul informaram que a usina cumpriu com a sua parte no con-
trato. Outros 20% em Goiás afirmaram que a usina já havia deixado de cumprir 
o contrato em alguma ocasião e menos de 10% dos entrevistados nos dois estados 
relataram que a usina não cumpriu o contrato em diversas ocasiões. Considerando 
pagamentos atrasados, os entrevistados afirmaram que isso ocorre ao menos uma 
vez ao ano. 
A pesquisa também buscou saber o quanto os produtores e arrendatários 
tinham ciência dos termos de seus contratos e do poder de barganha envolvido 
na negociação. Para isso, indagou-se se teriam lançado mão de assistência jurídica 
durante a negociação do contrato, se compreenderam todos os seus termos e suas 
cláusulas e se pediram a alteração de alguma cláusula antes de assiná-lo. A maioria 
dos entrevistados (51% em Goiás; e 67% em Mato Grosso do Sul) informou ter 
recorrido à assistência jurídica quando da negociação do contrato. Dos entrevista-
dos, 63% em Goiás e 70% em Mato Grosso do Sul afirmaram ter compreendido 
todas as partes do contrato e que 54% em Goiás e 70% em Mato Grosso do Sul 
requisitaram alterações no contrato com sucesso. Alguns entrevistados (9% em 
Goiás; e 13% em Mato Grosso do Sul), no entanto, afirmaram que não foram 
atendidos em suas reivindicações contratuais.
26
 
26. A esse respeito, cabe destacar a interpretação de Picanço Filho e Marin (2012), Ávila (2009) e Santos (2011) de 
que é um fato conhecido que as usinas detêm poder econômico, organizacional, político e social que se manifestam na 
negociação, inclusive devido à assimetria de informação favorável a elas.

Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
134 
|
 
4.6 Percepções dos entrevistados sobre a relação com as usinas
Produtores e arrendatários foram questionados a respeito da relação mantida com 
as indústrias. As perguntas aplicadas buscaram avaliar, entre outros fatores, estes: 
se os entrevistados tinham conhecimento dos negócios conduzidos pela usina; se 
recebiam informações sobre a qualidade da cana-de-açúcar fornecida à usina; quem 
eles acreditavam deter mais poder de barganha; se confiavam na usina; se preferiam 
assinar contratos com uma usina nacional a assinar com uma usina estrangeira; se 
consideravam o contrato como um fator positivo ao negócio; e se tinham facilidade 
de comunicação com a usina. 
Como mostram os gráficos 2 e 3, os entrevistados acreditam que a proxi-
midade da fazenda em relação à usina é mais importante do que sua extensão 
na assinatura de um contrato (94% em Goiás; e 86% em Mato Grosso do Sul), 
e, consequentemente, propriedades mais próximas à usina têm mais poder de 
barganha. Quanto ao tamanho da propriedade, 71% dos entrevistados em Goiás 
e 80% em Mato Grosso do Sul acreditam que as fazendas maiores detêm mais 
poder de barganha que as menores, resultados que se alinham com os de Picanço 
Filho e Marin (2012). 
GRÁFICO 2
Percepção de produtores e donos de terra em Goiás quanto a sua relação com as 
usinas locais
(Em %)
Um bom relacionamento com a usina é
impostante para o meu negócio
Os produtores da região sentem
que não podem confiar na usina
Sem um contrato, é difícil um
produtor de cana operar na região
Prefiro assinar um contrato com uma
empresa nacional em vez de uma estrangeira
Prefiro assianr um contrato com uma Cooperativa/
Associação em vez de uma usina
A usina informa os produtores da 
qualidade de sua cana
É muito difícil assinar um contrato
com a usina
Fazendas maiores têm maior
poder de barganha
Fazendas próximas das usinas têm
maior poder de barganha
0
20
40
60
80
100
Discordo/discordo totalmente
Neutro
Concordo/concordo totalmente
Elaboração dos autores.

Os Desafios da Expansão da Cana-de-açúcar: a perçepção de produtores e 
arrendatários de terras em Goiás e Mato Grosso do Sul
 
|
 135
GRÁFICO 3
Percepção dos produtores e donos de terra em Mato Grosso do Sul quanto a sua 
relação com as usinas locais
(Em %)
Um bom relacionamento com a usina é
impostante para o meu negócio
Os produtores da região sentem
que não podem confiar na usina
Sem um contrato, é difícil um
produtor de cana operar na região
Prefiro assinar um contrato com uma
empresa nacional em vez de uma estrangeira
Prefiro assianr um contrato com uma Cooperativa/
Associação em vez de uma usina
A usina informa os produtores da 
qualidade de sua cana
É muito difícil assinar um contrato
com a usina
Fazendas maiores têm maior
poder de barganha
Fazendas próximas das usinas têm
maior poder de barganha
0
20
40
60
80
100
Discordo/discordo totalmente
Neutro
Concordo/concordo totalmente
Elaboração dos autores.
Um bom relacionamento com a usina foi considerado importante para os 
negócios por 90% dos entrevistados. Operar na região sem um contrato não 
é viável na opinião de 89% dos entrevistados nos dois estados, por serem raro 
sos casos de mercado spot, como observado na cidade de Itumbiara (GO), onde 
a presença de várias usinas demandando matéria-prima abre espaço para essa 
modalidade de comercialização. Entretanto, assinar um contrato com a usina 
não é difícil (de acordo com 71% dos entravistados em Goiás e 59% em Mato 
Grosso do Sul). 
Por ser relevante indicador de qualidade, produtividade e ponto central do 
preço a ser pago pela matéria-prima e arrendamento da terra, durante o rece-
bimento da cana-de-açúcar, as usinas recolhem uma amostra do carregamento 
para medir o ATR. Em razão disso, perguntou-se aos entrevistados se as usinas os 
informavam a respeito da qualidade da cana-de-açúcar entregue. Em Goiás, 75% 
dos entrevistados confirmaram receber tal informação, ao passo que em Mato 
Grosso do Sul, apenas 52% o fizeram (gráficos 2 e 3), sendo comum entrevistados 
que recebiam informação a respeito da média regional, mas não especificamente 
da sua própria produção.

Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
136 
|
 
Apesar de 60% das usinas locais serem controladas por companhias estrangeiras 
ou parcerias entre empresas estrangeiras e brasileiras, os entrevistados não revela-
ram preferência por firmas brasileiras na assinatura de contratos (gráficos 2 e 3).  
Do mesmo modo, nos dois estados, observou-se indiferença entre contratos com 
cooperativa/associação ou diretamente com empresas, não obstante, 30% em Goiás 
e 34% em Mato Grosso do Sul afirmaram preferir assinar um contrato com uma 
cooperativa/associação. 
De forma a analisar se o relacionamento com a usina resultava em situação 
de ganho para ambas as partes, questionou-se aos entrevistados quanto ao valor 
recebido pela produção e a sua confiança na usina, com o objetivo de medir a 
transparência das transações com a usina. Resultados mostram que eles acreditavam 
ter bom relacionamento com a usina, mesmo desconhecendo os seus negócios 
(gráficos 4 e 5). 
GRÁFICO 4
Percepções dos produtores e donos de terra em Goiás quanto a sua relação com a 
usina local
(Em %)
Eu gostaria de alcançar meus objetivos
sem assinar um contrato com a usina
É difícil se comunicar com a usina
Sempre confio que a direção da usina irá
cumprir com o prometido
Confio na direção da usina
Devido ao contrato tenho uma renda
mais constante
Meu lucro diminuiu desde que eu assine
o contrato com a usina
Eu conheço o negócio conduzido pela usina
Recebo um preço justo pela minha cana
comprada pela usina
0
20
40
60
80
100
Discordo/discordo totalmente
Neutro
Concordo/concordo totalmente
Elaboração dos autores.

Os Desafios da Expansão da Cana-de-açúcar: a perçepção de produtores e 
arrendatários de terras em Goiás e Mato Grosso do Sul
 
|
 137
GRÁFICO 5
Percepções dos produtores e donos de terra em Mato Grosso do Sul quanto a sua 
relação com a usina local
(Em %)
Eu gostaria de alcançar meus objetivos
sem assinar um contrato com a usina
É difícil se comunicar com a usina
Sempre confio que a direção da usina irá
cumprir com o prometido
Confio na direção da usina
Devido ao contrato tenho uma renda
mais constante
Meu lucro diminuiu desde que eu assine
o contrato com a usina
Eu conheço o negócio conduzido pela usina
Recebo um preço justo pela minha cana
comprada pela usina
0
20
40
60
80
100
Discordo/discordo totalmente
Neutro
Concordo/concordo totalmente
Elaboração dos autores.
De acordo com os entrevistados, 67% em Goiás e 60% em Mato Grosso do 
Sul concordaram que receberam um valor “justo” pela sua produção, enquanto que 
25% em Goiás e 31% em Mato Grosso do Sul discordaram. Apesar de os resultados 
não permitirem identificar o motivo pelo qual os entrevistados em Goiás estão 
mais satisfeitos com o valor da cana-de-açúcar do que os de Mato Grosso do Sul, 
uma possível explicação seria a existência de um número superior de associações 
de produtores e cooperativas em Goiás em relação ao estado de Mato Grosso do 
Sul, dando mais poder de barganha e proteção aos produtores e arrendatários.
Mais da metade dos entrevistados (acima de 65%) informaram ter facilidade 
de comunicação com a usina, apesar de desconhecerem os negócios conduzidos 
por ela (79% em Goiás; e 66% em Mato Grosso do Sul). Perguntados se concor-
davam com a afirmação “Sempre confio que a direção da usina irá cumprir com 
o prometido”, 43% em Goiás e 20% em Mato Grosso do Sul eram neutros ou 
discordavam. Cinquenta e seis por cento dos entrevistados em Goiás e 69% no 
Mato Grosso do Sul concordaram com a afirmativa de que confiavam na direção 
da usina. 
Mesmo que os resultados indiquem que os produtores e arrendatários desco-
nhecem todos os aspectos dos negócios da usina, a grande maioria dos entrevistados 

Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
138 
|
 
(91% em Goiás; e 74% em Mato Grosso do Sul) discordaram que seus lucros teriam 
diminuído desde a assinatura do contrato. No mesmo sentido, 74% dos entrevis-
tados em Goiás e 89% em Mato Grosso do Sul concordaram ter uma renda mais 
constante graças ao contrato com a usina. É provável que a confiança nas usinas 
esteja correlacionada com a preocupação dos entrevistados com a saúde financeira 
delas e que a desconfiança de parte da amostra advenha da assimetria de informação. 
5 CONCLUSÃO
Este capítulo destacou algumas das circunstâncias de o Cerrado brasileiro ser o 
foco do crescimento da produção de cana-de-açúcar e da construção de usinas 
desde 2000. Apontaram-se mudanças nas ações de produtores e arrendatários em 
dois estados na região de expansão da cana no Cerrado, a partir de dados sobre o 
uso da terra e os impactos da chegada da usina nas comunidades locais na opinião 
de produtores e arrendatários de terra. Acredita-se que a pesquisa de campo tenha 
contribuído para um entendimento maior dos impactos da expansão da cana-de-
-açúcar na visão de produtores de cana e arrendatários de terra. 
Os resultados da pesquisa, ancorados na discussão apresentada, permitem 
tecer outras considerações acerca da expansão canavieira nos municípios e nas 
microrregiões estudadas em Goiás e Mato Grosso do Sul. Uma contribuição do 
estudo foi trazer dados, percepções e indicações que possibilitam maior diálogo 
entre as partes, bem como subsídios às políticas agrícolas para que a produção, nas 
lavouras e em toda a cadeia agroindustrial, ocorra com sustentabilidade ambiental 
e socioeconômica. 
As respostas apontam, de um lado, oportunidades da atividade produtiva, 
de acordo com a percepção dos entrevistados, corroborando resultados de outros 
trabalhos quanto à: i) possibilidade de foco na lucratividade com ou sem outra 
atividade além da canavieira; ii) compreensão da importância de conhecimento 
acerca da atividade como um todo (inclusive da necessária saúde financeira das 
indústrias); iii) avaliação da existência de ganho econômico (emprego e renda) 
com a atividade, comparativamente ao uso anterior da terra; iv) noção da im-
portância da autonomia em relação às políticas públicas diretas; e v) percepção 
de que o crescimento econômico alcança a região onde a indústria se instala.  
De acordo com os entrevistados, as vantagens de natureza econômica são, além 
da possível lucratividade e da criação de empregos e renda locais, o surgimento de 
novos negócios nas cidades.
Ressaltam-se, também, desafios nas impressões dos produtores e arrenda-
tários, tais como: i) reações típicas de agentes com aversão a risco na atividade; 
ii) desequilíbrio nas informações acerca da razoabilidade da relação contratual, 
com destaque para a remuneração pela terra e pela cana-de-açúcar fornecida; 

Os Desafios da Expansão da Cana-de-açúcar: a perçepção de produtores e 
arrendatários de terras em Goiás e Mato Grosso do Sul
 
|
 139
iii) adesão circunstancial à atividade, ocorrida em função de dificuldades com 
outros cultivos e endividamentos; iv) percepção dos entrevistados de piora em 
serviços públicos de saúde e segurança; e v) insegurança quanto a interferências 
de fatores externos à atividade (questões ambientais, responsabilidades adicionais 
e questões organizacionais).
O trabalho permitiu observar que a expansão da cana-de-açúcar tem elemen-
tos muito mais complexos que a mera disponibilidade de terras. Pode-se inferir, 
com os resultados obtidos nas entrevistas, que a decisão de ingresso na atividade 
é facilitada quando os produtores e arrendatários confiam nas usinas e no recebi-
mento de preço justo pela cana, assim como quando acreditam na viabilidade do 
negócio. O perfil apresentado indica haver certo conhecimento da atividade e da sua 
inserção na cadeia produtiva, exceto quanto aos indicadores da empresa. Portanto, 
é importante transparência nas transações, elaboração de contratos equilibrados e 
assessorias organizadas no âmbito local para a redução de riscos mútuos. 
Cabe o registro de que, apesar de tais vantagens beneficiarem, especialmente, 
os arrendatários, fornecedores de cana e demais atores diretamente envolvidos 
com a atividade sucroalcooleira, estas também podem trazer benefícios, ainda que 
menores, para a comunidade como um todo. Há de se observar que os desafios 
apresentados pelos entrevistados, assim como outros discutidos na literatura, afetam 
toda a população local e por isso devem ser considerados quando da concessão de 
incentivos à expansão canavieira.
Em razão de os fornecedores de cana e os proprietários de terra, bem como 
suas propriedades, serem hetereogêneos em cada região e pelo fato de este trabalho 
ter se limitado a uma amostra desses atores, estudos complementares são desejáveis. 
Ainda que a agroindústria sucroenergética seja uma das mais estudadas na agri-
cultura brasileira, a compreensão da complexidade da cadeia produtiva, em nível 
regional e até municipal, continua sendo aspecto-chave para o aprimoramento 
das políticas públicas.
REFERÊNCIAS
ÁVILA, S. R. A. Efeitos socioeconômicos da expansão da cana de açúcar no 
vale do São Patrício
. 2009. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Brasília, 
Brasília, 2009.
BB – BANCO DO BRASIL. FCO – Fundo Constitucional de Financiamento 
do Centro-Oeste
, [s.d.]. Disponível em:
Yüklə 1,15 Mb.

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