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CAPÍTULO 6
PRODUTIVIDADE NA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA:
UM OLHAR A PARTIR DA ETAPA AGRÍCOLA
Gesmar Rosa dos Santos
1
1 INTRODUÇÃO
A agroindústria da cana-de-açúcar, e especialmente a produção de etanol, passam
por período de expectativa de significativos ganhos de eficiência e produtividade.
Em uma frente, há avanços na pesquisa e na inovação que disponibilizam insumos e
aperfeiçoam técnicas de cultivo, mecanização do plantio e corte da cana-de-açúcar.
Em outra frente, destaca-se o desenvolvimento de equipamentos, novos insumos
industriais e rotas revolucionárias de produção do etanol. Em meio a estas duas
expectativas, contudo, estão distintos sistemas de produção, condições regionais
e climáticas, bem como dificuldades econômicas que dificultam o incremento
da produtividade na prática. Este ponto é talvez o desafio primeiro das políticas
públicas para esta atividade produtiva.
A produção da cana-de-açúcar é marcada por defasagem entre os produtores
na adoção de tecnologias que se reflete nos resultados de eficiência técnica, medida
pelo rendimento de cana por área plantada, indicador amplamente utilizado como
medida da produtividade agrícola. Medidas de ganho neste rendimento é foco de
iniciativas de redução dos custos da agroindústria, pelo fato de a cana representar
próximo de 70% do custo total de produção do etanol. Como se depreende de
Ridesa (2010), CTC (2012), Nyko et al. (2012) e Belardo, Cassia e Silva (2015), a
adoção de tecnologias incrementais teria retornos de grande impacto na fase agrícola.
Sousa e Macedo (2010) assinalam que ganhos de produtividade agrícola e
industrial vêm ocorrendo na cadeia produtiva canavieira de forma contínua,
inclusive como forma de alcance de maior fatia do mercado externo e de promoção do
etanol como commodity. Jank e Nappo (2009), Brasil (2006), BNDES e CGEE (2008),
consideravam que ganhos de produtividade agrícola e industrial na atividade
canavieira, no Brasil, têm sido o ponto de apoio do crescimento da produção.
1. Técnico de planejamento e pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e
Infraestrutura (Diset) do Ipea.
Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
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Desafios de incorporação de tecnologia, baixo dinamismo e inconstâncias no
ambiente de produção e comercialização, contudo, têm impedido o aumento da
produtividade agrícola, como apontam Farina e Zylbersztjan (1998), Vian (2003),
Ramos e Szmrecsányi (2002), Pereira (2009) e Carvalho (2009) ilustram
como – em razão de sua complexidade – a cadeia produtiva canavieira se desenvolve,
alternando períodos de avanços consistentes com outros de dificuldades, ancorada
em crédito para a produção e bens de capital.
Pereira (2009) e Ramos (2012) mostram que, historicamente, os ganhos
de produtividade e o aumento da produção foram impulsionados pelo Estado,
tendo as fábricas de açúcar como ponto focal. Embora os incentivos públicos
sejam concebidos para vencer atrasos de produtividade em geral e dificuldades na
adoção de tecnologias, Marschall, Rissard Júnior e Lima (2005, p. 24) afirmam que
o setor canavieiro cresceu – até os anos 1980 – sob um “paradigma subvencionista”.
Passou, em seguida, para um “paradigma tecnológico”, com a redução da ação estatal.
Santos e Caldeira (2014) descrevem como o Programa de Subvenção à Cana –
uma das formas de socorro estatal – alcança parte dos pequenos produtores dos
estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, de parte de Minas Gerais e da região
Nordeste, sem a exigência de ganhos de produtividade. A medida tem sido justificada
em razão de adversidades climáticas que levam à queda na produtividade e elevam
custos agroindustriais. Na região beneficiada com a subvenção, o rendimento médio
(RM) situa-se entre 50 t/ha e 60 t/ha, ante 80 t/ha a 100 t/ha em microrregiões
de maior produtividade do país. Porém, parte de microrregiões e municípios dos
estados mais produtivos do Centro-Sul também conta com lavouras cujo rendimento
médio se encontra nos mesmos patamares da área passível de subvenção.
Como os ganhos de rendimento agrícola – nos últimos quarenta anos – ocorreram
sobre base relativamente baixa de rendimento médio (na casa de 40 t/ha)
(Dunham, Bomtempo e Fleck, 2010), as taxas anuais e os valores alcançados são
bastante expressivos, principalmente quanto ao teor de açúcar total recuperável (ATR).
Entretanto, as disparidades em indicadores técnicos da lavoura podem ser
observadas, inclusive, em sistemas de produção semelhantes – como visto no
capítulo 5 – ou entre empreendimentos sob as mesmas condições de produção.
Embora medidas indicativas para o aumento da produtividade tenham sido
discutidas desde o Programa Nacional do Álcool
(
Proálcool) – como mostram
Dunham, Bomtempo e Fleck (2010) – e no período mais atual – como assinalam
Farina e Zylbersztajn (1998), Brasil (2006) e Milanez e Nyko (2012) –, as políticas
não são focadas para a questão das disparidades regionais neste cultivo. Uma das
formas de promover ganhos de rendimento por área é o desenvolvimento e a
diversificação de variedades, melhorando os índices de atualização varietal (IAVs)
e os índices de concentração varietal (ICVs), como apontado em CTC (2012) e
Niko et al. (2013).
Produtividade na Agroindústria Canavieira: um olhar a partir da etapa agrícola
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167
Von der Weid (2009) questiona os paradigmas que, primeiro, impulsionam o cres-
cimento e, em seguida, as sustentabilidades econômica, social e ambiental na atividade.
Tal caminho estaria inibindo a dinamização produtiva e a produtividade.
Santos (2014) faz um levantamento inicial das disparidades de produtividade
entre regiões e indica iniciativas de políticas públicas para a dinamização produtiva,
com vistas à sustentabilidade nas três dimensões. Este texto procura aprofundar
este diagnóstico no âmbito de microrregiões e estratos de porte dos produtores.
O capítulo tem o objetivo de discutir as diferenças de produtividade no
cultivo da cana-de-açúcar no Brasil e indicar prováveis impactos de avanços em
diferentes intensidades. Com fins ilustrativos, faz-se um exercício do impacto na
produção decorrente de possíveis ganhos de produtividade agrícola, a partir dos
dados das safras de 2010 a 2013. Utilizam-se índices de rendimento agrícola e o
rendimento médio da cana como indicadores de produtividade da agroindústria.
Além desta introdução, o capítulo conta com outras quatro seções. Na seção 2,
apresentam-se as disparidades na produtividade agroindustrial da cana-de-açúcar no
plano de grandes regiões. A seção 3 apresenta a metodologia utilizada para identificar,
no plano de microrregiões aptas, os distintos estratos de produtividade e sua dimensão.
A seção 4 contém os resultados e a discussão sobre a heterogeneidade por estratos e
os efeitos de ganhos de produtividade na cadeia produtiva. Por fim, as considerações
finais são feitas na seção 5.
2 HETEROGENEIDADE DA PRODUTIVIDADE DA CANA-DE-AÇÚCAR
A realidade da disparidade produtiva da cana-de-açúcar ilustra a complexidade
e a heterogeneidade da produtividade na agricultura brasileira como um todo,
como abordado em Santos e Vieira Filho (2012). Freitas (2014) destaca que tal
situação exige que se busquem distintos referenciais, dados e metodologias, que
identifiquem potenciais de competitividade. Para tanto, necessita-se de atenção às
diferenças entre cultivos e foco do problema a ser enfrentado.
Na atividade canavieira, Santos (2014) ilustra que os últimos quarenta anos
registram o alcance e, em seguida, a superação dos padrões mundiais de produtividade
agronômica, na média entre os países, apesar da grande heterogeneidade entre as
regiões produtoras. É esperado que, no médio prazo, os ganhos de produtividade
reduzam o impacto do custo da cana-de-açúcar, que representava 62% dos custos
de produção na safra 2007-2008 (Bressan Filho, 2010). Este percentual passou a
oscilar entre 67% e 74%, após 2008, de acordo com a localidade e os parâmetros
técnicos de cada sistema de produção.
2
2. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, [s.d.]), disponíveis na Pesquisa Industrial Anual (PIA),
trazem valores de custos agrícolas de 40% na década de 1990 e 43% na década de 2000. Os distintos sistemas são
caracterizados em Oliveira e Nachiluk (2011).
Quarenta Anos de Etanol em Larga Escala no Brasil: desafios, crises e perspectivas
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O gráfico 1 ilustra as distintas produtividades da cana-de-açúcar nas cinco grandes
regiões do Brasil, medidas pelo rendimento médio por hectare da lavoura colhida.
Os diferentes patamares de produtividade sinalizam que persistem disparidades,
até mesmo diante da incorporação de tecnologias ao longo dos anos e com curvas
ascendentes de produtividade nos dados agregados.
3
GRÁFICO 1
Brasil e regiões: evolução do rendimento médio por área colhida (1990-2013)
(Em kg/ha)
Brasil
Norte
Nordeste
Sudeste
Sul
Centro-Oeste
30
10.030
20.030
30.030
40.030
50.030
60.030
70.030
80.030
90.030
100.030
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Fonte: IBGE (2014).
Elaboração do autor.
A queda da produtividade, a partir de 2008, afetou de forma mais significativa
a região Centro-Sul, que tem a maior produção e produtividade. Nota-se que há
ciclos de ganho e perda de produtividade, o que reflete os momentos de maior
investimento e a safra na qual um novo ciclo atinge sua maior produtividade e
vice-versa. São conhecidas as causas técnicas da queda de produtividade recente,
que alcançou 16% no Centro-Sul, entre 2008 e 2011: dificuldades na adapatação
da mecanização da colheita, intempéries (geadas, secas e chuvas, além do suporte
natural das plantas), envelhecimento dos canaviais, bem como a defasagem tecnológica
e de manutenção das lavouras. Um fator que mantém disparidades produtivas é a
grande demora entre a disponibilização de cultivares e sua adoção no cultivo, que
leva até doze anos depois de aprovados de forma definitiva.
A diferença de rendimento por área, quando atenta-se para estados e municípios
produtores, tem resultados ainda mais significativos. As estimativas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014) – Produção Agrícola Municipal (PAM) –
3. A maior ascensão no rendimento ocorre na região Norte, mas sobre uma base muito pequena de produção,
não sendo descartada, também, possível erro ou imprecisão nas estimativas em alguns anos, neste caso.
Produtividade na Agroindústria Canavieira: um olhar a partir da etapa agrícola
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169
apontam 370 municípios com produtividade acima da média do país (76,9 t/ha,
em média, nas safras 2010 a 2013), todos localizados no Centro-Sul. O rendimento
médio, porém, oscila entre 40 t/ha (municípios no Nordeste e Rio de Janeiro) até
algumas exceções com 120 t/ha ou mais (municípios de São Paulo, Paraná, Minas
Gerais e Goiás), a depender da idade dos canaviais dentro do ciclo de cinco safras.
Paralelamente à persistência de diferenças de produtividade, o acréscimo na
área utilizada, no período 1990 a 2013, foi de 5,7% ao ano (138% no período),
pelos dados do IBGE. Estas taxas são significativamente maiores que as do aumento
do rendimento médio (de 0,8% ao ano e de 22,5% no período). Tomados pela
média, os dados não surpreendem em razão da longa trajetória de ganhos acumulados
de produtividade e pelo fato de médias não revelarem as diferençaas entre estratos e
sistemas distintos. No agregado, as médias indicam que, nas 24 safras, a expansão
da produção foi puxada pelo aumento de área (gráfico 2), ressaltando-se o grande
salto do índice de área utilizada a partir de 2004.
GRÁFICO 2
Brasil: índices da área utilizada e do rendimento da cana-de-açúcar (1990-2013) (1990 = 100%)
(Em %)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
220
240
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Índice – produção
Índice – área
Índice – rendimento
Fonte: IBGE (2014).
Elaboração do autor.
Quanto ao processamento industrial, que também reflete o comportamento
da lavoura, o indicador mais utilizado é o da transformação do ATR nos produtos
finais etanol anidro ou hidratado e no açúcar (gráfico 3).
4
As causas da queda, a
partir de 2009, estão relacionadas às citadas dificuldades na produção, bem como
à perda de quantidade e qualidade da cana colhida.
4. Para mais informações sobre rendimento em açúcar total recuperável (ATR) e outros indicadores técnicos da produção
de etanol, ver o site disponível em: Dostları ilə paylaş: |