.
Elaboração das autoras.
Nota:
1
A inflação medida no período em análise foi de 153,99%, segundo o IPCA/IBGE.
Obs.: As autoras agradecem a colaboração do pesquisador científico Vagner Azarias Martins, do Instituto de Economia Agrícola,
na elaboração dos valores deflacionados.
6. A unidade de produção agropecuária (UPA) é definida como conjunto de propriedades agrícolas contíguas e pertencente
ao(s) mesmo(s) proprietário(s); localizadas inteiramente dentro de um mesmo município, inclusive no perímetro urbano;
com área total igual ou superior a 0,1 ha e não destinada exclusivamente para lazer (São Paulo, 2009).
Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
148
|
No passado recente, o crescimento da demanda interna e a poten-
cialidade de crescimento da demanda externa, principalmente por etanol,
abriram caminho para avanços tecnológicos em busca de ganhos de efici-
ência e maiores níveis de produtividade no campo e na indústria. Porém,
a visibilidade dessa expansão trouxe como consequência a preocupação da
sociedade brasileira e também estrangeira com os impactos econômicos,
sociais e ambientais advindos desse boom expansionista.
Visando minimizar tais consequências e antecipar os resultados
propostos na Lei n
o
11.241/2002,
7
que estabelece o fim da queima da
cana no estado, o governo firmou o Protocolo Agroambiental
8
no estado
de São Paulo, termo de adesão voluntária com a União da Indústria de
Cana-de-Açúcar (Unica), em 2007, e com os fornecedores representados
pela Orplana, em 2008. Como resultado, o setor evoluiu em ganhos
ambientais e de produtividade. Segundo a Secretaria do Meio Ambiente,
9
houve evolução em indicadores ligados à redução da queima para colheita,
como também no processo industrial e na diminuição do consumo de água
para o processamento de cana. Tais avanços são decorrentes de mudanças
para a colheita da cana crua, da limpeza da cana a seco e do fechamento
de circuitos de circulação de água.
Os dados do Protocolo Agroambiental apontam uma grande mudança,
uma vez que em seu início, na safra 2006-2007, 65,8% da cana eram colhi-
dos com queima contra 34,2% colhidos sem o uso do fogo, invertendo-se
drasticamente o quadro na safra 2013-2014, quando 83,7% da cana foi
colhida sem queima. As empresas signatárias do protocolo são responsá-
veis por aproximadamente 94% da produção paulista e 48% da produção
nacional de etanol.
10
Paralelamente às mudanças impostas pelo Protocolo Agroambien-
tal, no decorrer das últimas décadas, a atividade canavieira de São Paulo
apresentou mudanças significativas na evolução dos sistemas de produção
quanto ao preparo do solo, ao tratos culturais, ao plantio e à colheita.
Mais recentemente, houve grande avanço na sistematização do plantio e
da colheita mecanizada, resultando em melhor aproveitamento da terra,
com ganhos ambientais e econômicos.
7.A Lei Estadual n
o
11.241/2002, regulamentada pelo Decreto n
o
4.700/2003 (São Paulo, 2003), estabelece o fim da
queima de cana no estado de São Paulo até 2021, para as áreas com declividade inferior a 12%, e até 2031, para as
áreas acima de 12% de declividade (São Paulo, 2002).
8. Mais informações sobre o Protocolo Agroambiental estão disponíveis em: .
9. Para mais informações, ver o site disponível em: .
10. Para mais informações, ver o site disponível em: .
Custos da Cana-de-Açúcar em Distintos Sistemas de Produção no Estado de São Paulo
|
149
3 METODOLOGIA
Com o objetivo de identificar os sistemas de produção de cana-de-açúcar
dos fornecedores no estado de São Paulo, em 2009, deu-se início ao le-
vantamento de informações técnicas e de uso de fatores de produção para
a elaboração de planilha de coeficientes técnicos
11
da cultura e cálculo do
custo de produção.
Na definição da amostra, foram realizadas reuniões com técnicos da Orpla-
na e do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e com outros técnicos do setor,
para a discussão dos sistemas de produção representativos a serem considerados e
a definição da amostra de fornecedores.
Na safra 2011-2012, os fornecedores de cana-de-açúcar associados foram
responsáveis por cerca de 25% da cana processada no estado. Estes foram estrati-
ficados em termos de capacidade (tabela 1), da seguinte forma: 93% entregam até
12 mil t e são responsáveis por 38,9% da produção; 6% dos fornecedores entregam
entre 12 mil a 50 mil t, correspondendo a 28,4% da produção. Somente 1% dos
fornecedores entregam acima de 50 mil t, o que representa 32,7% da produção
(Orplana, 2013).
TABELA 1
Participação dos fornecedores independentes de cana-de-açúcar por estrato – Estado
de São Paulo (safra 2011-2012)
(Em %)
Estrato
Participação de fornecedores
Participação de cana entregue na usina
< 12.000 t
93,0
38,90
12.000 a 50.000 t
6,0
28,40
> 50.000 t
1,0
32,70
Fonte: Orplana (2013).
Elaboração das autoras
Concluiu-se que os sistemas deveriam ser definidos por região (mapas
1 e 2), sendo identificadas sete delas mais representativas no estado de São
Paulo em relação à quantidade de cana fornecida às usinas, e por número de
fornecedores. Para o levantamento de campo, dividiram-se os fornecedores
das regiões selecionadas por estratos, classificados de acordo com a quantidade
de cana entregue nas usinas.
11. Coeficientes técnicos são unidades físicas no uso de fatores de produção das diversas atividades – ou seja, coeficientes físicos de
produção –, com suas respectivas especificações de marca e quantidades, princípio ativo, potência dos motores, utilização de mão de
obra etc. A matriz de coeficientes técnicos elaborada para uma atividade é utilizada no cálculo de estimativas de custo de produção
(Mello et al., 2000).
Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
150
|
As regiões e os municípios analisados para a obtenção desses dados
foram: Piracicaba (Piracicaba e Capivari); Ribeirão Preto (Sertãozinho,
Igarapava e Guariba); Catanduva (Catanduva e Monte Aprazível); Assis
(Assis); Jaú (Barra Bonita, Jaú e Lençóis Paulista); e Araçatuba (Valparaíso
e Andradina)(mapa 1), descritos nos trabalhos de Oliveira, Nachiluk e
Torquato (2010) e de Oliveira e Nachiluk (2011), com a inclusão da região
de Araraquara (Araraquara) (mapa 2) no segundo levantamento realizado
por Nachiluk e Oliveira (2013).
MAPA 1
Municípios das regiões referentes ao primeiro levantamento de dados – Estado de
São Paulo (safra 2009-2010)
Elaboração das autoras.
Obs.: As autoras agradecem a colaboração do pesquisador científico Paulo José Coelho e do assistente técnico de direção
Rodrigo Novaes dos Santos, do Núcleo de Informática para os Agronegócios, na elaboração dos mapas.
Custos da Cana-de-Açúcar em Distintos Sistemas de Produção no Estado de São Paulo
|
151
MAPA 2
Municípios das regiões referentes ao segundo levantamento de dados – Estado de
São Paulo (safra 2011-2012)
Elaboração das autoras.
Para a elaboração das matrizes de coeficientes técnicos de fatores de produção
para a cultura da cana-de-açúcar, baseou-se no conceito de sistemas de produção
de Mello et al. (1978). Estes são definidos como o conjunto de manejos, práticas
ou técnicas agrícolas realizadas numa cultura, mais ou menos homogeneamente,
por grupos significativos de produtores. As variáveis consideradas referem-se a:
i) manejo do preparo do solo, caracterizado pelo uso e pela potência das máquinas;
ii) práticas de plantio e semeadura, caracterizadas pelo uso de maquinaria, sementes
qualificadas, outros insumos e espaçamento adotado; iii) técnicas observadas nos
tratos culturais, pelo uso de adubos, defensivos, herbicidas, mecanização e outras
técnicas específicas para a cultura, ou mesmo técnicas não convencionais; e iv)
práticas relacionadas à colheita, quanto ao uso de máquinas e de mão de obra.
A compreensão do termo sistema de produção é complementada por Cézar
et al. (1991, p. 122), para os quais “sistema de produção” é entendido como um
conceito próximo à “técnica”, tal como definida pela teoria neoclássica da produção:
“trata-se de uma combinação particular de fatores de produção através da qual se
obtém um determinado produto”.
Desse modo, na avaliação de cada sistema de produção foi considerada a forma
de realização das seguintes fases: preparo do solo, tipos de plantio, tratos culturais
Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
152
|
de cana-planta e soca
12
e sistema de colheita. Consideraram-se, ainda, o uso de
mão de obra e de máquinas próprias ou de empreitas pelas usinas, a contratação
de serviço e também os condomínios.
13
Para cálculo do custo de produção, a metodologia de custo utilizada é a do
custo operacional de produção, que considera despesas diretas com insumos (semen-
tes, fertilizantes, defensivos etc.), serviços de operação (mão de obra e operação de
máquinas), de empreitas, e encargos sociais; e despesas indiretas, como depreciação
de máquinas, encargos sociais, encargos financeiros de custeio, etc. (Matsunaga
et al., 1976). A soma das despesas diretas denomina-se custo operacional efetivo
(COE) e, quando se soma a estas as despesas indiretas, o resultado denomina-se
custo operacional total (COT).
Neste trabalho, utiliza-se a mesma identificação dos sistemas de produção feita
em levantamentos realizados nas safras 2009-2010 e 2011-2012, quando também
foram descritas as operações na lavoura durante o ciclo produtivo da cana-de-
-açúcar. Nos levantamentos mencionados, foi utilizado pelas autoras questionário
com questões fechadas e abertas, seguindo a metodologia desenvolvida pelo IEA
e descrita em Cézar et al. (1991).
A atividade de cultivo da cana-de-açúcar, embora constituída da cana-soca – no
geral, quatro a cinco cortes –, é gerenciada como uma atividade única, guardando as
especificidades na condução dos talhões e dos respectivos anos de produção. Sendo
assim, o custo de produção por hectare foi calculado como sendo o custo médio
de cinco anos, considerando que um canavial em geral possui 20% da área em
fase de preparo do solo e plantio e 16%, em fase de cana-planta, mais 16% da área
em fase de soca com dois, três, quatro e cinco anos de idade. A média ponderada
das fases do ciclo da cultura (cinco cortes) mais os custos com colheita, carrega-
mento e transporte constituem os custos de produção estimados neste trabalho.
As produtividades consideradas no cálculo do custo por unidade (t/ha) é a produ-
tividade média dos cinco cortes, e foram obtidas através dos dados dos produtores
e ratificadas com as associações municipais de fornecedores de cana. Esses valores
permitiram calcular o custo por hectare para cada região.
O levantamento de preços dos insumos e serviços utilizados nas estimativas
refere-se aos valores praticados no mês de março de 2010 e em outubro de 2012
para o primeiro e segundo levantamentos respectivamente.
12. A lavoura recebe o nome de cana-planta, no seu primeiro corte; soca ou segunda folha, no segundo; e ressoca ou
folha de enésima ordem nos demais cortes até a última colheita, completando, assim, o ciclo da cana plantada, quando
é feita a renovação do canavial (Santiago e Rosseto, 2015a).
13. O condomínio consiste em um modelo de contratação coletiva, de mão de obra ou de aquisição de máquinas de
forma direta – através da formação de associação de produtores –, com o objetivo de assegurar aos trabalhadores rurais
direitos trabalhistas e previdenciários, além de possibilitar menores custos de gestão do trabalho e uso de máquinas e
equipamentos (Oliveira, Nachiluk e Torquato, 2010).
Custos da Cana-de-Açúcar em Distintos Sistemas de Produção no Estado de São Paulo
|
153
4 OS SISTEMAS DE PRODUÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO
Os sistemas de produção de cana-de-açúcar, estudados nas regiões produtoras, são
do tipo convencional
14
que considera o plantio manual. Em relação às colheitas,
foram encontrados os seguintes sistemas: manual realizada pela usina; manual
realizada pelo produtor; manual crua realizada pela usina; mecânica realizada pela
usina; mecânica realizada pelo condomínio; mecânica realizada pelo produtor e
mecânica realizada por empresa de prestação de serviço.
Nas regiões estudadas, o preparo de solo e plantio tem como operações mais
utilizadas: a construção do terraço embutido, carregamento e aplicação de calcá-
rio, gradagem pesada I, sulcação e adubação, corte, carregamento, distribuição e
picação de mudas e cobrição.
Como a cana-planta possui geralmente ciclo de um ano civil, caracteriza-se
pelas operações de quebra-lombo, que visa sistematizar o terreno para a operação
de colheita mecânica e de controle do mato e de formigas. Na fase de tratos cultu-
rais da cana-soca, realizam-se as operações de adubação em cobertura com adubos
formulados com maior quantidade de nitrogênio e potássio, além de aplicação de
herbicida e complementação de calcário.
A colheita manual de cana queimada é realizada por cortadores de cana com
o uso de podão, colocando-se fogo no talhão para eliminar a palha normalmente
na tarde do dia anterior ao do corte. O corte manual de cana crua é realizado pelos
cortadores de cana, com a presença de palha. A colheita mecanizada da cana crua
é feita por colhedoras que cortam, despalham e picam a cana, que é depositada
no transbordo que trafega ao seu lado.
O transporte pode ser realizado por biminhões ou treminhões
15
que são,
normalmente, prestação de serviço contratados das usinas. O valor cobrado de-
pende da distância a ser transportada e pode variar conforme o tipo de estrada.
Geralmente, os custos com corte, carregamento e transporte (CCT) são arcados
pelas usinas e descontados dos fornecedores por ocasião dos pagamentos entre
esses agentes. A descrição detalhada dos sistemas de produção para cada região
individualmente é encontrada em Oliveira, Nachiluk, Torquato (2010), os va-
lores de custo de produção do primeiro levantamento, em Oliveira e Nachiluk
(2011), e os valores referentes ao segundo levantamento são apresentados na
próxima seção.
14.Segundo Santiago e Rosseto (2015b), o preparo convencional do solo consiste no revolvimento de camadas super-
ficiais para reduzir a compactação, incorporar corretivos e fertilizantes, aumentar os espaços porosos e, com isso, elevar
a permeabilidade e o armazenamento de ar e água.
15. Caminhões articulados com duas ou três caçambas.
Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
154
|
4.1 Custos de produção da cana-de-açúcar por sistema de produção
Os diferentes tipos de custos estimados no segundo levantamento realizado pelo IEA,
conforme Nachiluk e Oliveira (2013), tendo como referência a safra 2011-2012,
fornecem desde indicadores empíricos aos produtores fornecedores até valores
para análise de médio prazo, como o COT, permitindo estudos mais detalhados
da atividade canavieira.
Nas regiões produtoras, identificaram-se os sistemas de produção compostos
pelo plantio manual, semimecânico e mecânico. Em relação às colheitas, foram
encontrados os seguintes sistemas: manual realizada pela usina; manual realizada
pelo produtor; manual crua realizada pela usina; manual crua realizada pelo con-
domínio; manual queimada realizada pelo produtor; manual queimada realizada
pelo condomínio; manual queimada realizada pela usina; mecânica realizada pela
usina; mecânica realizada pelo condomínio; e mecânica realizada pelo produtor.
Nos custos de produção apresentados no gráfico 5, observa-se que, no conjunto
da amostra, há grande heterogeneidade, sendo o menor valor do COT verificado
o do sistema de plantio manual realizado pelo fornecedor, com colheita manual
queimada feita pelo condomínio na região de Catanduva (R$ 36,22/t). O maior
valor encontrado (R$ 74,48/t) ocorreu no sistema de plantio manual realizado pelo
fornecedor com colheita manual queimada realizada pelo fornecedor na região de
Lençóis Paulista. Estas discrepâncias nos valores do custo de produção podem ser
explicadas através do número de operações realizadas, das quantidades relativas
utilizadas dos fatores de produção e dos preços relativos desses fatores. Esse con-
junto de variáveis que incidem nos valores dos custos é influenciado pelo volume
de capital de giro que o produtor pode disponibilizar para custear a cultura no
ano agrícola em questão e as diferentes faixas de produtividades regionais obtidas.
Ademais, as características intrínsecas das regiões e suas particularidades – por
exemplo, tipo de solo, relevo, idade do canavial e perícia no manejo do cultivo – também
contribuem para a diversificação dos sistemas de produção e os diferentes arranjos no
manejo da cultura, juntamente com os fatores conjunturais, o que provoca diferenças
entre seus valores que são resultados de combinações muito particulares, principalmente
em meio a todas as transformações que vêm ocorrendo e nas adaptações realizadas na
condução da lavoura. Analisando-se os sistemas de produção nas regiões, verifica-se
que, no sistema de produção de plantio manual realizada pelo fornecedor e colheita manual
queimada realizada pela usina (sete casos), o menor valor foi o de Catanduva (COT
de R$ 37,60/t), enquanto o maior foi o do município de Jaú (COT de R$55,20/t).
Nas regiões onde existe o sistema de plantio manual fornecedor e colheita manual com
cana crua realizado pela usina (três casos), o município de Capivari (Região de Piracicaba)
apresenta menor custo operacional, com o valor de R$ 46,04/t, enquanto no município
de Jaú o COT é de R$ 59,15/t.
Custos da Cana-de-Açúcar em Distintos Sistemas de Produção no Estado de São Paulo
|
155
Quando o sistema de produção é caracterizado pelo plantio manual fornecedor
e pela colheita mecânica realizada pela usina, que ocorre em nove casos, o custo
operacional total de menor valor encontra-se em Ribeirão Preto, apresentando R$
40,86/t, e o maior apresenta-se em Andradina (R$ 57,66/t).
Os municípios de Assis e Lençóis Paulista foram os que apresentaram colheita
manual realizada pelo fornecedor, combinada com o plantio manual. Em Assis,
o valor do COT é de R$ 50,96/t; em Lençóis Paulista, é de R$ 74,48/t – ambos
com queimada pré-colheita. Já o sistema com colheita mecânica realizada pelo
fornecedor foi encontrado também em Assis, Lençóis Paulista e Jaú, com valores
de COT de R$ 41,48/t, R$ 57,49 e R$ 56,31/t, respectivamente.
GRÁFICO 5
Custo de produção dos fornecedores de cana-de-açúcar, dos principais sistemas de
produção das regiões produtoras selecionadas do estado de São Paulo
1,2
(Out. 2012)
(Em R$/t)
COT
COE
57,66
48,32
48,32
47,93
47,17
41,48
46,46
50,96
46,04
49,95
54,19
36,22
37,60
41,44
74,48
62,36
61,55
57,82
57,49
53,76
56,31
55,20
59,15
50,95
57,83
54,22
51,43
42,86
40,86
51,59
48,77
45,71
0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00
PM + CMec (usina)
PM + CM queimada (usina)
PM + CMec (usina)
PSemimec. + CMec (usina)
PM + CM queimada (usina)
PM + CMec (fornecedor)
PM + CMec (usina)
PM + CM queimada (fornecedor)
PM + CM crua (usina)
PM + CM queimada (usina)
PM + CMec (usina)
PM + CM queimada (condomínio)
PM + CM queimada (usina)
PM + CMec (usina)
PM + CM queimada (fornecedor)
PM + CM crua (condomínio)
PMec. + CMec (fornecedor)
PMec. + CMec (condomínio)
PM + CMec (fornecedor)
PM + CMec (condomínio)
PM + CMec (fornecedor)
PM + CM queimada (usina)
PM + CM crua (usina)
PM + CMec (usina)
PM + CM crua (usina)
PM + CM queimada (usina)
PM + CMec (usina)
PM + CM queimada (usina)
PM + CMec (usina)
PSemimec. + CMec (usina)
PM + CM crua (usina)
PM + CMec (usina)
Andradina
Araraquara
Assis
Capivari
Catanduva
Lençóis
Paulista
Jaú
Piracicaba
Ribeirão
Preto
Valparaíso
Fonte: Nachiluk e Oliveira (2013).
Notas:
1
PM: plantio manual; Psemimec: plantio semimecânico; PMec: plantio mecânico; CM: colheita manual; Cmec: colheita
mecânica.
2
Todos os plantios foram realizados pelo fornecedor.
Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
156
|
Observou-se, em algumas regiões, a adoção de plantios diferenciados por alguns
fornecedores, indicando uma tendência na mecanização nessa operação. Na região de
Araraquara e Ribeirão Preto, grupos de fornecedores realizam plantios semimecanizados,
onde a distribuição das plantas no sulco é realizada por equipamento mecânico. O
sistema classificado como plantio semimecânico realizado pelo fornecedor com colheita
realizada pela usina apresenta COT de R$ 47,93/t e R$ 51,59/t, respectivamente.
O município de Andradina, que faz parte da região de Araçatuba, é o único
município que possui índice de mecanização da colheita próximo de 100%. Combinado
com o plantio manual (realizado pelo fornecedor) e a colheita mecânica realizada pela
usina, o custo operacional total é de R$ 57,66/t neste município.
4.2 Diferenças nos custos por região e por tecnologias de cultivo
A análise aqui realizada procura evidenciar as diferenças entre custos de produção em
duas safras, a fim de identificar efeitos de tecnologias implementadas e o quanto estas
interferem nos sistemas de produção e na distribuição dos custos calculados. Desse modo,
comparou-se a participação percentual dos itens componentes de custo de produção
nas diferentes fases da cultura, para as safras 2009-2010 e 2011-2012.
Na avaliação dos dados no primeiro levantamento, verificou-se que os valores
da participação percentual do COE e do COT para a operação de preparo do solo e
plantio manual apresentavam-se em torno de 20%, variando de 18,2% a 22,8% na safra
2009-2010 entre todas as regiões estudadas (gráfico 6). Quando se analisa a participação
percentual dos custos na safra 2011-2012, os dados apontam valores que variam de
18,3% a 30,7%, evidenciando aumento dessa participação em todas as regiões analisadas.
GRÁFICO 6
Participação das operações de preparo de solo e plantio manual no COE e no COT da
cana-de-açúcar – Regiões do estado de São Paulo (safras 2009-2010 e 2011-2012)
(Em %)
22,0
22,0
19,8
19,6
19,3
19,3
22,8
22,8
18,5
24,8
24,9
27,3
24,9
29,6
26,5
22,2
22,3
18,3
30,7
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
Araçatuba/
Andradina
Araçatuba/
Valparaíso
Araraquara
Assis
Catanduva
Jaú/Jaú
Jaú/Lençóis
Paulista
Piracicaba/
Capivari
Piracicaba/
Piracicaba
Ribeirão
Preto
COE 2009-2010
COT 2009-2010
COE 2011-2012
COT 2011-2012
Elaboração das autoras.
Custos da Cana-de-Açúcar em Distintos Sistemas de Produção no Estado de São Paulo
|
157
Esse impacto nos custos se deve a mudanças ocorridas no preparo do solo ca-
racterizado pelo maior número de operações, principalmente mecânica, relacionadas
à sistematização do terreno; pré-requisito para a realização das operações da colheita
mecânica. Essas novas operações implicam maior número de horas-máquinas –
considerando salários, encargos sociais, combustível e reparos –, como também
aplicação de herbicidas e inseticidas. Essas mudanças e adaptações geram, num
primeiro momento, um aumento nos custos de produção pela maior quantidade
de utilização dos fatores de produção e por não apresentarem, necessariamente,
um incremento imediato na produtividade. O caso da mecanização da colheita
é ilustrativo, pois nesse período houve também uma adaptação tecnológica de
modelos e incrementos nas colhedoras, na busca de solucionar problemas como
cortes sem considerar as ondulações do terreno, compactação do solo e, ainda,
variedades adequadas; fatores que interferem na produtividade da cana-soca, além
de aumentar o grau de impurezas na cana.
Os dados coletados permitiram observar, também, que, na safra 2011-2012,
com a melhor remuneração da cana ocorrida na safra anterior, os produtores obti-
veram um melhor capital de giro para custear as despesas e realizar melhor manejo
da cultura, o que não havia ocorrido na safra anterior. Esta situação é evidenciada
quando se observa a participação percentual dos custos da fase de cana-planta nas
duas safras (gráfico 7), notando-se que houve aumento em seis regiões, com destaque
para a região de Assis. Neste município, de uma safra para outra, os produtores
passaram a realizar também em seus sistemas de manejo operação de aplicação de
herbicida nesta fase da cultura.
GRÁFICO 7
Participação da operação de tratos culturais da cana-planta no COE e no COT da
cana-de-açúcar – Regiões do estado de São Paulo (safras 2009-2010 e 2011-2012)
(Em %)
1,6
1,6
1,2
1,0
1,1
1,1
1,7
1,7
1,1
1,9
0,4
1,3
3,6
1,5
0,6
1,1
1,2
2,1
1,9
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
COE 2009-2010
COT 2009-2010
COE 2011-2012
COT 2011-2012
Araçatuba/
Andradina
Araçatuba/
Valparaiso
Araraquara
Assis
Catanduva
Jaú/Jaú
Jaú/Lençóis
Paulista
Piracicaba/
Capivari
Piracicaba/
Piracicaba
Ribeirão
Preto
Elaboração das autoras.
Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
158
|
Nas regiões onde as participações percentuais do segundo levantamento não foram
superiores aos do primeiro, observa-se que o aumento ocorrido na operação anterior
(preparo do solo e plantio) atenuou o impacto dos custos na fase de cana-planta, porque
houve um rearranjo na distribuição dos valores dos custos, e, nesse ano específico, a me-
lhor remuneração da cana possibilitou um maior investimento na condução da cultura.
Ao se comparar as participações percentuais da operação de tratos culturais
na fase da cana-soca da cultura (gráfico 8), observa-se que, apenas na região de
Catanduva, tais custos apresentaram diminuição na participação percentual.
Nas outras regiões pesquisadas, os valores que circundavam os 20% na safra
2009-2010 ultrapassaram 30% de participação percentual na safra 2011-2012.
GRÁFICO 8
Participação da operação de tratos culturais da cana-soca no COE e no COT da
cana-de-açúcar – Regiões do estado de São Paulo (safras 2009-2010 e 2011-2012)
(Em %)
COE 2009-2010
COT 2009-2010
COE 2011-2012
COT 2011-2012
23,3
23,3
16,9
17,3
21,3
21,3
19,5
19,5
17,5
31,3
25,0
31,0
23,4
6,8
28,6
25,6
23,5
30,7
25,8
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
Araçatuba/
Andradina
Araçatuba/
Valparaíso
Araraquara
Assis
Catanduva
Jaú/Jaú
Jaú/Lençóis
Paulista
Piracicaba/
Capivari
Piracicaba/
Piracicaba
Ribeirão
Preto
Elaboração das autoras.
Os dados de campo mostram que os sistemas de produção apresentam maior
número de operações relativas aos tratos culturais, notadamente no controle de
mato e na aplicação de produtos que melhoram as condições de fertilidade do solo,
como o fosfato e a vinhaça. O uso destes produtos e sua facilidade de aplicação
nas diferentes regiões são aspectos influenciados pela relação do fornecedor com a
usina, como é o caso do uso de vinhaça em Lençóis Paulista.
A operação de colheita, por tratar-se de um sistema que envolve as operações
de corte, carregamento e transporte, sempre representou o maior percentual de
participação no custo de produção da cana-de-açúcar. No estudo em questão,
observou-se que houve uma diminuição da sua participação percentual nos custos
de colheita (COE e COT), na safra 2011-2012, em todas as regiões (gráfico 9).
As participações percentuais, que giravam em torno de 60% no primeiro levanta-
mento, apresentam, no segundo, valores entre 40% e 50% nas diferentes regiões,
independentemente da maneira pela qual elas são realizadas.
Custos da Cana-de-Açúcar em Distintos Sistemas de Produção no Estado de São Paulo
|
159
GRÁFICO 9
Participação da operação de colheita no COE e no COT da cana-de-açúcar – Regiões
do estado de São Paulo (safras 2009-2010 e 2011-2012)
(Em %)
Regiões
41,6
38,7
49,0
44,7
45,4
48,8
42,5
48,0
44,4
46,3
51,2
47,6
62,2
63,5
50,9
48,1
51,4
47,3
42,5
40,3
40,3
41,9
49,9
46,2
62,9
60,6
56,0
54,1
56,0
56,0
54,1
63,1
58,4
55,7
49,7
62,1
61,3
62,2
61,2
53,2
60,9
53,2
0,0
10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0
Colheita manual (usina)
Colheita mecânica (usina)
Colheita manual (usina)
Colheita mecânica (usina)
Colheita manual (usina)
Colheita manual crua (usina)
Colheita mecânica (usina)
Colheita manual crua (usina)
Colheita manual (usina)
Colheita mecânica(produtor)
Colheita manual (condomínio)
Colheita mecânica (condomínio)
Colheita manual (usina)
Colheita manual (condomínio)
Colheita mecânica (condomínio)
Colheita manual (usina)
Colheita manual (produtor)
Colheita mecânica (usina)
Colheita mecânica (produtor)
Colheita manual (usina)
Colheita mecânica (usina)
Colheita mecânica (usina)
Colheita manual (usina)
Colheita mecânica (usina)
COE 2009-2010
COT 2009-2010
COE 2011-2012
COT 2011-2012
Assis
Araraquara
Araçatuba (Andradina)
Araçatuba (Valparaíso)
Catanduva
Jaú (Lençóis Paulista)
Jaú (Jaú)
Piracicaba (Piracicaba)
Piracicaba (Capivari)
Ribeirão Preto
Elaboração das autoras.
Observa-se que não existe um padrão entre os sistemas e entre as regiões
nesse item, o que pode estar associado à dependência das participações percentuais
relativas nas outras operações realizadas no manejo da cultura. Em linhas gerais,
as colheitas manuais apresentam maiores participações percentuais nos custos de
produção na região de Jaú, caso da cana colhida sem queimar, o que a torna mais
onerosa pelo seu baixo rendimento. Em relação à cana queimada, os resultados
obtidos para a região de Ribeirão Preto apresentam maior porcentagem pela in-
fluência, principalmente, dos valores apresentados nas outras operações durante o
ciclo da cultura e do maior valor no custo da operação de colheita, por produzir
maior quantidade por hectare.
Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
160
|
A região de Jaú, embora apresente os maiores custos de produção da cultura
cana-de-açúcar, mostra que a porcentagem de participação das colheitas mecânicas
é menor que as apresentadas pelas outras regiões analisadas. Observou-se que a
busca por melhores sistemas de realização da operação com controles mais apurados
e técnicas bem orientadas tem provocado uma maior eficiência dos produtores na
realização da colheita.
A análise dos dados obtidos na comparação das safras permitiu observar
os diferentes sistemas de produção de cana-de-açúcar nas regiões estudadas.
Observou-se que as pressões exercidas pelas legislações têm acelerado recente-
mente as transformações no processo de produção, principalmente em relação ao
plantio e à colheita da cana. Ou seja, o corte da cana, que se constitui na última
fase do processo produtivo no campo, ao passar a ser realizado mecanicamente
e com ela crua, desencadeia, necessariamente, modificações técnicas desde as
primeiras operações, como a de plantio, época dessa operação, na escolha das
variedades utilizadas e na própria gestão do empreendimento como um todo.
Finalmente, este estudo evidenciou que existem muitas diferenças entre as
regiões, no que diz respeito à maneira em que as operações de mecanização são
realizadas, observando, de um modo geral, forte tendência e mobilização entre os
fornecedores independentes, para se adequarem às normas e à regras ambientais
e trabalhistas. Existe, também, uma preocupação em relação à elevação dos níveis
de produtividade dos canaviais, que sabidamente dependem da melhoria na gestão
dos estabelecimentos agrícolas e dos sistemas de produção da cana-de-açúcar.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O custo de produção por si representa pouco em termos de gestão. Ele deve ser
utilizado como uma ferramenta para análises que avaliam o desempenho do uso
dos fatores de produção como a apresentada nesse estudo. Ao mensurar os valores
do custo de produção, o produtor tem condições de visualizar onde pode reduzi-lo,
avaliar o seu desempenho, corrigir falhas, evitar problemas, planejar e tomar decisão
de investimento, uma vez que essa informação possibilita outras análises econômicas
e financeiras, além de ser um instrumento de tomada de decisão sobre a produção.
Nesse sentido, os estudos e os levantamentos de campo sobre custos operacio-
nais e custos totais da produção da cana-de açúcar estimados pelo IEA contribuem
tanto para fomentar políticas públicas quanto para auxiliar a tomada de decisão
dos produtores. Este texto procurou destacar a metodologia e fazer a atualização
e compilação de levantamentos recentes do IEA no estado de São Paulo. O fato
de a cana-de-açúcar representar 42,1% do valor bruto da produção desse estado,
de estar presente em 79,1% dos seus municípios e de ter um grande número de
pequenos fornecedores de cana (93% entregam até 12 mil t/ano) justifica esforços
de estudos contínuos dessa natureza.
Custos da Cana-de-Açúcar em Distintos Sistemas de Produção no Estado de São Paulo
|
161
A heterogeneidade de custos talvez seja o maior destaque entre os achados
do trabalho. Verificou-se que os valores do COT e do COE superam 100% em
amplitude, à época dos levantamentos. As diferenças observadas nos custos ocor-
rem não apenas entre distintos sistemas de produção e entre as distintas regiões
pesquisadas, mas também dentro de ambos. A diversidade de sistemas e arranjos
de produção ilustra a complexidade da atividade. A identificação dos custos por
etapas (de preparação do solo e plantio, de tratos culturais e de colheita) permitiu
quantificar, também por sistemas e regiões, como se compõem os custos de produção
e sua heterogeneidade.
Em resposta a esses custos e a outros desafios da produção, os fornecedores
de cana têm se associado e criado mecanismos de gestão, com vistas a reduzir os
custos e a atender a exigências ambientais. Além do aumento da parceria entre
fornecedores de cana e as indústrias, na difusão de tecnologias e na mecanização da
lavoura, por exemplo, outra iniciativa com vistas a diminuir os custos é a organização
de condomínios voltados para a produção/colheita da cana, conforme já citado.
Em relação a políticas públicas, cita-se iniciativa no âmbito do governo es-
tadual. Visando auxiliar os produtores na aquisição das tecnologias e viabilizar a
compra de máquinas para colheita, o governo do estado de São Paulo, por meio
da Secretaria de Agricultura e Abastecimento e do Conselho de Orientação do
Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista – Banco do Agronegócio Familiar
(Feap/Banagro) –, deliberou apoio com o Conselho de Orientação (CO) n
o
25, de
30 de outubro de 2013. A medida abre linha de financiamento para aquisição de
tratores, colhedoras e equipamentos auxiliares de colheita, o Projeto Máquinas e
Equipamentos Comunitários; há previsão de juros subsidiados e prazos de carência
de 24 meses, exclusivo a associações e cooperativas rurais (São Paulo, 2013).
Outras formas de políticas públicas são esperadas no sentido de orientar os
fornecedores de cana, inclusive em razão do final do prazo estipulado pelo Proto-
colo Agroambiental para o fim da queima pré-colheita. Aqueles produtores que
possuem propriedades com áreas não mecanizáveis deverão selecionar alternativas
de atividades econômica e agronomicamente sustentáveis para garantir a sua per-
manência na atividade agrícola. Para tanto, podem ser necessárias medidas além
daquelas descritas neste trabalho.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Valor da produção
agropecuária
. Brasília: Mapa, 2015. Disponível em:
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